Vanessa em: "Eu Imploro Pelas Leis Antigas"

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A vida de um semideus é praticamente um 7X1 diário. Sabe aquele ditado: “Viver é matar um leão por dia”? Quando você nasce com sangue divino não serão apenas leões, mas também tigres, rinocerontes, crocodilos, búfalos e todos aqueles animais que subiram de dois em dois na Arca daquele filho de Poseidon antes do dilúvio. Sem contar as madrastas ciumentas e os monstros demoníacos que brotam do fundo do inferno portando um radar com seu rosto estampado nele. 

Se isso não fosse o suficiente, também tinham as missões mortais e agora, estando em uma delas, Vanessa estava jogada no chão gelado, completamente exausta e sentindo cutucões em suas costelas. Alguém parecia estar forçando-a a se levantar. O homem de voz aveludada pressionava os bicos metálicos dos sapatos a fim de acordar a filha de Íris. Quanto mais ela demorava, mais doloroso ficava.

-Acorda, garota! - disse ele - O show vai começar. 

A conselheira do Chalé 14 levantou a cabeça e ao abrir os olhos notou estar no mesmo lugar que antes, um andar de um prédio transformado em uma caverna grega com inscrições, tochas e pilares. Ela estava acorrentada nos pés e mãos, deitada próxima ao trono onde sentava-se Radamanthys em sua armadura obscura, dedilhando a lira divina de Eros e Orfeu. Ao seu lado direito, um emaranhado de panos brancos, seu coração se apertou, pois deduziu ser Ariel. Na esquerda viu Dani,  a recém aliada, que se debatia amarrada, assim como Mike, que exalava um ódio tão profundo que parecia ser visível. Ambos estavam amordaçados e não era difícil imaginar o motivo.

Na sua frente flutuavam cinco grandes espelhos, como grandes TVs 4K, que atraíam totalmente a atenção do juiz do submundo. Quando Vanessa percebeu o que era a atração, indagou horrorizada: 

-Pra que? Não era mais fácil simplesmente matar todo mundo? 

O deus gargalhou e respondeu:

-E perder o puro suco do entretenimento? Não mesmo. 

-Não faz sentido algum! Nas histórias você sempre foi bom e justo. O que mudou? Por que trocar de lado agora? - Vanessa estava indignada. 

-Pequena semideusa, no fundo você me entende…. eu sei que entende - ele continuava a dedilhar a lira e seus olhos não saiam dos espelhos - Simplesmente cansei de ser bonzinho e esperar os olimpianos darem os créditos que mereço. Zeus nunca fez o mínimo como pai, nem sequer a maligna Hera foi punida por tudo o que fez. 

-Isso não é desculpa para querer a dominação do Brasil e minar as forças do Olimpo. Você tem sangue olimpiano! Seus poderes também vem de lá! - Vanessa lançou as palavras como dardos e se arrependeu poucos instantes depois. 

Radamanthys parou com a música, desceu do trono lentamente e caminhou na direção da garota. Veias estavam saltadas em seu lindo rosto e também eu seu pescoço. O coração de Vanessa bateu descompassado. Era o fim. 

O juiz do inferno a pegou pelo pescoço, a levantou de modo que seus olhos ficassem na mesma altura. Para a surpresa da menina os olhos da divindade estavam marejados, mas sua voz era de raiva:

-Criança, você sabe que nós, semideuses, não temos muitas escolhas. Somos apenas peças inferiores num grande tabuleiro de poder. Mesmo quando nos tornamos deuses isso ainda se mantém. Você acha que eu queria estar nessa situação? Não… mas foi a única opção que me restava! Eu não quero ser apenas um lacaio! Eu já fui um rei! E não tente explicar minhas origens! 

Ele lançou a jovem com força no chão frio e uma dor excruciante irradiou das costas da semideusa. Ela apenas gemeu e rolou o suficiente para ver os espelhos. Ela gemeu: 

-Não consigo entender o motivo de não estarmos lá… 

-A resposta é simples - explicou Radamanthys - seu poder quebraria minha magia. Para o moleque de Mercúrio tenho planos melhores e a minha irmãzinha ali… - ele suspirou - quero que ela saiba a quem se aliar.

O Conto das Parcas: As Três Maldições - Vol IIOnde histórias criam vida. Descubra agora