3 - Vamos fugir, [seu nome]?

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Você empurrou o moreno com a ponta dos dedos, separando seus lábios aos dele. Baji obviamente entendeu sua recusa; sabia que você teria de ter alguma reação contraditória. Mas mesmo com isso, acreditava que era algo  passageiro, que se resolveria rápido.

—Não... —você balançava a cabeça vagamente, como quem não acreditava no que se passava. —Eu não... Eu não fiz isso... —engoliu seco.

—Ah, fez sim... —Baji disse balançando a cabeça de forma positiva. —E acho que eu não preciso lembrar.

Você estava incrédula, mal podia acreditar no que fez. Não era de seu feitio trair pessoas de qualquer forma que seja, e o seu ato lhe pesou uma culpa impensável. Você sentia remorso. Sentia raiva de si. Sentia medo. Sentia culpa. Sentia vergonha. Mas também sentia prazer. Sentia-se um tanto realizada. Sentia-se eufórica.

Mas todos esses sentimentos positivos não forma páreos para os opostos. Tanto, que eles foram atropelados pela razão e  pelo-o-que-é-certo do seu idealismo. Apesar de que tenha certo envolvimento com isso, Baji não foi tão culpado quanto você. Afinal de contas, foi você quem chamou e permitiu, e ainda por cima, começou a cismar que o álcool estava tomando conta de você e que deveria fazer tudo o que lhe desse vontade. Agora, se encontrando nesta situação, você pensava que a culpa era sim, de Baji e do álcool. Mas não, [seu nome], não era. No fundo você quis; sempre quis. E quanto ao álcool, ele apenas lhe deu um empurrãozinho para que você deixasse de pensar um pouco nos outros.

—O que foi? Quer mesmo relembrar? —deu um sorriso travesso.

—O que você fez comigo? —você perguntou com a voz arrastada de tamanha incredulidade.

—O que eu fiz? —se apontou com o dedo. —Não... —sorriu. —Você quer dizer, o que nós fizemos.

Você encolheu seu corpo, puxando o lençol consigo, e se calou; estava ocupada demais pensando em algo à mais que limpasse sua consciência.

—Sabe, hoje eu pensei bastante... —Baji começou a falar, só que desta vez, um pouco mais sério. —...vamos fugir? —te olhou bem nos teus olhos.

—Ahm?

—Deixa eu concertar meu erro... Eu... Eu deveria ter escolhido você. Apenas você. —olhou para baixo, e em seguida, voltou a olhar seu rosto.

—Erro?

—Vamos fugir, [seu nome]? Vamos?

Agora, mais do que nunca, os olhos ardentes de Keisuke lhe atingia novamente. E em uma pequena crise de perplexidade, você começou a passar a mão pelos cabelos, tentando convencer a si mesma de que não, você não fez isso.

Não, não, não, não... —continuou a passar a mão pelo cabelo. —Eu não fiz isso... Eu não quis...

—[seu nome], não nega —ele disse firme. —Eu vi ontem —acariciou seu rosto. —, você queria. E muito. Nunca vi você transbordar tanta sinceridade. Vamos fugir, [seu nome]?

Um lado seu que não dava ouvidos ao-que-é-certo-e-sensato, queria mais do que tudo dizer um simples e baixo sim. Você queria dizer sim. Mas pena que ele não fez essa pergunta antes, pena que ele não quis apenas você antes.

—Ah, já sei, você deve estar pensando: "ah, mas o Takuya não merece isso" —imitou sua voz de um jeito engraçado. —Mas ainda dá tempo de desistir. Vamos, [seu nome].

Desistir?!, pensou, agora que tudo já está pronto? Agora que hoje vou me casar...?

Não...

Eu não posso fazer isso com ele...

O Takuya não...

E a voz de Keisuke lhe cortou os pensamentos.

—Vamos fugir? —insistiu. —Eu poss-...

—Você não está entendendo. Eu não quero fugir com você, e não quero você —mentiu. —O que deu na sua cabeça pra fazer isso? —franziu o cenho de leve. —É sério que faz parte da sua vida louca se aproveitar de uma mulheres bêbadas que estão preste a se casar? Eu nunca ficaria com alguém que se aproveitou da minha fraqueza, num momento em que eu não estava sendo eu —puxou o lençol mais para si, sentindo seus olhos marejarem. —Como pôde se aproveitar de mim? —franziu o cenho. —E pior, como pôde fazer isso sabendo que hoje mesmo vou me casar?

Ele parecia embaraçado, como quem não entendia o que saia da sua boca. Ele não entendia o porquê sua atitude agora, falando dessa forma. Talvez de tanto criar ilusões, expectativas, que suas palavras pareceram ser ditas em um idioma desconhecido.

—Eu é que te pergunto: como tem coragem de dizer que a culpa é minha, quando você quis tanto quanto eu? —perguntou entre dentes. —Não mente pra mim, [seu nome].

Você puxou o lençol mais para si, apertando suas unhas contra o mesmo.

—Não mente pra mim! —gritou. —Diz, vai! Diz que não quer se casar com aquele cara! —segurou seus ombros com força, sem ao menos notar o medo que lhe causara.

—Foi o álcool —você respondeu sem semblante algum, apenas uma expressão vazia que lhe dava um toque de frieza.

E o seu rosto se encontrava assim, inexpressivo. Mas por dentro carregava uma voz que desejava mais do que tudo, gritar. Mas a coisa-certa-a-se-fazer e a decisão-mais-sensata roubaram-lhe essa voz que foi embora do mesmo jeito que entrou.

Essa era seu jeito. Sempre preferiu garantir que os outros não saíssem machucados, por mais que isso significasse que as feridas sobrariam para você. E agora não foi diferente: fez do mesmo jeito que há alguns anos atrás, quando mudou sua aparência por que assim os outros que lhe aceitavam não seriam irritados pela vaga pergunta "por que anda com ela?".

Você não queria machucar os outros, mas não percebeu que acabou de dilacerar um coração que só queria que você aceitasse que já entrou nele há muito tempo.

24hrs por segundo - Baji KeisukeOnde histórias criam vida. Descubra agora