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Angel

Eu sentia como se minha alma estivesse mais tranquila, talvez não fosse minha alma de fato, talvez seja só a sensação de liberdade – que não vai durar por muito tempo, pois eu pertenço ao demônio do rádio.

Começo a tentar me lembrar da aparência dele. Pois se eu vou ser seu bichinho é melhor que pelo menos eu saiba o reconhecer, só de imaginar as possíveis situações onde eu falo o que não devia para alguém aleatório e sou punido fazem meu estômago revirar, e admito que tenho certa curiosidade de saber como ele era antes de morrer.

Não me lembro de sua aparência, tenho certeza que ele tem cabelos escuros, mas não como os de Husky, os dele já tem algumas mechas cinzas que contrastam com o tom bem escuro, ele era um ruivo escuro eu acredito, mas a lembrança dele está bem borrada na minha mente, é melhor que eu nem pensei muito nisso, uma dor de cabeça é a última coisa que alguém machucado precisa.

Tento me levantar e observar meu redor, Husky provavelmente já está com meu bebê, então eu poderei focar em me recuperar em paz, suspiro fortemente me arrependo logo em seguida pela dor, meu corpo foi invadido por uma dor contínua que me tirava o ar dos pulmões, eu tentava ter coragem para me levantar, mas só a ideia da dor que eu sentiria ao fazer isso me fazia choramingar em revolta. Meu corpo estava esfriando então dei meu máximo para me enfiar embaixo das cobertas, eu já havia me acostumado a me mover mesmo com dor, era a única habilidade útil de verdade que consegui trabalhando para o Valentino isso é ter uma lábia muito boa.

Me assusto ao minha porta ser aberta com uma força grotesca e desnecessária, um homem de baixa es adentra o local com um andar quase saltitante, na hora que olhei em seu rosto pude ver o sorriso de um verdadeiro demônio, não tinha mais dúvidas, era o Alastor mesmo sem seus cabelos longos, chifres, cauda e roupas, era ele, e o medo do que podia acontecer comigo agora era maior do que quando eu era punido pelo Val.

- Angel! - diz ele se posicionando em frente a minha cama - eu completei minha parte do acordo, e como você já deve saber, agora você terá que completar a sua.

Ele joga uma fita vhs em minha cama, já podia imaginar o que assistiria no sábado a noite, mas agora duvido que terei tempo ou um corpo funcional para isso.

- Então o que você vai querer de mim? Você não vai querer meus serviços, claramente - eu estou me segurando para não o irritar muito, mas é difícil não fazer nenhum comentário de duplo sentido quando ele dá tantas brechas.

- Como você já deve ter percebido estou "me alimentando" de você! - ele fala da mesma forma carismática de antes, não que eu esperasse que ele ficasse mais humano.

- perdão? - eu pensei que a dor era resultado do cansaço acumulado e os machucados feitos pelo Val.

- Como eu já disse estou usando sua força vital em prol da minha magia, a nova regra do inferno me fez perder boa parte do meu poder, influência e muitos contratos também - ele observa meu quarto enquanto explica melhor a situação.

- Então agora você vai dar uma de vampiro pelas ruas? - eu debocho enquanto tento levantar meu tronco para o ver melhor.

- não, Você vai! - eu o observo confuso - você vai fazer contratos em meu nome, seu trabalho é procurar almas ingênuas e oferecer tudo o que elas podem imaginar ou querer.

- você quer que eu procure almas nesse estado? - tento trazer um pouco de razão para a sua mente de veado.

- Quanto mais almas conseguir menos dor sentirá - ele estava fazendo desdém a tudo que falei, mas então ele põe a mão no queixo como se estivesse a pensar um pouco - posso aliviar sua dor por hoje se você conseguir pelo menos duas almas, se não conseguir...bom, você já sabe.

Aquele sorriso sádico me fez tremer até a base, porém eu concordei com a cabeça, e o alívio veio como uma brisa que passava por todo corpo, eu podia respirar com força agora, provavelmente eu tinha feito uma expressão de alívio muito estranha, pois ele saiu do meu quarto dando sua risada caricata e irônica.

Eu me levantei e coloquei a roupa menos sensual que tinha no armário, se eu ia convencer duas almas a fazerem contrato ainda hoje eu precisava estar preparado para ser menos parecido comigo, o segredo para atuar é a confiança então tentei achar algo do meu tamanho que não me deixasse parecido com um bebê de terno – maldito rosto de criança.

Quando escolhi algo aceitável fui para fora o mais rápido possível, não tinha muito tempo então fui em direção a entrada do inferno, por onde as almas novas vêm, a ruas como sempre estavam perigosas e cheias de brigas, aproveitei uma briga no beco para descolar uma arma, pode ser útil se a pessoa começar a ficar agressiva e é sempre bom ter um plano B.

Eu estava chegando perto e já podia ver alguns novos demônios fazendo um alvoroço por estar no inferno, se assustando com as aparências de aqueles que nunca foram almas humanas e confusos para onde tem que ir, eu sinto até mesmo um déjà vu, me lembro de ficar confuso para onde deveria ir no meu primeiro dia, minha família nem mesmo veio me procurar mesmo ainda mantendo nossa família e máfia ativas aqui no inferno, me lembro de perguntar para a recepção do inferno onde meus familiares se encontravam, pois como já disse nenhum deles veio me ver.

foi quando sai daqui sem um rumo que conheci Valentino, me encontrei com ele nas ruas, e ele me ofereceu tudo o que eu mais podia querer, diversão ilimitada e proteção desse inferno cruel, me sinto mal de fazer a mesma coisa, mas agora eu já não tenho opções não é como se eu pudesse me negar a fazer o trabalho, só de eu não conseguir duas almas assinando esses papéis ainda hoje já posso dizer adeus a algumas partes funcionais do meu corpo.

Olho em volta procurando alguém confuso, triste ou com medo, será mais fácil manipular essas pessoas, assim como eu fui, vejo uma jovem menina baixinha de cabelos rosas, que parecia confusa e triste, me aproximo com um leve sorriso.

- Você está bem? - pergunto de forma simples para ela que me olha assustada.

- Não - falou ainda olhando em volta como se procurasse alguém - Sim! Estou! - fala se corrigindo.

- Posso te ajudar a achar quem procura - ignoro sua tentativa de me despistar e dou um sorriso sincero para a acalmar.

- Eu estou procurando minha irmã, viemos juntas, mas uns caras levaram ela - ela fala já mostrando sinais de ansiedade e choro.

- Então não há tempo a perder, como eles levaram ela? - pergunto com uma falsa preocupação em meu rosto.

- De carro - fala tentando se acalmar.

- Ok, preciso que você faça apenas uma coisa para achar sua irmã - falo e ela me olha com atenção - preciso que você assine um contrato comigo é o único jeito de eu a recuperar e ter permissão para machucar eles - minto e ela parece concordar.

Então uma luz verde brilha entre nós e uma folha aparece junto a uma caneta, eu estava surpreso, mas eu logo mudo minha expressão para que ela pensasse que eu era poderoso, não podia perder a credibilidade logo agora, entrego a folha e ela assina com pressa, então o contrato some e a irmã dela aparece em nossa frente, elas eram gêmeas, porém essa irmã tinha uma aparência menos lolita e mais gótica que a outra.

Logo ela ia descobrir a verdade e será usada pelo Alastor, mas enquanto não sabia ela me agradeceu e me abraçou com força e eu fiz o mesmo, falei do happy hotel para elas caso estivessem interessadas e elas falaram que já tinham uma família esperando o que me deixou um pouco cabisbaixo.

Quando foram embora outros demônios se aproximaram de mim, eles haviam visto toda aquela apresentação e estavam interessados também, todos eles falavam o que queriam ao mesmo tempo formando uma multidão ao meu redor, tentei formar uma fila e vários contratos foram feitos – parece que poderei manter meu corpo inteiro essa noite.

inferno geladoOnde histórias criam vida. Descubra agora