Oneshots Byler

Pesadelo

"Mike..." - Will acabara de acordar de um sonho horrível na casa dos Wheeler's, chamando a primeira pessoa que viera na cabeça.

Ninguém respondeu, claro. Estavam todos dormindo.

O garoto então se pôs de pé e começou a caminhar pelo porão, com o intuito de ir até o banheiro.

O coração estava pesado, não sabia ao certo porquê, mas sentia que precisava chorar.

Andou por entre os amigos adormecidos e passou pelo colchão de Michael, subindo às escadas em seguida.

Mike sentiu o corpo de Will fazer peso a sua volta e acordou, tendo um rápido vislumbre do garoto subindo às escadas.

Sentou-se e olhou em volta, vendo todos os amigos dormindo tranquilamente, com exceção de Will.

Sentiu-lhe a boca seca e a sede se fez presente, esticou o braço em direção a garrafinha d'água que geralmente ficava ao seu lado enquanto dormia. Essa estava vazia, havia acabado com todo o líquido da última vez em que acordara.

Não teve opção, assim tendo que levantar-se e rumar até a cozinha.

O trajeto foi em completo silêncio, não queria acordar ninguém e muito menos fazer algum barulho que pudesse incomodar seus pais.

Mas algo lhe chamou a atenção.

Assim que saciou a sede, tornou a girar o corpo em direção ao porão. Porém, pode ouvir-se um ruído.

Tão baixo que com certeza passaria despercebido se tivesse algum mínimo barulho naquela casa.

Mike pensou que talvez fosse um rato, então foi atrás do som para se certificar de que não era.

O ruído aos poucos foi ficando mais claro, a medida em que se aproximava do banheiro. Percebeu então que se tratava de um choro e já imaginava quem poderia ser.

Bateu na porta e recebeu silêncio como resposta.

"Will?"

Novamente não houve resposta.

"Will, você está bem?" - encostou a cabeça na porta.

"Não é nada, Mike. Já estou saindo." - Michael conseguiu sentir um tom de quem havia chorado muito na voz do garoto.

Não tardou e o pequeno Byers abriu a porta, tentando passar o mais rápido possível por Mike para assim não ter que dar explicações ou qualquer coisa do tipo.

Mas falhou miseravelmente tendo Mike segurando em seu pulso, impedindo o menor de completar seu trajeto.

"Aconteceu alguma coisa?" - teve a face do mais novo voltada para ele, assim vendo claramente os olhos vermelhos e levemente inchados.

Will não conseguiu responder. Também não conseguiu mais conter as lágrimas, essas rolavam soltas em seu rosto.

"Eu não sei porquê estou chorando, mas sinto uma coisa muito ruim no peito..." - disse em meio as lágrimas, com a voz baixa para não acordar as pessoas da casa.

"Teve um pesadelo?" - perguntou sem saber ao certo o que dizer.

"Sim..."

"Quer conversar sobre?" - passou os polegares sobre as lágrimas de William, tentando acalmá-lo de alguma forma.

"Não sei..." - olhou nos orbes de Mike, com as suas brilhando em meio ao choro recente.

"Se quiser tentar, vou ser todo ouvidos" - sorriu docemente para o melhor amigo, fazendo um carinho rápido em seus cabelos.

Não conseguindo mais se segurar e buscando por um contato físico, abraçou Mike com toda a força que possuía no momento, não sendo o suficiente para machucá-lo.

Mike hesitou por breves segundos, retribuindo em seguida. Como se dissesse ao garoto, mesmo sem palavras específicas, que tudo ficaria bem e que ele estaria lá para qualquer coisa.

Will se separou do abraço depois de alguns minutos, um tanto envergonhado pelo contato, mas sentindo-se mais leve.

"Obrigado" - sorriu para Michael, que corou um pouco de vergonha pelo ato repentino de pouco.

"Não precisa agradecer, só estou cuidando do meu amigo." - sorriu e mordeu a bochecha logo após.

Will foi até a cozinha, na companhia do mais alto.

"Posso mesmo conversar com você?" - perguntou timidamente.

"Claro que pode, Byers."

Will deu uma risada nasal pela forma como foi chamado.

"No meu pesadelo, ninguém se lembrava de mim..." - fez uma pausa, tentando não chorar novamente - "Meus amigos, minha mãe, você..." - não conseguia olhar para Mike, ficando assim encarando suas próprias mãos.

"Ei, eu nunca me esqueceria de você. Você é meu melhor amigo!" - se apressou a falar.

"Eu tentei conversar com você, com o Lucas, com o Dustin. Mas nada adiantava, nada do que eu falava ou fazia era suficiente para vocês se lembrarem de mim..."

"Will, eu te juro, vou sempre estar aqui para você e não tem a menor chance de algum dia simplesmente te esquecer." - dizia olhando nas orbes esverdeadas do rapaz, que estava com um semblante triste.

"Você promete?" - a pergunta soou mais baixo que o previsto, mas o mais alto conseguiu ouvir.

"Eu prometo" - sorriu para Will, que sorriu de volta.

Se sentia protegido ao lado de Mike, como se nada de ruim pudesse acontecer com ele. Como se o amigo fosse sempre o proteger de tudo e todos.

Queria que isso nunca mudasse.

Bebeu um copo d'água e andou em direção às escadas do porão.

Mike foi na frente, estava preocupado com o amigo por causa do breu que se instalava no local, não queria ter um Will caído ao pé da escada.

Este andava logo atrás de si, sorrindo bobo pelo cuidado que estava recebendo do melhor amigo.

Logo chegaram em seus respectivos colchões, sendo a parada de Mike a primeira.

"Se precisar de alguma coisa, pode me chamar. Vou estar aqui." - dizia fazendo contato visual, ou pelo menos tentando, não havia como enxergar claramente com a falta de luz.

"Obrigado Mike, de verdade" - num momento de impulso, fez algo inesperado.

Ficou na ponta dos pés e se despediu de Mike com um beijo na bochecha, dizendo um rápido "boa noite".

Quando se deu conta do que fez, foi andando a passos apressados para seu colchão e se deitou.

Não entendia porquê sentiu vontade de fazer aquilo.

Mike estava estático, sentado enquanto olhava Will se deitando e cobrindo-se até a cabeça. Um sorriso brotou em seus lábios e ele se sentiu incrivelmente bem.

Tanto Mike quanto Will se questionaram sobre o que aconteceu naquela noite, mas nunca mais conversaram de fato sobre isso.

Afinal, dois garotos de 9 anos não entendiam o que estava acontecendo dentro de si.

Guardaram essa lembrança no fundo de suas memórias, talvez na esperança de nunca voltar a tona.