Durante as semanas que estive com Tiago eu visitei o céu. Vê-lo todos os dias me fazia feliz e ganhar um beijo no rosto sem motivo nenhum fazia a solidão escancarada da minha infância dar lugar a um amor que, embora estranho, confortava.
Eu não imaginava que ele mandaria mensagem depois do nosso encontro. Fui dormir, naquela noite de verão, com a plena consciência de que aquele dia foi uma ironia do destino, na qual eu não poderia me acostumar. No entanto, quando acordei no outro dia a mensagem dele estava no meu WhatsApp: "Gostei muito de sair com você. Quando quiser me ver pode me falar, tá bem?".
Eu definitivamente não estava esperando por isso. As minhas inseguranças não conseguiam entender o que ele havia encontrado em mim. Beleza? Não sei se sou o melhor exemplo dessa característica... não sou alto, não tenho físico atlético, minhas olheiras me incomodam e eu não tenho o mínimo de confiança para ser sexy. Engraçado? Poderia dizer que sou mais bobo do que engraçado, aquela pessoa que brinca com algumas coisas, mas percebe que se forçar a barra um pouquinho começa a ficar enjoado. Papo bom? Não seria verdade, acabei de escrever que sou completamente tímido. Vibrando na energia certa? Sorriso que magnetiza? Admiração? Nada disso consigo reconhecer como algo que realmente me pertence e faria alguém ter interesse por mim. Ainda mais de maneira espontânea, tão fácil, tão simples.
Essa história, porém, caro leitor, não é sobre uma vítima que se sentiu humilhada pelas pessoas que amava. Tampouco sobre um romance não correspondido, um crime inesperado, um objetivo a ser alcançado. O que torna essa história fascinante é a busca por um objetivo. Porque vale a pena viver? O que o futuro reserva pra mim e porque tudo ainda parece tão confuso? Porque ora pareço tão firme e certo do que fazer e ora me sinto amedrontado, inválido e sem voz?
Foi essa falta de constância que me fez cair em um relacionamento sem constância. Em um dia Tiago me prometia o mundo e traçava planos para as próximas semanas, mas no outro passava por mim como se a minha presença valesse tão pouco. Então um dia eu tinha tudo e no outro nada, lutando por migalhas da qual eu me envergonho. Eu não era capaz de entendê-lo, mas deveria ter destreza o suficiente para me entender. Porque se machucar voluntariamente?
Como você deve ter percebido eu faço muitas perguntas. Talvez tenha questionado demais em silêncio, gritado em silêncio e deixado meus pensamentos intrínsecos na minha mente silenciosa... e por isso o texto me deu voz para perguntar, para ficar confuso, para me permitir errar por meio dos meus personagens. Essa história, por exemplo, é gerada pelo erro, pela miséria humana e a decadência das minhas fragilidades. Se estivesse tudo bem, não existiria motivo para apertar a mão do Diabo em busca de uma empreitada que poderia colocar em cheque não só a minha vida, mas a vida de todo mundo. Literalmente.
Até então eu era só Felipe, um rapaz que veio do interior para fazer faculdade na cidade. Muitos sonhos, pouco dinheiro, muitos colegas, poucos amigos. Estava sempre correndo atrás das minhas obrigações, num ciclo vicioso de vazios e tarefas que pareciam nunca acabar. Ainda havia Tiago no meio disso tudo, sendo um oásis em meio ao caos, até que por fim se tornasse parte desse caos e, mais tarde, o próprio caos.
Os dias no departamento de arquitetura se tornaram cinzas, se resumindo ao regozijo de apenas de balançar alguns poucos minutos em um balanço existente no átrio, cravado em uma árvore frondosa. As aulas pareciam desconectas e eu sentia os meus pensamentos eclodindo para fora da minha consciência, vozes que gritavam mais alto do que eu era capaz de suportar e projeções de vultos que me faziam completamente assustado
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O destino dos Imbecis
RomancePerdido dentro de si mesmo, bebendo álcool de todas as cores e cansado de viver uma vida sem graça, Felipe, por fim, colapsa. É é no colapso que ele descobre um dom: a capacidade de despistar o Tempo, viajando entre eras e roubando legados construíd...