- Oi, eu trouxe uma amiguinha pra brincar com você - Disse a namorada do meu irmão que acabara de chegar com ele e sua irmã mais nova. Eu já sabia que meu irmão namorava mas eu não sabia que ela tinha uma irmã da minha idade.
Foi naquele dia, aos meus 7 anos de idade, que eu conheci ela. Eu ainda muito tímido, me escondia próximo às pernas da minha mãe sem saber como reagir.
- IIh... Dois bocós... foram feitos um pro outro mesmo - Falou a namorada do meu irmão zombando de nós dois. Eu olhei pra irmã dela e a vi fazer exatamente a mesma coisa. Se escondia timidamente atrás das pernas da irmã mais velha.
Ela deu um empurrãozinho na irmã mais nova, fazendo com que ela saísse de sua zona de conforto e criasse mais coragem para se aproximar.
Minha mãe apenas se afastou mas eu, ainda com muita timidez, tentava acompanha-la como sua sombra, sempre encolhido e quietinho, fingindo que eu não estava ali.
Eu olhei pra ela e a vi criando coragem para se aproximar. Logo estávamos ali, frente a frente. Sem dizer uma única palavra.
- Aeeee! Esse mês parece ter passado bem rápido! - O anjinho começou o dia sorridente e animado pois o mês já estava no fim e logo faríamos a tão aguardada excursão para conhecer a faculdade.
- Ei! O que você tá desenhando aí? - Nós estávamos com as nossas mesas grudadas como de costume, e sempre que algo chamava a atenção dele, ele fazia questão de ficar mais perto e mais grudado ainda. E foi esse o caso! Ele chegou tão perto pra conseguir ver o desenho que eu simplesmente travei.
Eu não consegui continuar o desenho por três motivos. O primeiro motivo é que ele estava tão perto que era difícil de me mover com liberdade. O segundo é que com ele tão perto assim, eu ficava um pouco nervoso e meio tímido. E o terceiro era que... bom.. eu estava tentando desenhar ele sem que ele notasse pra mostrar depois!
- Não é nada... é só um personagem que eu inventei - Eu menti na cara dele. Esse personagem era tão real quanto eu. Assim meus planos foram por água a baixo. Eu não consegui desenhar direito e ele foi perdendo o interesse com o tempo.
A professora estava atrasada de novo naquele dia e quando chegou, já não havia tempo para fazer quase nada.
- Hoje eu quero que vocês leiam uma revista e escolham uma parte dela para escrever sobre - Sem nem mesmo dar um "Bom dia", a professora de português já foi invadindo a sala agitada com duas sacolas grandes de pano cheias de revistas velhas. A maior parte das revistas abordavam assuntos como celebridades, política e economia. Claro, assuntos tão chatos quanto ela mesma.
Ela chega atrasada e ainda quer que a gente use nossos cérebros minúsculos de primata pra ler e escrever um texto na velocidade da luz!? Ah.. eu entendi o jogo dela! Ela com certeza tá fazendo isso pra nos preparar para o mercado de trabalho, é assim que esses professores pensam. Boa estratégia!
Quando folheei a primeira revista que peguei, logo entrei em desespero - Como assim? - Aquelas palavras, os assuntos, TUDO era muito técnico e incrivelmente entediante. Parecia que ela fazia coleção das revistas mais chatas do mundo. Só de tentar entender, eu já ficava com dor de cabeça.
O sinal tocou e eu já estava aliviado me sentindo livre dos planos malignos da professora. Não havia tempo para, se quer, começar a escrever.
- Podem levar a revista que vocês escolheram para casa e trazer o texto na próxima aula! - Destruindo completamente o meu minuto de felicidade, a professora transformou o exercício da aula em dever de casa!
- E ae! Terminou o desenho? - Eu dei um pulinho de leve me assustando. O anjinho chegou de surpresa me encontrando na saída do colégio. Só de ver o rostinho dele, meu emocional abalado pela professora já voltava a se equilibrar.
O interesse dele no meu desenho também estava de volta. Será que ele suspeitava que eu estava desenhando ele?
- Terminei mas não ficou tão bom... - Respondi receoso que ele me pedisse para ver o desenho, que no fim havia capturado certa semelhança com sua aparência.
- É amanhã! Finalmente a gente vai conhecer a faculdade! - Ele estava realmente empolgado para conhecer onde, provavelmente, estudariamos após a formatura.
- Eu não vou fazer faculdade... Quero ajudar minha mãe na igreja - A Codorna, que sempre nos acompanhava, nos contou uma vez que sua família administrava uma igreja local e que sua mãe gostaria que ela se dedicasse mais a igreja quando terminasse os estudos. Parece que sua família não esperava muito dela.
O tempo passou bem rápido e o tão aguardardo dia da excursão já estava começando.
Todos já estávamos na fila começando a embarcar no ônibus. Como eu fui um dos primeiros a entrar, pude escolher um bom acento. Anjinho não demorou para entrar e logo veio se sentar ao meu lado.
Não demorou muito para que todos estivessem em seus acentos. Ouvimos o ronco do motor logo após a porta se fechar e então a viagem começou.
Sempre que eu andava de ônibus, dava muita atenção na paisagem e nos caminhos que o motorista escolhia, mas dessa vez era diferente, o anjinho estava ali e eu sentia minha atenção ser roubada a todo momento.
Havia algo de errado. Eu não reparei de primeira, mas ele estava tão quieto naquela manhã. Ele parecia tão empolgado para essa viagem no dia anterior. O que poderia ter feito ele ficar tão pra baixo? Algo claramente o incomodava, mas a minha falta de habilidades sociais me fazia ter dificuldade em abordar aquilo da maneira correta. Eu apenas ofereci uma bala de menta tentando quebrar o gelo e ele aceitou agradecendo, porém logo voltando ao silêncio.
Chegamos a faculdade. Pensei que ele talvez não curtisse viagens longas, mas purante a excursão foi a mesma coisa. Ele pareceu desanimado o tempo inteiro sem falar muito.
Em um certo momento, pudemos nos afastamos um pouco do resto da turma. Enquanto um dos professores explicava uma determinada área da faculdade.
- Ahh.. - Ele demonstrava estar chateado com algo e dessa vez eu não ia ignorar.
- Me fala.. Você tá nervoso comigo ou algo assim? - Perguntei sem ter a menor pista do que poderia ser.
- Não.. eu.. - Exitou - Não! Claro que não foi você... - Era tão fofo aquele jeito dele tentando explicar e se enrolando. Eu nunca havia visto ele assim antes.
- Eu... - Ele exitou novamente - Eu vou... - Já completamente focado na expressão facial dele, percebi que ele parecia bem deprimido com oque queria me contar.
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- Eu vou me mudar para outra cidade.
Eu fiquei em choque... Eu simplesmente fiquei em choque.. Eu realmente não esperava ouvir aquilo. Não esperava ouvir aquilo pela segunda vez.
- Ela vai se mudar.
Eu tinha apenas 12 anos quando estávamos gravando nosso próprio filme, e foi naquele dia que eu a vi pela última vez.
A notícia veio depois e eu não pude me despedir direito. Os pais dela já planejavam se mudar e ela teria que ir junto.
"Não pude dizer o quanto eu gostava dela..."
Assim, o dia prosseguiu com um tom de melancolia e nostalgia. Naquela tarde, nós dois tínhamos apenas algumas horas sobrando juntos, conhecendo aquela faculdade que ele nem chegaria a frequentar.
Essa história parecia seguir o mesmo caminho que a história anterior, mas algo seria diferente dessa vez.
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Muito obrigado por ler mais esse capítulo que foi escrito com tanto carinho.
Espero ter conseguido tocar seu coração pelo menos um pouquinho.
Continue acompanhando, esse não foi o final.
Não se esqueça de comentar dizendo oque você achou e até a próxima!
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Como eu fiz pra me apaixonar - (tutorial ainda em lançamento)
RandomEssa história foi baseada em experiências reais da minha infância e adolescência. Adicionei uma pitada de comédia pra não enjoar. Confira essa história de um ponto de vista que te faz se sentir no meu lugar.