-Respira, respira, respira... –Roberta sussurrava par si mesma. Há essa altura já tinha parado de gravar, se encontrava andando de um lado para o outro em sua sala. –Eu vou ser mãe, eu nem sei ser mãe. Meu Deus, o que eu faço...
Ela colocou a mão em sua barriga, será que havia mesmo um filho crescendo ali? E se o teste fosse um falso positivo? E se não fosse nada disso? Ela não conseguia mais pensar. Contaria para Théo agora? Esperaria? Como educaria aquela criança? Como seria o parto? Ela não cuidava nem de sua estabilidade emocional e teria que criar um ser humano.
-Filho... –Ela sussurrou com a mão ainda na barriga. –Você está aí?
A maçaneta da porta fez barulho, era Théo, ela correu em uma fração de segundos e escondeu o teste dentro de uma gaveta. Droga! Théo com certeza perceberia o clima tendo que ela estava. Se sentou no sofá e tentou parecer o mais normal possível.
-Vida, oi! –Théo disse indo até ela e a dando um beijo na bochecha. –Tudo certo para irmos nos seus pais?
-Não! –Ela disse e Théo a olhou estranhando. –Quer dizer...vamos deixar para outro dia, ok?
-Amor, temos que ir! Faz tempo que não vemos seus pais, nós não queremos isso, há um tempo atrás seu pai estava doente, acho importante fazer uma visita, não vimos mais eles desde aquela época! Vamos?
Roberta sabia que Théo desconfiaria se ela negasse, já estava tudo certo, ela não conseguiria mentir para ele sem que ele percebesse.
-Ok.
-Ei! Está tudo bem? Estou te sentindo estranha, aconteceu algo?
-Não, Théo! Sempre tem que ter acontecido algo comigo? Eu sou a unida que tem problemas nessa casa?
-Wow! Calma, Roberta! Estou tentando te ajudar!
-Eu não quero sua ajuda hoje! –Ela disse se levantando- Vou me trocar.
Roberta estava de cabeça quente, e quando estava dessa maneira seu sangue fervia e ela descontava na primeira pessoa que aparecesse.
Théo respirou fundo.
-Ok! Pelo visto teremos uma ótima noite... –Ele disse para ele mesmo.
Alguns minutos depois Roberta já estava pronta, tomou uma xicara de chá enquanto Théo se arrumava, e se arrependeu de ter falado daquela maneira com ele. Fazia muito tempo que havia deixado a garota explosiva e agressiva para trás, e se sentia triste quando ela voltava.
Após Théo terminar de se arrumar, os dois desceram a caminho do carro, e fizeram o caminho inteiro em silencio, Théo estava chateado, e Roberta pensando na criança que estava dentro dela.
Algum tempo depois eles chegaram na casa onde Roberta foi criada, uma casa grande, mas sem muito luxo, típica de uma família de classe média, que não passava necessidades, mas que não tinha dinheiro para realizar todas as vontades que tinham.
Ao descerem do carro a mãe de Roberta já os esperava no portão. Dona Fabiana era muito receptiva, isso era inegável!
-Filha! –Disse a abraçando. Por algum tempo era somente isso que Roberta queria, abraçou a mãe fortemente e se segurou para não chorar pensando ainda na gravidez. –Que saudades! E você Théo, como está bonito! –Ela disse também o abraçando.
-Obrigado, sogra! –Théo sorriu. –Estou mais gordo, eu sei. –Fabiana riu.
-Vamos entrar, seu pai está lá dentro! –Ela disse para Roberta, e em seguida os puxou para dentro da casa.
O pai de Roberta estava sentado em uma cadeira na cozinha, mexendo em seu celular de cabeça baixa.
-João! A Roberta e o Théo chegaram!
Ele levantou sua cabeça os olhando.
-Olha quem resolveu dar as caras e lembrar que tem um pai e uma mãe! –Disse com rispidez.
-Pai...eu vim para visita-los! Minha vida é corrida, o senhor sabe!
-A vida da Larissa e da Jaqueline também é corrida, e elas não saem aqui de dentro! Quanta desconsideração!
-Pai, eu não vim aqui para ouvir isso, eu...
-MAS VAI OUVIR! –João a interrompeu falando alto- A CASA É MINHA!
Roberta encheu os olhos de agua, lembrou da época em que ainda morava ali, a época em que seu pai gritava e a chamava de burra frequentemente. E fazia pior com sua mãe.
-João, para! –Fabiana disse também quase chorando- Não estraga nossa noite!
-Cala a boca você também! Essa menina é assim por sua culpa que não soube cria-la! Isso é culpa sua que nem para criar direito seus filhos você prestou!
-Mãe, eu vou embora, tá? Tá tudo bem! Volto outro dia!
-Não! –Théo disse. –Senhor João, sempre te respeitei e considerei, mas não irei permitir que a Roberta passe por essa situação novamente! Por isso, se quiser que frequentemos sua casa, precisa respeita-la.
-Quanto desaforo! Saiam vocês dois da minha casa, você é meu maior desgosto Roberta.
-Vamos, Roberta! –Théo disse a puxando.
Os dois caminharam até o portão, as lagrimas desciam pelo rosto de Roberta.-Filha...me perdoe! Não devia ter insistido para vir!
-Tudo bem mãe...você –e uma das maiores vítimas dessa história! –Ela disse e abraçou sua mãe. –Eu te amo, fica bem!
Os dois entraram no carro.
Roberta chorava baixinho, não queria que seu filho tivesse contato com aquela família, com aquele homem. Não queria que seu filho passasse pelas mesmas coisas que ela havia passado.
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the medicine is loved
RomanceRoberta é uma mulher feliz. Tem um bom casamento, um bom emprego, uma boa vida. Mas o passado ainda a aprisiona, traumas que ela desconhece e evita. Roberta está tentando sobreviver a cada problema que a vida dá para ela, busca achar a calmaria, s...