Ardente Lírio que desponta em ti - Versão livro vol. 1

Cap 15: Pulmão de Lírio

LILIAN AZURA

Nunca pensei que chegaria nesse ponto da minha vida, em que a única coisa que estaria em minha frente seriam garrafas e mais garrafas de bebidas diversificadas. Minha visão está completamente turva, minha camisa listrada está toda aberta e eu não me lembro da última vez que cheguei neste ponto deplorável.

No momento em que vi Alisson daquela maneira, eu não consegui mais enxergar nada, a única coisa que se passou em minha cabeça foi correr até si, não me importei com o choque de todas aquelas pessoas presentes, mal me importei com nada, a não ser pegá-lo em meus braços e correr consigo até meu carro e dirigir como um delinquente até o hospital mais próximo.

Depois disso, só me lembro de todos nossos amigos tentando me amparar quando os médicos me separaram de minha chama gêmea e eu não queria sair de perto de si, queria estar ao seu lado em qualquer momento, eu não conseguia entender principalmente o porque a doença das flores havia piorado tanto, eu já estava apaixonado por ele, eu já havia o aceitado 100%, e o principal, eu já o amava, então o que havia de errado?

Quando saí do hospital sem ao menos conseguir ouvir o que meu irmão e meus amigos diziam, a primeira coisa que fiz foi passar em uma loja de conveniência e comprar um número exorbitante de bebidas alcoólicas, a atendente parecia me olhar com pena, meu estado deveria estar deplorável.

Eu estava em um estado tão grande de choque, que até aquele momento eu não conseguia chorar, fui para casa em completo silêncio, concentrado demais na estrada e ignorando meu celular constantemente, até que me vi desligando o aparelho de uma vez quando o lancei para fora do carro.

Meu estado se manteve até chegar na residência que era meu esconderijo do mundo, mas que eu compartilhei com Alisson por semanas e se tornou nosso lar. Assim que coloquei meus pés no inicio da escada, Nuvem apareceu e veio direto para mim, me lembrei do exato momento em que Alisson a conheceu e abriu aquele sorriso belo e bastante aberto dele, e então, minhas forças se esgotaram. Abracei a pequena bola de pêlos branca em meus braços e mal podia respirar conforme as lágrimas transbordavam cada vez mais de meus olhos, meus soluços eram gritantes e Nuvem não parecia se importar, talvez soubesse que eu estava fora de todos meus limites de uma pessoa mentalmente equilibrada que sempre fui.

Me vi deitado na soleira da porta, as sacolas de bebidas ao meu lado e a Nuvem em meus braços, vez ou outra esfregando seu nariz rosado em minhas bochechas, parecia uma fora de tentar me confortar e eu só conseguia chorar ainda mais.

Quando me levantei, ainda chorava. Olhei para a jacuzzi ao fundo e lembrei da nossa primeira transa, repleta de desejo e paixão, andei até parar de frente ao belo lago e lembrei de nossas conversas na frente dele, de como Alisson parecia tão em paz enquanto observava as águas cristalinas dali.

Voltei para dentro da casa e então desci até o cinema pequeno, me lembrando do primeiro beijo que dei nele, de como o gosto ferroso do sangue não deixou o beijo menos saboroso e bom.

Subi para o último andar e então me vi entrando em meu quarto. Quarto esse que agora já era nosso. O quarto onde fiz amor com ele, onde tive a certeza de que meu coração já pertencia a ele.

E foi lembrando de todos esses momentos que não consegui entender e chegar a conclusão do porquê de ele piorar, do porquê de a doença não regredir. Por que ela não foi embora e nos deixou em paz para vivermos felizes?

E após essa tour torturante, me vejo sentado no chão da sala, com 3 garrafas vazias. As lágrimas continuam a descer, mas dessa vez estão silenciosas. Nuvem se sentou em meu colo e eu acaricio seu pelo macio enquanto lembro de como Alisson gostava de segurá-la sempre que podia, e ela nunca negava um afago seu.