Não consigo me lembrar de algum dia ter acordado tão disposto e animado quanto naquela manhã. Não consigo me lembrar de detalhes dos meus sonhos, mas sei que havia muito sangue e eu era o responsável por todo aquele derramamento. Ideias do que fazer com Bruno fervilhavam em minha cabeça.
Eu precisava ir para a escola antes de voltar à mata, não poderia começar a faltar logo após ter sequestrado aquele garoto. Em outras circunstâncias ninguém, além de Eduardo, notaria minha falta, mas eu havia me tornado visível depois de ser "convocado" por aquele grupo infernal.
Eduardo estava sentado na mesma mesa de sempre e me lançou um breve sorriso ao me ver atravessar os portões do colégio. Antes que eu conseguisse chegar até ele Júlia correu em minha direção, segurou meu braço e me arrastou para baixo de uma árvore afastada de olhares curiosos.
- O que você fez com o Bruno ontem? - Seu tom de voz era acusatório, como se ela soubesse de algo. Ela havia rastreado seu celular antes de eu joga-lo no bueiro?
- Do que você está falando? - Tentei soar o mais confuso e inocente possível. - Eu não fiz nada com ele.
- Você saiu com ele ontem e desde então ninguém mais tem notícia nenhuma. O que aconteceu? - Seu tom estava mais preocupado do que acusatório.
- Eu não sei. A gente andou uns dois quarteirões só, eu queria levá-lo até minha casa pra gente ficar sozinho, mas aí ele recebeu uma ligação e foi embora. Ele me deixou sozinho.
- Ligação de quem? O que ele falou?
- Não pude ouvir direito, ele se afastou um pouco e falava baixo, mas, pelo que eu entendi, era algum compromisso que ele havia esquecido ou algo do tipo.
Ela ficou em silêncio parecendo refletir sobre o que eu havia lhe dito, mas eu havia conseguido ser convincente o suficiente para que ela acreditasse em mim. Sem dizer mais nenhuma palavra ela pegou o celular e saiu andando.
O sinal de entrada bateu no momento em que alcancei Eduardo.
- Não tive tempo de te avisar que ela estava atrás de você. O que rolou entre você e o chaveiro dela? - Ele perguntou enquanto andávamos em direção à sala.
- Não rolou nada. Aquele idiota recebeu uma ligação e foi embora. - Tentei parecer irritado com a "memória".
- Sabia que ia dar merda essa história de você saindo com aquele merda. Ele não presta, Gabriel, você sabe disso.
As aulas decorreram normalmente, exceto pelo fato de Julia não tirar o olho de mim. Eu não tentava focar no que faria com Bruno naquele dia, mas aquela garota estava me irritando e isso me distraía. Eu sabia que ela seria a primeira a sentir falta daquele verme, mas não imaginei que seria tão rápido.
Sinto meu celular vibrar algumas vezes em meu bolso.
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Gabriel
HorrorGabriel era um garoto com a vida mais normal e padrão possível de se ter. Seus pais sempre o mimaram e foram amáveis com o garoto educando-o para que crescesse uma boa pessoa. E isso era o que todos pensavam que ele era. No interior de Gabriel havia...