Se Você Ficar

Capítulo 17

Às vezes durante a madrugada, Sakura se pega impedindo-se de ir até o quarto de Sarada olhar a menina. Quando tinha apenas quatro anos de vida, sua filha ficou tão doente que quase achou que fosse perdê-la. Foram noites em claro, vestindo uma criança que mal se aguentava em pé com roupas quentes e andando com ela no colo até o hospital. Se fosse algo simples poderia facilmente tratá-la em casa, mas infelizmente o tratamento de Sarada a deixou com sequelas na visão. No início, Sakura achou que fosse algo relacionado ao seu kekkei genkai. Não era uma verdadeira Uchiha e não sabia sobre os segredos do clã ou recursos do sharingan. Havia momentos em que se sentia tão desesperada que passava horas na biblioteca lendo sobre os dons oculares dos antepassados de Sarada. Era inevitável não pensar nele. Estava ali, desesperada para cuidar de seu bem mais precioso. E onde ele estava? Na época, seu coração apertava um pouco ao pensar que poderia ter acontecido alguma coisa ruim. Mas com tanta preocupação com a saúde de sua menininha, não teve como comparar as duas coisas.

No entanto, com os cuidados que recebera principalmente de Tsunade, Sarada mal se lembra da época em que passava mais tempo em uma maca do que brincando como outras crianças. Hoje, carregando seus óculos, que são necessários, para cima e para baixo, a menina é tão inteligente e precisa em seus treinamentos, que parece não ter qualquer tipo de dificuldade. Sakura se lembra do primeiro dia que a deixou na academia. Sarada simplesmente se despediu e foi em direção a sua sensei. Sakura só chorou quando viu ela entrar. Nada parecia ser um obstáculo para a pequena, ou se houvesse, não parecia se resguardar. Estava sempre pronta para agir. Por um tempo, ficava preocupada, mas depois não poderia sentir menos do que orgulho, afinal, ela mesma sempre fora uma chorona covarde nessa mesma idade.

Em todos os momentos, desde o primeiro contato com seu bebê até os dias atuais, Sakura sentia algo em seu peito que jamais achou que fosse sentir. Por um tempo, Sasuke foi tudo que ela era capaz de ver a sua frente. Mas quando Sarada chegou, foi como deitar-se a beira do mar e sentir as ondas indo e voltando. Se sentiu completa, como se ela tivesse nascido para viver aquilo. Todos os dias sua menina a surpreendia e sempre a colocava a frente de qualquer coisa. Ela se tornou tudo para Sakura.

A ausência de Sasuke há muito já não fazia falta em suas vidas, apenas dentro de si. Sarada não conhecia a sensação. Assim como Sasuke também não. Quando o Uchiha voltou, jamais imaginando que isso fosse acontecer, ela não esperava que houvesse a possibilidade de se aproximar de Sarada e simplesmente sumir novamente. Achou que finalmente, poderiam ser uma família, mesmo que não estivessem juntos. Mas Sakura não deveria se surpreender, afinal Sasuke nunca correspondeu a nenhuma de suas expectativas. E tudo bem. A única coisa que ela preserva é a sanidade de Sarada, e se Sasuke quer colocá-la no meio disso, então haverá guerra.

Depois que saiu da casa de Naruto, encontrou Ino sentada em sua varanda, atrás da caixa de correio. Não imaginou quem estava a frente da floricultura e nem se ela estava sabendo o que estava acontecendo, mas não era difícil supor que sim, por sua expressão penosa ao encarar a amiga.

Assim que chegou mais perto, a loira se levantou.

- Sakura...

- Eu sabia, Ino. Eu sempre soube.

Sakura passou pela amiga e abriu a porta, com as mãos trêmulas.

- O que ele falou?

Jogou as chaves de qualquer jeito ao lado e tirou os sapatos. Não se deu ao trabalho de convidar Ino para entrar, sentiu a loira em seu encalço quando se jogou no sofá.

- Nada. Sasuke Uchiha nunca foi um poço de palavras.

- Se ele não disse nada, deve ter seus motivos. Você sabe disso, conhece ele melhor que qualquer um!