Fazia uma semana desde o incidente com Justin. Ele havia sido liberado do hospital e devia fazer a recuperação aqui no consultório, mas como o jovem não tinha dinheiro para bancar, Andrew se comprometeu a cuidar dele. Eu fiquei dividido, pois se era realmente ele que estava com o homem que me agrediu, que índole ele teria? Por outro lado, sou médico, é meu dever salvar vidas, mesmo que já tenha perdido tantas.
No consultório ficava cada vez mais difícil conviver com Amy, eu não havia pedido desculpas pelo meu comportamento e ela fingia me suportar, mas nem sempre dava certo. Pedir desculpas seria assumir que ela estava tendo uma certa importância para mim, ela era uma boa amiga, assim como Andrew e até Mary e Joseph da pousada, mas eu vim para essa cidade com intuito de não me apegar a ninguém e assumir que estava criando laços com as pessoas daqui, era me preparar para me decepcionar novamente. Por algum motivo, alguém sempre morria e eu morria um pouco logo em seguida.
Andrew era um bom médico, com experiências antigas, mas de grandes ensinamentos para mim, eu podia parecer estranho, mas sei que tenho muito a aprender na medicina e não dispenso nada. Meu chefe era do tipo psicólogo também, seus pacientes tinham dores físicas, mas saiam com suas almas curadas também. Quem dera eu tivesse um amigo desses antes de me tornar esse posso de insegurança, medo e no fundo, amargura e desesperança.
- Eu não sei doutor, desde que meu irmão se foi eu não sinto vontade de fazer as coisas como antes. – Disse uma paciente deitada numa maca enquanto Andrew colocava a agulha para lhe dar um soro, pois ela havia desmaiado no trabalho por não estar comendo corretamente. – É como se não fosse uma escolha, sabe? Eu simplesmente não consigo reagir...e-eu quero...mas...
- Dói... – Andrew completou a frase. – Jules, me escute, a morte dói para todos e é preciso lidar com ela, você nunca vai se acostumar por ter perdido alguém que amava, mas o que você está passando é normal, é o processo do luto. A questão é que você se cobra pra ser forte e engole a dor como se ela fosse sumir aí dentro e é por isso que não come e desmaia no trabalho. Perder um irmão é horrível e você precisa assumir que não está conseguindo sozinha e procurar um psicólogo. Você está sofrendo e é perfeitamente normal, o que não é normal é você morrer por dentro e é por isso que procurar ajuda é o primeiro passo. Posso te dar o soro hoje, mas não pode viver dele todos os dias.
A paciente abaixou a cabeça e uma lágrima desceu em sua bochecha. Eu sei essa sensação, é como se tivesse algo apertando seu peito. Eu nunca seria um médico como Andrew, posso saber costurar um braço, mas nunca um coração, pois isso nunca consegui fazer em mim mesmo. Mas ela concordou com o médico, sei disso porque eu concordei, afinal, a dor nasceu comigo e cheguei num estágio que não saberia o que fazer se não a tivesse. Nunca soube o que é ter paz ou ser feliz plenamente, a dor está lá quando acordo e quando me deito, mas por já viver assim desde que me entendo por gente, consigo ser o médico profissional que preciso ser. A verdade é que lá no fundo, eu penso que o amanhã pode ser melhor, mesmo que esse dia nunca tenha chegado.
- Jules, seu irmão ficou tão contente quando o negócio de vocês deu certo. – Amy se aproximou e apertou sua mão com carinho e eu observava tudo de longe. – Fique bem por ele, pelo sonho de vocês. A empresa precisa de você bem. E fazer ela grande o deixaria muito feliz. Você sair dessa manteria a memória dele viva. O sonho da minha mãe era me ver sendo médica, ela só pôde me ver na faculdade. Foi muito difícil, mas eu entendi que estudar e me tornar doutora era o que faria ela ainda mais feliz, então é nisso que me concentro quando fico triste. Sei que estou fazendo a vontade dela.
Sarah! Por isso ela ficou estranha quando perguntei sobre a correntinha com esse nome. É a mãe dela. Nossa, como sou egoísta.
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Andrew já tinha ido embora por causa de um jantar com a família e Rebecca havia enchido o saco dele o dia todo para que ele não se atrasasse. Ficamos eu e Amy para terminarmos e fecharmos.
Estava um silêncio constrangedor e eu não poderia culpa-la.
- Você não quer falar comigo. – Disse enquanto ela trancava a porta.
- Estou fazendo sua vontade. – Ela passou por mim e desceu as escadas da entrada me ignorando.
- Você quer um pedido de desculpas? – Ela parou de andar e se virou.
- Você quer se desculpar? - Eu fiquei quieto. Ela sempre dizia coisas que eu não estava pronto. – Tchau, Thomas. – Ver ela indo embora e abrindo a porta de seu carro me deu a sensação que eu tinha que pensar rápido.
- Me desculpe. – Ela parou ainda de costas para mim. – Na verdade, eu não sei bem...receber...ajuda. – As palavras saiam cortando minha garganta.
- Eu só queria ajudar você. – Ela disse e foi tão sincero que eu quis chorar, por tudo que aconteceu hoje, por tudo que aconteceu quando cheguei aqui e por tudo que acontece desde sempre.
- Eu sei... tem muita coisa que eu não quero dizer, por favor...- Eu engoli o choro, mesmo sentindo meus olhos molhados. Por favor, Amy, só aceite minhas desculpas, eu não posso falar mais que isso. – De verdade, me desculpe. Você não merecia.
Ela pareceu confusa, mas sorriu com um sorriso meigo e acolhedor.
- Tudo bem. Eu conheço esse olhar, mas se um dia decidir se abrir, vou estar aqui. Eu te desculpo, amigo.
Uma onda de alívio me invadiu. Eu suportava tanta coisa, que aguentar saber que magoei alguém significava me odiar ainda mais. Ela me entendeu e me respeitou mesmo eu não merecendo.
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Desculpe ficar sem postar ontem, minhas aulas voltaram e meu tempo diminuiu.
Agradeço seus comentários e espero que estejam mesmo gostando.
Peço que comentem e votem <3
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AMOR EM HILL CITY (JOHNNY DEPP)
RomanceAmy Miller nasceu em Hill City (Dakota do Sul), uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos e desde pequena era apaixonada em ajudar pessoas, o que lhe fez mais tarde se tornar uma auxiliar médica adorada pela população da cidadezinha pacata...