Há encontros que não precisam de hora marcada, nem de palavras para começarem. Às vezes, o destino sussurra em silêncio e costura laços invisíveis muito antes que qualquer um perceba. Foi assim com eles — duas crianças em mundos totalmente diferentes, mas cujos caminhos já se conspiravam na mesma linha tênue do tempo.
Não foi o acaso, embora tenha se disfarçado como tal. Foi algo mais profundo.
Uma força que se esconde nos pequenos gestos: um olhar trocado naquela rua em costumavam brincar, um adeus que ficou preso na garganta. Ainda que suas vidas tenham se afastado com o passar dos anos, algo permaneceu — como um eco, como uma promessa não dita, os lembrando que ainda não tinha acabado.
Essa é a história de como o destino, paciente e certeiro, esperou o momento certo para entrelaçar de vez duas vidas que, desde a infância, já pertenciam uma à outra.
.....
O saguão do aeroporto internacional de Boston estava abafado e barulhento, com o vaivém constante de malas rolando, crianças chorando e vozes entrelaçadas em diversos idiomas. No meio daquela confusão organizada, os olhos de Marie Collins vasculhavam o ambiente com cautela.
Cinco anos.
Foram cinco longos anos desde que ela deixou tudo para trás — a escola, os amigos, o amor mal resolvido — com a mala cheia de cartas não enviadas e promessas que o tempo engoliu. Agora, de volta aos Estados Unidos, Paris parecia tão distante quanto o passado que ela estava prestes a revisitar.
— Marie!
O grito veio acompanhado de passos apressados.
Sua mãe atravessou a multidão com os braços abertos, os olhos já marejados. Ela a abraçou com força, como se aquele gesto pudesse apagar o tempo e o silêncio. O perfume familiar da mãe a envolveu, trazendo de volta lembranças que Marie havia guardado num canto quase inalcançável da mente.
— Meu Deus, você está tão... crescida. — sussurrou a mãe, afastando-se apenas o suficiente para olhar o rosto da filha. — Mais bonita do que nunca.
O pai veio logo atrás, mais contido, mas com um sorriso de orgulho nos olhos. Ele não era muito de palavras, mas o olhar dizia tudo.
— Seja bem-vinda de volta, filha.
Por último, veio Sam, seu irmão mais novo — agora com quinze anos e quase da sua altura.
— Caramba, você voltou mesmo. — Ele a puxou para um abraço desajeitado, como se não soubesse muito bem se ainda podia chamá-la de irmã ou quase estranha.
Marie riu pela primeira vez em dias.
Sim, ela estava em casa.
Mas aquele alívio seria breve.
⎯
A van preta da família parou em frente à fachada familiar da Liberty High School.
O prédio ainda era o mesmo: imponente, com colunas brancas, janelas grandes e o símbolo azul prateado da águia da escola no alto. Estudantes caminhavam apressados pelo pátio. Uns com fones nos ouvidos, outros rindo alto, como se o mundo nunca tivesse mudado.
Marie desceu do carro com o uniforme novo — blazer azul, saia cinza escura, meias altas. A única coisa que a distinguia dos demais era o olhar. Um olhar de quem já tinha visto mais do que deveria. De quem voltou diferente.
Ela deu os primeiros passos rumo ao pátio principal e, como se o universo decidisse brincar com ela, o primeiro rosto conhecido surgiu no campo de visão.
Carrie Evans.
Sentada no colo de Dylan Delacruz, como se aquele lugar lhe pertencesse desde sempre.
Ela estava com os cabelos soltos, maquiagem impecável, o sorriso cínico no rosto e uma gargalhada exagerada que terminou assim que os olhos dela cruzaram os de Marie.
O silêncio foi imediato.
Carrie paralisou por um segundo, como se tivesse visto um fantasma. Dylan também virou o rosto para ver o que havia interrompido a cena. Ao encontrar os olhos de Marie, seu semblante se fechou, o corpo enrijeceu.
Mas ele não disse nada.
Não se moveu.
Marie também ficou estática, os dedos da alça da mochila apertando com força.
Foi Helena quem quebrou o encanto.
— MARIE?
A voz da amiga ecoou pelo pátio e, em segundos, rostos começaram a se virar, cochichos explodiram como pólvora. Os nomes surgiam entre os grupos — Marie Collins? É ela mesmo? Achei que nunca mais voltaria...
Helena atravessou o pátio quase correndo e a abraçou com força.
— Você voltou... você voltou mesmo!
— Eu voltei — sussurrou Marie, quase sem acreditar no que dizia. — E nada está igual.
— Nem você, Marie. Nem você.
Atrás delas, Carrie deslizou devagar do colo de Dylan, ainda encarando a nova peça do tabuleiro com olhos estreitos.
E Dylan... continuava imóvel.Apenas observando.
Sem saber que, naquele instante, tudo estava prestes a mudar.

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Ela Sempre Esteve Aqui
Teen FictionDois corações partidos. Um internato que esconde mais do que memórias. Um reencontro que pode curar... ou destruir de vez. Nem todo silêncio é esquecimento. Nem toda dor grita.