Capítulo Dezoito - Nova Versão!

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[Hall Endres]

— Alô? 

Ouvir a voz dela de novo trouxe arrepios por todo o meu corpo; me fez questionar, desde quando foi assim? Antes ou depois que eu fugi, antes ou depois que meu pai morrera?

Acabo engolindo em seco, perdendo a chance de organizar os pensamentos. Não há uma ordem, não sei... Não sei o que falar, estou com medo. Acabo percebendo isso tarde demais.

— Hall? — Ela adivinha. — É você?

— Oi, mãe. Onde você está?

Não queria que ela pensasse que eu estava a intimando. Não era isso. Falei do modo mais brando que consegui, eu não queria que ela tivesse motivos para se afastar de mim, mesmo que isso tenha acontecido com frequência nos últimos anos. Na verdade, nos afastamos tanto que só agora percebo que sinto falta da nossa antiga conexão, sinto falta das tardes em que ela se sentava à porta, nos dias de folga, e fazia as unhas enquanto eu me dedicava a falar, falar, falar. Ela me ouvia, surpreendentemente.

Ao telefone, nossa conexão... Não quero fazer um trocadilho sobre isso.

Diego ao meu lado parece estar apreensivo. Família para ele era uma das coisas mais importantes do mundo, pelo que me disse sobre sua mãe e aquele tal de Gerry maluco. Meu drama familiar devia ser algo distante para ele, mas não tanto assim já que as intrigas com os irmãos são constantes.

— Escute... A gente precisa conversar.

E como...

— Então, vai me dizer onde está?

Ela me disse. A voz estranhamente séria.

— Já estou chegando aí. Tchau.

— Espere. De quem é esse número?

Infelizmente comecei a gaguejar ao tentar explicar, já sentia um comichão no corpo todo, o incômodo.

Posso jurar que fiquei vermelho.

— Você vai saber — é o que respondo, por fim. Desligo e entrego o celular ao dono.

Dez segundos de silêncio antes que Diego perguntasse o que havia acontecido.

— Vamos encontrá-la. Você... Ela...

Eu não sabia pensar nos dois se conhecendo. Parecia algo... impossível demais para se acontecer na realidade, em um sonho, talvez. Não consigo imaginar a cena da minha mãe em frente à Diego, os dois sendo educados e se conhecendo, afinal.

— Bom, vamos lá — ele disse, acabando com minha fantasia.

O carro ligou.

Fui dizendo para onde tínhamos que ir, seguindo as instruções da minha mãe, a voz dela rodando minha cabeça o tempo todo, mas não só em relação ao caminho que devemos tomar. Em relação a quase tudo. Talvez seja a hora da minha mãe saber minha preferência por garotos, talvez seja a hora de ela compreender que podemos voltar a morar juntos desde que haja diálogo. Não podemos voltar a ser como antes, como meu pai, mas podemos nos ajustar às rachaduras, sabendo onde devemos ou não pisar. Seguramos ajudando um ao outro e, com Nilton longe, seríamos mais felizes do que nunca.

Com relação ao desejo dela de beber, isso poderia ser resolvido também.

O problema... era o homem que estava ao meu lado.

Será que ele não conseguia perceber que eu era uma muralha de desespero e problemas, erros e cicatrizes? Talvez o problema esteja, de novo, em mim: Eu tinha que fazer esse sentimento por ele desaparecer o mais rápido possível. Não podia rolar.

Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora