Capítulo Um. Ceylin

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Se tivesse que se lembrar do dia mais feliz de sua vida, Ceylin Erguvan provavelmente chocaria a todos ao escolher uma típica tarde de verão na qual seu eu de dezessete anos havia empurrado sua irmãzinha cada vez mais alto em um balanço no pátio da escola, ambas sorrindo largamente e rindo de forma contagiante. Para qualquer um as observando, aquilo não teria significado muito mas para Ceylin, aquele havia sido seu dia de maior orgulho.

O dia em que conseguira uma bolsa para entrar na faculdade de direito e ir atrás de seu sonho de se tornar uma advogada.

O dia em que sua mãe finalmente parecera satisfeita com ao menos alguma coisa que ela havia feito.

O dia em que os olhos de seu pai brilharam com orgulho.

Mas mais importante que tudo isso, o dia em Inci com toda a seriedade possível para alguém de sete anos lhe dissera que se tivesse que escolher uma heroína, seria Ceylin. E que no futuro queria ser exatamente como sua abla.

A ironia cruel da vida havia mesclado implacavelmente os melhores e piores dias de sua vida com as memórias de sua irmã mais nova. O destino havia roubado a pequena de cabelos cacheados dos braços de Ceylin, expondo segredos sujos no processo.

Seu pai estava agredindo a filha já crescida e, ao que parecia, guardando o que pareciam segredos demais para uma única existência.

Seu melhor amigo era um psicopata e um assassino.

Seu cunhado estava dormindo com a esposa do seu tio.

Sua irmã mais nova era uma experiente traficante de drogas e...

Nenhum dia de seu passado ou de seu futuro poderia superar aquele em que o promotor Pars havia puxado o lençol branco do corpo imóvel e sem vida da mulher jovem que o novo cliente de Ceylin supostamente matara. Ver a ausência de brilho ou qualquer sinal de vida naqueles olhos, sentir as gélidas palmas das mãos, a estrutura física ainda parecendo menor que o usual... O corpo imóvel de Inci deitado na superfície de metal do necrotério ainda assombrava os pesadelos de Ceylin mesmo após quatro meses.

A única coisa pior era descobrir que Engin, a pessoa mais próxima a ela e seu único amigo de verdade, não apenas havia matado sua irmã mas também havia meticulosamente limpado todas as provas antes de livrar-se do corpo em um container de lixo para, juntamente com o monstro do pai dele, colocar a culpa no jovem Özgür Tuna, quem Ceylin conhecera por mero acaso e ainda assim concordou em defender.

Aquela decisão, é claro, havia lhe custado tudo. Após descobrir que sua filha estava defendendo o principal suspeito do caso de Inci, Gül e Zafer Erguvan haviam cortado Ceylin de suas vidas sem hesitar, jogando fora todos os pertences da filha.

Sua vida inteira em apenas quatro sacos de lixo.

Ceylin os perdoara no momento que a porta da frente havia sido fechada em seu rosto. Ela sabia o quanto doía, tinha ciência do quão difícil era acreditar no que dizia. Mas no fundo de seu coração, Ceylin tinha esperança que uma vez que as coisas se esclarecessem, sua família iria até ela e pediria para fazerem as pazes...

A realidade cruel mais uma vez provou a Ceylin que o universo não conspirava a seu favor.

Sua família havia escolhido acreditar nas mentiras de Yekta Tilmen ao invés da filha e, especialmente, no sistema judiciário.

Você deixou um assassino se livrar e armou para seu amigo inocente, Ceylin. Que o céu caia sobre sua cabeça, eu amaldiçoo o dia em que você nasceu!

Como se ela já não tivesse sido amaldiçoada o suficiente com a morte da pessoa com a qual mais se importava.

E quando nada parecia poder mais dar errado em sua vida patética, lá estava ela, dentro de uma ambulância com um homem que detestava com tudo que tinha, e que ela provavelmente tinha matado por acidente há menos de vinte minutos atrás.

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⏰ Última atualização: Aug 30, 2022 ⏰

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