John desceu as escadas com pressa indo em direção a porta, em seguida pegando seu casaco.
— Não me espere Sherlock, voltarei tarde. Se for dormir, tenha bons sonhos - Sherlock apenas entreabriu seu olho esquerdo e como resposta, John ouviu um murmúrio vindo do moreno que estava sentado em sua poltrona.
A porta se fechou e a figura loira desapareceu da visão do Holmes.
Quando Sherlock sentiu bem ao longe o forte cheiro de perfume, e na rápida olhada que deu, notou suas roupas recém passadas e que John havia se barbeado, soube no mesmo momento que o Watson iria a um encontro, de fins possivelmente românticos.
Era estranho para o detetive, ver o colega de quarto saindo com outras pessoas depois de ter entendido os interesses românticos que nutria pelo doutor. E mesmo depois de tê-lo beijado, com a desculpa que era para um experimento, com um intuito de saber se a ocitocina seria um estimulante mental melhor do que cocaína, o Watson parecia ainda não ter notado os flertes – que apenas Sherlock tinha conhecimento que eram flertes – direcionados a si. Em palavras diretas, John Watson era um lerdo, mas Holmes não se frustraria com isso pois tinha conhecimento de que sua maneira de tentar mostrar interesse era peculiar.
Sherlock tinha a teoria de que era porque John mantinha fortemente a ideia de que o detetive era uma máquina sem sentimentos. Bem, na maioria das vezes ele era mesmo, mas não quando se tratava do loiro. Quando Watson era o seu x da questão, sentimentos não chegavam a ser uma pauta tão difícil. Era o que o moreno gostava de pensar.
Sherlock sabia que queria arruinar sua amizade com o Watson, em sua opinião, eles seriam muito melhores como amantes. A questão era:
Como fazer isso? Tinha medo de expressar seus sentimentos pelo outro e acabar com uma amizade tão verdadeira quanto aquela que eles tinham, mas por outro lado também poderia descobrir a intensidade de amar alguém e ser amado. Experimentaria novamente o anseio por outra pessoa, tal qual aquele que sentiu percorrer pelo seu corpo quando em um impulso, tomou dos lábios do amigo pela primeira vez.
Seus pensamentos em torno de John eram tantos, que haviam lhe tomado o fim da tarde e o início da noite, quando despertou de seu palácio mental já eram dez da noite e o Watson já havia voltado para o 221b.
— Achei que tinha dito que iria voltar tarde.
— Esses eram os planos, mas como sempre, deu errado então achei mais produtivo voltar para casa e ouvir você e seu sôfrego violino.
— Meu violino não é sôfrego - Sherlock disse, evidentemente ofendido.
— Apenas quando você não está em suas crises anti sociais, ou prestes a ter uma recaída. Não que essa seja uma das situações, apenas gostei de apelidá-los assim.
O loiro foi até a pequena mesa perto da janela, para logo servir-se da bebida alcoólica que tinha sob o móvel, e voltou para se sentar em sua poltrona. Sherlock, sem muita demora, pegou seu violino e começou a tocar.
O que tocava não era de seu comum, não parecia cheio de melancolia e desgraça, soava mais como... uma declaração, era suave, lento e continha algo que o Watson achava o moreno incapaz de sentir. Por mais que fosse discreto, continha paixão e amor.
O detetive tocou por longos minutos, na companhia do silêncio confortável da falta de diálogo entre si, e o colega de quarto. Enquanto observava pela janela, que a neve estava caindo e enfeitando toda Londres de branco.
— Essa é nova, tem um ar diferente das outras que já ouvi você tocando - Disse, quebrando o silêncio em que estavam.
— Defina diferente, Watson - O moreno esperava que a mudança da melodia fosse o gatilho para que o médico percebesse o sentimento que ia ficando cada vez maior dentro do Holmes.
— Não sei explicar, parece algo que alguém apaixonado tocaria. Mas você não; onde já se viu, Sherlock Holmes apaixonado.
John nunca iria saber, mas Sherlock havia percebido a leve mágoa que tinha, quando o loiro disse que ele não poderia se apaixonar.
— Sentimentos só são encontrados no lado perdedor. São uma fraqueza, que só nos levam ao descontrole e a perda da razão. Além do—
— Okay Sherlock! Eu já ouvi esse seu discurso antes, sei o que você pensa sobre sentimentos. Mas quer saber de uma coisa? - Por ainda estar de frente para a janela, o loiro não pode ver sua expressão de interesse - Eu poderia beijá-lo novamente. Porém, não com o seu pretexto de que seria para um "experimento"
Watson fez aspas imaginárias quando se referiu ao experimento de Sherlock. O experimento que fez com que por noites não conseguisse dormir, pois a textura dos lábios de Sherlock era tão convidativa, que se culpava por não ter tido coragem de tocá-los bem antes. A única coisa que tinha na mente de John desde o experimento, era apenas Sherlock.
Sherlock e a certeza de que tinha sentimentos por ele, apenas isso rondava a mente de John Watson.
— E seria porque, Watson? - Sherlock o olhou por cima de seu ombro.
— Seria porque acho seus lábios extremamente atraentes e beijáveis. Porque sinto que se tivesse novamente a chance de tê-los, poderia me perder na imensidão dos seus olhos que parecem o oceano, e nas curvas dos seus cachos que são ridiculamente muito perfeitos.
Parecia que John tinha tirado um peso de seus ombros, que estava mais leve, que poderia morrer sem nenhum arrependimento. Antes que Sherlock pudesse dizer alguma coisa, John continuou:
— Mas você é o Grande Sherlock Holmes, que nunca perde, pois sentimentos são encontrados apenas no lado perdedor. É uma máquina.
John era tão fácil de ler, que por mais que tivesse tentado esconder a tristeza na voz, Sherlock havia percebido a presença dela. Tirando todo o brilho do olhar do médico.
O loiro se levantou da sua poltrona, mas quando estava prestes a se retirar do cômodo Sherlock lhe agarrou o pulso e disse:
— Eu, não sou uma máquina John. Agi como se fosse, por medo da falta de reciprocidade e de estragar nossa amizade. Mas pelo o que acabou de me dizer, eu estava errado.
Holmes já não segurava mais o pulso do loiro, e foi diminuindo a pouca distância que existia entre os dois. Chegou tão perto que era possível sentir a respiração de John em seu rosto.
— Eu posso ser a pessoa mais, rude, arrogante, inconveniente e narcisista que você ou qualquer outra pessoa já conheceu. Mas confesso que, por você John, eu sou o mais humano que consigo ser, o suficiente pra entender e dizer que te amo, eu te amo como um alcoólatra, e é apenas mais um beijo seu o que eu preciso.
Meio passo e o único centímetro que impedia seus lábios de se tocarem, deixou de existir. Sentiram novamente a sensação de estarem completos, as borboletas no estômago estavam mais vivas do que nunca e parecia que ambos haviam sido feitos em um molde composto. No qual se completavam com perfeita harmonia.
As mãos de John que permaneciam nos pequenos cachos da nuca de Sherlock, não tinham outro lugar mais conveniente para estarem.
Naquele momento, o cacheado percebeu que os beijos de John eram mais viciantes que a nicotina e as outras drogas que Sherlock se esforçava ao máximo para evitar. Eram como todo tipo de entorpecente que o Holmes já havia experimentado para aumentar seu desempenho cerebral, mas ao mesmo tempo, eram totalmente diferentes. Cada selar que trocava com o Watson, era como:
Pó, maconha ou algo do tipo que acelerasse seus batimentos cardíacos.
Os corpos que pareciam tão unidos por meio do ósculo, só se separaram pela falta de ar em seus pulmões.
— Então posso dizer que te amo também, você Sherlock, é a pessoa mais importante em minha vida. Obrigado por ser meu amigo, e agora, a minha paixão.
John lhe deu um selinho, e se enroscou nos braços do Holmes, embriagando-se no perfume cativante de Sherlock.
Ali, preso ao Holmes, John percebeu que sempre esteve no lugar errado. Em todos os momentos em que seu olhar cruzou com o de outra pessoa e pensou que aquela seria a certa, ele estava completamente errado. Pois era sempre no lugar errado que John procurava pelo amor de Sherlock.
Notas do autor: obrigado por ler, espero que tenham gostado e peço perdão por erros. Prometo que irei corrigir.
Agradecer ao @PrinceLypnos pela capa maravilhosa, e por me ajudar no processo de escrita. Vc é incrível amg, um bj <3
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Wrong Place - Johnlock
RomanceNo lugar errado, era onde John Watson permanecia sempre que procurava pelo amor. Em outras palavras, era no lugar errado em que John procurava pelo amor de Sherlock.