Qual é, Amy! Cai na real! Você é adulta, não uma criança birrenta. Tudo bem que foi mimada demais pelos pais... ou pelo pai e pela cidade inteira, mas cresça, caramba!
Eu mal consegui olhar para o rosto dele e quando consegui, vi que estava um pouco roxo ao redor da boca. Eu queria perguntar se estava doendo, se ele precisava de ajuda, mas não, não depois dele fazer pouco caso de mim.
Quando voltei a nossa sala compartilhada, ele não estava então presumi que estava falando com Andrew lá fora no quintal.
Olhei pela janela e Thomas estava sentado na escada enquanto Andrew terminava de limpar o Jardim do consultório, pois sua esposa adorava jardinagem e odiaria ver folhas espalhadas e rosas mortas. Eles pareciam conversar e Andrew dava risada, mas não conseguia ouvir o que era.
- SOCORRO, DOUTOR!? – Ouvi um grito vindo da recepção e me assustei imediatamente indo para lá. Céus! Um adolescente sangrando pelo pescoço e todo sujo, mas reconheci de quem se tratava.
- Tudo bem! Coloque ele aqui. – Tentava falar sem surtar por ver tanto sangue e o desespero do homem que carregava o jovem nos braços e apontei para a maca da enfermaria e nesse tempo Andrew e Thomas apareceram perguntando o que havia acontecido. – Adolescente, corte profundo no pescoço, com sinais vitais. – De repente, o garoto começou a sufocar com o próprio sangue.
- Ele está sufocando. – Andrew tentava estancar o sangue, mas nada parecia adiantar.
- Me dá uma caneta e o antisséptico. – Eu dei a caneta que estava no meu jaleco, uma com o tubo transparente e Andrew pegou o mais rápido que pôde o líquido antisséptico. Mas o que ele iria fazer?
Thomas tirou o tubinho que tinha a tinta com a boca deixando apenas o tubo transparente e jogou o líquido antisséptico nele. Pegou um bisturi e fez um pequeno corte na traqueia do jovem e depois colocou a caneta no corte.
Cada segundo parecia uma eternidade. Nós médicos devemos estar acostumados com a morte, mas nunca aceitamos ela, nosso peito sempre aperta. E a morte para mim era um tanto injusta e apática a dor.
Todos olhavam estáticos para o rapaz que lutava contra a morte ali numa maca com um tubo de caneta em sua garganta. Um jorro de sangue saiu pela caneta e o peito do jovem inflou, ele estava respirando.
- Amy, chame uma ambulância! Ele precisa ser transferido para o hospital. – Andrew disse e eu fui correndo para a nossa sala compartilhada buscar o telefone. Esperava, torcia e rezava para que essa vida recebesse uma segunda chance. Justin poderia ser o jovem problemático da cidade, mas eu sabia a dor que era perder quem mais se amava e tudo simplesmente parar de valer a pena. Mas afinal, como ele havia feito esse corte no próprio pescoço?
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A ambulância levou o jovem até o hospital com os sinais de vida estáveis, mas todo cuidado era pouco e nesse caso, ainda menos que pouco.
- Uau! Essa foi por pouco. – Thomas sentou na cadeira, parecia cansado e colocava as mãos na barriga. Devia estar sentindo dor pela briga, ou melhor, pela covardia.
- Foi... – Eu tentava limpar o máximo de sangue do chão e tirava o lençol da maca que o garoto ficou.
- Eu até te ajudaria, mas se eu me abaixar, vai precisar de outra ambulância para me levantar. – Eu ri e ele sorriu quando percebeu, mas seu sorriso se desfez e deu lugar a um rosto questionável. – O nome dele é Justin? Ouvi Andrew falar com os socorristas.
- Sim, é um adolescente revoltado da cidade. Tem 17 anos.
- O delegado disse imaginar quem era o cara mais jovem de ontem. Disse que se chamava Justin, o "adolescente problemático da cidade".
- Justin é meio incontrolável, mas o que aconteceu foi demais... até pra ele.
- Esse corte no pescoço...eu já vi parecidos. – Ele parecia não acreditar nas próprias palavras. – Causado por faca...parece demais pra você?
- Já sentiu como se tivesse algo de errado? – A acusação do jornalista, logo o seu carro sendo assaltado, Thomas ser agredido. Tudo não parecia nada nada com a cidade que eu nasci e crescera.
- Eu sempre me sinto errado. – Ele disse baixo e eu não entendi o que ele quis dizer. Percebendo minha feição, ele abaixou o rosto e franziu as sobrancelhas pensando em algo. Fazia isso antes de ficar na defensiva de novo como ontem. Eu não estava aguentando isso.
- O que fez hoje foi incrível. Se você não estivesse aqui, talvez Justin já estivesse morto. Ajudou a salvar uma vida. Não devia se sentir errado...pelo menos não hoje. – Ele me olhou, parecia baixar a guarda novamente, mas logo retornou com aquele olhar arredio.
- Obrigado, mas tenho que ir! – Ele nem esperou minha resposta e saiu pelo corredor.
Mas que droga! Por que ele não me deixa ajudá-lo? Será que ele pensa que eu sou uma criança que não entende nada sobre nada? Eu queria que ele contasse comigo, afinal, vamos trabalhar juntos e sozinhos quando Andrew se aposentar oficialmente e com certeza não era esse tipo de relação pisando em ovos que eu queria ter com esse homem que me deixa a cada dia mais curiosa...brava...duvidosa...retraída e estimulada a ficar mais perto.
- Nossa! O que aconteceu aqui? – Paul disse tentando desviar do sangue e chegando até mim.
- Justin cortou o pescoço, foi levado para o hospital. Isso que eu já tirei boa parte. – Ele de deu um beijo na bochecha ignorando meu estado.
- Vim te chamar pra almoçar. Eu posso esperar você acabar se você tiver estômago pra isso.
Paul era tão gentil e doce desde criança. Sempre fora o mais inteligente e bonito da turma. Mas sua humildade como pessoa é o que me manteve apaixonada boa parte da nossa infância e adolescência, a questão era a concorrência contra mim, a menina fofinha, de aparelho e nem um pouco atraente contra meninas adultas demais para a idade. Mas na faculdade você abre os olhos para novos horizontes e minha paixão infantil por Paul ficou para trás. Ele é o tipo de cara que você aprende a amar facilmente se der uma chance. O homem que seria perfeitamente o amor para sua vida, sabe? Aquele homem que quando vocês estiverem bem velhinhos, ainda vai te dar flores e te levar pra dançar se seus ossos ainda aguentarem. Eu me casaria facilmente com ele, mas no fundo, ainda tenho esperança de sentir algo que nunca tive, mas sempre ouvi sobre: aquela inquietação, borboletas no estômago, saudade, vontade de estar perto, alguém que eu admirasse como pessoa, antes de me apaixonar e vice-versa. Alguém que me ensinasse coisas novas, que me desafiasse e celebrasse minhas conquistas assim como eu celebraria as suas, sem pensar quem seria melhor ou maior que o outro e isso com certeza eu não sentia e nem esperava de Paul. A questão é: eu sabia o que esperava de um homem, afinal, minha mãe sempre me ensinava que meu nível era alto, por tanto, que o pretendente aumentasse o seu para chegar até mim, mas me pergunto o que vai acontecer com as partes que eu não espero? Valerá a pena?
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Não revisei esse capítulo antes de postar, pelo tempo curto que tive hoje e não queria deixar vocês sem. Então me perdoe se tiver algum erro no texto.
Peço que comentem, votem e me ajudem a divulgar se possível. Muuuito obrigada!
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AMOR EM HILL CITY (JOHNNY DEPP)
RomanceAmy Miller nasceu em Hill City (Dakota do Sul), uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos e desde pequena era apaixonada em ajudar pessoas, o que lhe fez mais tarde se tornar uma auxiliar médica adorada pela população da cidadezinha pacata...