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Nunca imaginei o quanto o processo de cura seria mundano. Minhas semanas seguintes são preenchidas com ajudar mamãe no jardim, aprender a tricotar com a Minnie e trabalhar no Chaminé para Seulgi. Eu lavo a louça, pratico arremessos livres e faço uma lista dos meus filmes favoritos na ordem para discutir sobre isso depois com as minhas irmãs. Eu ajudo Roseanne a devolver presentes de Natal e falo sobre os meus sentimentos sem ela precisar me pedir. Não há nada de glamoroso nisso, mas digo a mim mesma que preciso continuar.

A escola vira um buraco do inferno. Boatos sobre a acusação que Charlotte fez no ginásio se espalharam, e mesmo que ninguém tenha visto a foto que ela mostrou para Jennie, todo mundo encaixou as peças sobre nós termos "terminado" porque eu estava com Tally. As pessoas ou desviam de mim ou me lançam olhares fulminantes nos corredores. Minhas próprias colegas se recusam a me passar a bola durante os treinos. Só os trigêmeos Cleveland estão dispostos a ficar por perto, mas só porque querem uma entrevista para o jornal. É uma experiência muito sóbria e esclarecedora, ver como as pessoas podem rapidamente mudar de adoração para ódio.

A própria Jennie é cordial, mas distante, e imito o comportamento dela. Nós sorrimos com educação uma para a outra no corredor, mas no geral ficamos na nossa. Charlotte, é claro, fica feliz em incentivar os boatos sobre o que deu errado entre nós. Ela planta mais sementes sobre a sexualidade "falsa" de Jennie, mas Jennie não está nem aí. Não sei se é porque ela não se importa mesmo ou se é porque está ainda mais focada no prêmio de Atleta do Ano agora que estamos perto das indicações. Torço para que eu não tenha arruinado as chances dela.

Roseanne e os meninos são leais até a alma. Nós nos sentamos no meu carro em uma tarde e conto tudo a eles. Roseanne já sabe, claro, mas é um alívio finalmente me explicar para Gunther e Jisoo. Confesso toda a verdade sobre os últimos meses, mesmo que eu ainda tenha vergonha do que aconteceu. Já contei essa história várias vezes, mas não fica mais fácil.

- Desculpa ter mentido pra vocês - digo, me forçando a manter contato visual. - Me desculpa por ficar tão bitolada com a minha ex. Sinto que isso atrapalhou nossa experiência do último ano. - Esfrego meus olhos. Roseanne me passa um guardanapo do porta-luvas. - Vocês são meus melhores amigos. Quero que nosso último semestre seja incrível.

Jisoo se inclina para a frente e entrelaça os dedos dela com os meus.

- Nenhum de nós é perfeito, Lalisa. Bom... exceto a Roseanne. - Ela sorri sincera, e ela estreita os olhos, entrando na brincadeira. - Obrigada por falar a verdade. Sinto muito que você estivesse sofrendo tanto. Eu te amo e quero que você seja feliz.

- É, é isso - Gunther acrescenta. - Sem contar que eu conheci a Nayeon por causa dessa coisa toda, então como é que vou ficar bravo?

Roseanne dá um tapinha nele, e a risada que se segue é exatamente o que eu preciso.

Nós quatro passamos todos os sábados no cinema. Na noite em que passa Além dos limites, Gunther traz Nayeon junto e a beija na fila da entrada. Eu me viro para Roseanne e Jisoo para trocar olhares, mas elas nem estão prestando atenção; estão rindo de alguma coisa no celular de Jisoo. Quando Roseanne estica o braço para dar um soquinho de flerte no braço dela, os olhos de Jisoo se acendem. Finjo que não noto quando ela insiste em pagar pelo refrigerante dela. Estou tranquila em ficar de vela essa noite.

Quando temos o dia de folga na escola por causa do feriado de Martin Luther King, eu me sento de pernas cruzadas no chão do meu quarto e leio cada carta que Tally já me mandou. Algumas delas me fazem chorar. Deixo que as lágrimas venham e digo para mim mesma que não tem problema que meu coração ainda esteja dolorido. Depois de ler todas elas, Seulgi e Minnie me ajudam a queimá-las no quintal. Eu respiro fundo, para dentro e para fora, e observo as faíscas que restam flutuarem ao vento.

A Jogada do Amor (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora