Dever e Fidelidade #2

Capítulo 31

     Meus instintos aguçados pela magia me avisam que o eclipse de minha vida está próximo o suficiente para colocar um fim ao momento mais brilhante e feliz de toda a minha existência. Mas eu não consigo me importar o suficiente com os medos do futuro para arruinar a atmosfera de amor e paz que finalmente crio com Erin no agora. 

     Meu Erin. 

     Enfim, meu para todo o sempre, desafiando todas as possibilidades.

     Recebemos a realeza de Coronte e de Dardanelo para dois dias inteiros de celebração que me fazem sentir um pouco como um peixe fora d'água. Observar a família de Erin unida em sua sintonia poderosa me traz baças lembranças da família que eu já tive. Nunca fomos calorosos e amorosos como Kilian, Anna e seus filhos, mas gosto de pensar que havia um pouco de amor entre nós, apesar de tudo. 

     Desejo que, onde quer que estejam agora, meu pai, minha mãe e Celin sintam um pouco da felicidade que eu sinto ao finalmente encontrar um parceiro com quem viver um amor de verdade. Afinal de contas, éramos família.

     Mantenho uma distância educada do rei e da rainha de Coronte, mas sou alcançada novamente pelo amor que emana dos dois. Mais velhos do que quando eu os conheci, eles parecem mais apaixonados do que nunca e mal são capazes de soltar as mãos um do outro. Esther, a irmã de Erin, é espirituosa e intensa em cada gesto — e faz piadas bastante elaboradas e inapropriadas a respeito da vida amorosa do irmão, a quem ama intensamente apesar de se esforçar para fingir que não. O rei Rupert e a rainha Irene não ficam até o fim das festividades, mas nos dão presentes generosos. Eles me olham com sério respeito e olham com carinho para o sobrinho durante todo o tempo, apesar da distância que mantêm.

     Erin brilha o tempo todo.

     Ele é o próprio sol ao redor do qual todos orbitam e compartilham de seu brilho e calor também.

     Desperto no dia seguinte à cerimônia em seus braços, nossos corpos unidos, enroscados, como um, e revivo a noite surreal de ontem sem abrir os olhos. Enfim, nós nos casamos. Algo que acreditei estar totalmente fora de meu alcance depois que a maldição foi lançada aconteceu. Um tipo de experiência que me recusei tanto a viver, mas na qual encontro o tipo de alegria e satisfação que não se compara com nada que eu tenha vivido em duzentos anos. Erin não se compara a nada nem ninguém que eu já conheci.

     É como se ele tivesse sido feito especialmente para mim.

     Seu suspiro longo e profundo contra meus cabelos me faz olhar para ele a tempo de ver seus cílios piscando antes de seus olhos se abrirem. Meu marido.

     Eu sei que deveria estar apavorada, agora mais do que nunca. Eu sei que deveria erguer defesas, enfiar Erin numa fortaleza intransponível e cobri-lo de feitiços de proteção a cada instante para protegê-lo da maldição, mas não faço nada disso. Porque, ao contrário do que pensei pouco antes de conhecê-lo, Erin afugenta todos os meus medos. Todos. Quando estou com ele, eu não duvido nem um pouco de que ele seja o único capaz de desafiar e quebrar minha maldição. Quando ele me beija, não resta em mim qualquer dúvida de que sou amada —muito mais profunda e intensamente do que desejei algum dia — ou de que esse amor pode vencer qualquer barreira e qualquer força.

     Erin passa os braços ao redor de meu corpo e me puxa para mais perto, inclinando a cabeça para beijar a marca da magia no centro do meu peito. Enterro meus dedos em seus cabelos e fecho os olhos, desejando que ele nunca se afaste de mim.

     Contei a Erin sobre minha maldição na noite em que nos beijamos pela primeira vez. Aconteceu naturalmente, um mês depois que ele chegou ao meu palácio. Desde o início, eu não consegui guardar segredos dele e nem manter minha compostura fria e distante perto dele. Erin é como uma chave-mestra que destranca e abre todas as trancas do meu coração. Quando eu me dei conta de que não podia mais viver sem ele, contei tudo. Contei absolutamente tudo, desde o início: minha ascensão ao trono depois da morte de meu pai, meu acordo com Hallux, meus anos de governo, a guerra contra Rei Mar, minha transformação e a série de matanças que causei e, por fim, a punição que recebi. Pela primeira vez em uma eternidade, minhas lágrimas escorreram dos meus olhos porque Erin estava me tocando. E ele beijou cada uma delas antes de dizer algo que está gravado em meu coração desde então: