Fada

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Eu vim do pó e sei que um dia retornarei a ele, sou filho de Gaia, sou mar, bosque, montanha... Sou terra fértil, onde as pessoas semeiam em mim, cada bom dia, abraço, uma boa conversa, cada discussão, lágrima e dor. Os bons sentimentos são como pequenas flores amarelas, já os sentimentos negativos são como erva daninha que quando crescem sufocam as flores em mim.

O amor começa como uma semente, temos que regar essa semente com carinho, confiança, paciência, companheirismo e sutilezas. Assim essa semente pode dar lugar a uma bela orquídea, mas se paramos de regar, ela pode ir secando, prendendo suas pétalas até morrer, isso quando ela não passa por uma metamorfose, já vi uma exuberante orquídea se tornar um caquito.

No raiar do primeiro dia da primavera enquanto cuidava do meu jardim, vi algo que se assemelha a uma pequena mulher, vestida de lírio, tinha asas como de uma borboleta, coloridas como a primavera, ela foi embora quando me viu. Aparti daquele dia eu ficava todas as manhãs olhando discretamente pela janela, sempre com a esperança de revê-la.

Dia sim, dia não, ela vinha no nascer do sol, gostar muito do meu jardim, era tão bonita e delicada que parecia não pertencer a esse mundo, só eu a via, só eu amava tanto as flores como ela, eramos como um só, ela era a minha fada, só minha. Nos dias mais quentes do verão eu não a via, mas quando ela aparecia vinha perto do meio dia, nunca precisei de uma fada, vivi todos os meus dias sem ela, mas depois que a conheci passar um dia sem a vê era tão solitário, eu a esperava ansiosa mente.

No outono ela aparecia no fim da tarde, suas asas que no verão tinha um aspecto de fogo agora eram como as folhas secas que caiam. Com o tempo ela foi ficando mais acostumada com a minha presença, ela me deixava a observar, mas quando eu me aproximava de mais ela se afastava, as vezes ficávamos juntos no jardim, mas nunca perto um do outro, não perto o bastante.

O inverno estava se aproximando, nas tardes mais frias ela não vinha, fiquei com medo de não vê-la nos dias frios do inverno, de alguma forma eu sabia que quando começa-se a nevar, ela não mais viria, no solstício de inverno eu fiquei no jardim admirando a lua, então ela apareceu, suas asas pareciam com flocos de neve. Ela parecia não ter mais medo de mim, se aproximou pela a primeira vez, nós compartilhamos o mesmo sentimento pela a lua, o mesmo amor pelas as flores, éramos tão parecidos, ela provavelmente deve ter pensado que pode confiar em mim.

Eu não poderia correr o risco de não receber suas visitas por uma estação inteira, então eu a peguei, a segurei com cuidado para não a machucar, levei a para dentro de casa, peguei uma tesoura e cortei as suas asas, ela não iria mais voar pra longe de mim. Ela gritava, chorava, mordida e arranhava a minha mão na intenção de fugir.

Eu sei que estava lhe machucando, imagino como era bom poder atravessar os céus, batendo asas, ela deve estar me odiando nesse momento, mas um dia sei que ela vai aprender a me amar. Agora ela é minha, só minha, não vou a perder com o passar das estações, não vou mais ficar contando as horas para vê-la, posso cuidar dela, proteger, sei que ela não estaria comigo se não fosse as correntes, mas eu a amo, não posso simplesmente a deixar ir.

Ela não brilha mais como antes, isso me entristece, porém eu ficaria mais triste ainda se ela fosse embora, vamos ficar juntos pra sempre e que a morte nós separe.

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