Prólogo: Escapada

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  Já havia anos desde que dois jovens, Mikhael Fox e Fernanda Bishop, entraram no que, olhando para trás, não passava de uma cilada. Era uma proposta de trabalho para a companhia de Mechs e desenvolvimento tecnológico Smith Shimano Co. Parecia incrível, puderam escolher com o que trabalhar. Mikhael, sendo o nerd que sempre foi, escolheu uma especialização em códigos, seu maior interesse sendo aprender como Mechs funcionam. Aquelas máquinas de guerra gigantescas impressionavam qualquer um que se desse o trabalho de olhá—las por alguns segundos.

  Contudo, Fernanda era o seu completo oposto. Mike não tinha paciência para os parafusos como sua amiga tinha. Assim que pôde, demonstrou interesse no aspecto mecânico, os circuitos e peças. Sempre foi fascinada por aquilo tudo, desde criança tentava criar robôs de madeira e plástico, e costumava ver filmes históricos sobre Mechs. Se divertia no seu trabalho por isso. Também vivia suja de graxa.

  Aquela manhã, contudo, Mikhael acordou com um mau pressentimento, uma sensação de peso no estômago e na mente. Se levantou arrastado, não queria. Queria dormir e esperar aquele sentimento passar. Mas tinha o que fazer, e Fernanda não o permitiria aquele luxo.

  A entrevista para aquela vaga foi estranha. Claro, era uma fábrica de produção em massa de Mechs, não só é um trabalho arriscado, mas também complexo e que não agrada grande parte da população. Porém, o fato de terem de se mudar para uma espécie de condomínio particular da SSC era o mais bizarro. Talvez isso afastasse mais as pessoas, mas a dupla não tinha nada a perder a não ser as próprias vidas. Eram órfãos, se conheceram no colégio da casa de ajuda onde viviam. Ali teriam emprego e casa, poderiam guardar dinheiro para conseguir um lugar só deles.

  A manhã passou, ambos em cursos sobre suas respectivas áreas. Foi tedioso, mas puderam se ver novamente no intervalo.

  — Fiquei sabendo, — A morena começou, cutucando o pedaço de carne em seu prato com o mesmo interesse que tinha por sistemas, — que uma garota morreu aqui, em uma das garagens. E que alguns funcionários ainda ouvem os gritos de dor dela.

  — Lenda urbana, Fer. Os veteranos gostam de criar essas histórias de terror pra tentar assustar a gente, só ignora.

  Fernanda ri, completamente despreocupada com tudo ao seu redor. Após sua refeição, se levanta, levando sua bandeja de volta para a janela da cozinha da cantina e se despedindo de Mikhael. Após o almoço tinham treino de pilotagem, o que era interessante. Mikhael também se desfez de sua bandeja e seguiu para seu treino, como de costume. A sensação que o assombrou pela manhã persistia. Os mechs que pilotavam eram alguns genéricos, de produção em massa. Mas ainda assim tinham que usar m equipamento que os pilotos de verdade usavam. Receberam uma avaliação após a simulação, como sempre. Para a sorte da dupla, eram bons pilotos.

  Apesar de serem dispensados, Mikhael ainda caminhou pela construção da fábrica, em busca de verificar um rumor que ouvira algumas semanas antes. Não descobriu o que queria, nem perto disso, então retornou para casa, um pouco dessatisfeito.

  — Que faz? — Fernanda indaga, empoleirada no sofá, observando Mikhael digitar em seu celular.

  — Anotando meu dia. – Ele desliga a tela – A gente tem três garagens?

  — Três? Não, só as duas do bloco A. Por quê?

  — A gente tem três. O final do corredor quatro, do bloco B é uma porta, tem andaime, controle e tudo mais. Ao menos é o que eu ouvi.

  Fernanda o olha, confusão em medo pintado seu rosto. Os funcionários mais novos jamais puderam questionar o que havia em alguns lugares, incluindo aquela parte da construção. Sempre lhe contaram que era reciclagem de peças defeituosas ou armazém, mas pelo visto era outra coisa.

  — Como assim?

  — Não sei, mas não é nosso trabalho descobrir isso. Não somos Sherlock Holmes e Watson.

  Ele continua olhando para seu celular, com cores e sons saindo de seu jogo. O silêncio entre os dois era estranho, dava para ouvir as engrenagens girando na mente da garota mais velha. Eles se olham, Mikhael imediatamente balança a cabeça, em negação. Fernanda também, mas em afirmação. A dupla fica nessa por uns bons segundos.

  — Fernanda, não! A gente não vai.

  — Fernanda, sim! A gente vai! A gente tem que saber o que tem lá. Se for algo que pode ser usada contra a gente, nós temos que saber o que é.

  Mikhael suspira, frustrado e incapaz de negar os pedidos da morena. Os relógios marcavam duas da manhã quando saíram, ambos de preto e o mais discretos possíveis. Todos os trabalhadores já dormiam, apenas alguns seguranças revezavam turnos entre os corredores da fábrica com lanternas passando pelas paredes e pisos cinzentos. A dupla de espiões cruzava a construção com certa habilidade, chegando no corredor quatro, seguindo diretamente para o fundo, a falsa parede.

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⏰ Última atualização: Nov 07 ⏰

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