Cuide de Mikey por mim, por favor

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Estava chovendo.

Podia sentir os pingos de água cair sobre o meu rosto e corpo.

Poderia estar inconsciente, mas, de certa forma, eu sabia que meu corpo estava doendo.

Não sabia o que estava acontecendo ao meu redor, e também não sabia se era uma coisa boa ou ruim.

Não me lembrava direito como fui parar nessa situação.

Não conseguia mover um dedo, não conseguia mover os olhos também.

Disparos.

Motos.

Batalha de gangues.

Sangue.

Era isso.

Agora eu consigo me lembrar um pouco.

Eu estava morrendo.

Morrendo por culpa do Kisaki.

Eu estava com vontade de rir, porém a gargalhada ficou presa na garganta.

A vida era, de fato, engraçada – como Kazutora já tinha me dito uma vez.

E a parte mais triste disso tudo é:

Não poder ter dado adeus… a Akemi e ao Mikey.

Eu não sabia onde e como estava o loirinho dos olhos, os olhos da escuridão.

Usei mais um pouco das minhas últimas forças para sentir onde estava deitada… quase morta.

Pedrinhas.

Tecido áspero.

Cimento molhado.

É, eu estava deitada na rua.

Meu corpo inerte. Na rua.

Era isso, então? Morrer aos vinte anos.

Morrer aos vinte anos.

Eu já sabia que iria morrer de qualquer maneira.

Eu só estava adiantando o inevitável.

Queria chorar, mas não saia nenhuma lágrima.

É foda… pra caralho.

De repente, começo a escutar passos, lentos e vagarosos, se aproximando de onde eu estava.

Isso também já não me importava.

Se iria morrer agora de uma vez ou não.

Eu já não estava mais dando a mínima.

— Como será o céu? – perguntei sentada na grama e olhando para cima, vendo azul com branco.

— Por que a pergunta? – escutei Draken responder. — Nós vamos para o inferno mesmo.

— Ah? – indaguei incrédula e, com os olhos arregalados, olhei em sua direção. — Pro inferno? Eu? Oras, seu… – virei o rosto com os olhos fechados. — Você que vai pro inferno, Ryuguji.

Pelo canto do olho, pude ver ele dar um sorrisinho e logo depois uma risadinha.

— Sabe, Thay… – ele começou a falar, olhando para o lado. Segui seu olhar curiosa e confusa, abri um sorriso ao ver Mikey.

O Sano estava escorado na cerca, os olhos fechados, um sorriso fechado também, a cabeça erguida para trás, aproveitando a brisa em seus fios loiros.

Cuide de Mikey por mim, por favor...Onde histórias criam vida. Descubra agora