Prólogo

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Pietra ||

O pouco que me lembro da minha infância, foram algumas coisas marcaram ela. Como subir no alto do mirante com meu pai para ver o sol se pôr, andar de moto com meu padrinho pelas estreitas ruas da favela e ouvir a voz do meu pai pedindo para ir devagar, o ritual de almoçar todo domingo na casa da Dona Tereza.. essa senhora marcou a maior parte da minha infancia e claro, o Marcos... O filho do meu padrinho.
Meu primeiro namoradinho, tinhamos cinco e oito anos.

— Pietra, eu prometo que iremos casar um dia.
— Mas só adultos podem se casar.. e beijar na boca.
— Um dia seremos adultos.
— E então nos casaremos?
— Exatamente. Nos casaremos.

Fui tirada dali poucos dois anos depois, aos sete. Me lembro de ouvir meu pai e meu padrinho gritando com a minha mãe, depois ouvir ao sobre ali não ser lugar de criança, mas eu tinha tudo ali, tinha minhas bonecas, comida, o marco, meu pai.. O que mais uma criança poderia querer? Minha mãe disse que eu era muito nova para entender, hoje, doze anos depois eu entendo o lado dela, queria um bom futuro para mim e eu entendo, mas eu preferia ter ficado com meu pai. Nós mantivemos contato todos esses anos, mas eu nunca voltei ao rio depois de ter vindo embora.

Depois de uma certa idade, de tanto ouvir a fase "aquilo lá não era lugar pra você", eu passei a repensar sobre. Na favela tem droga, na sociedade elitista também tem; na favela tem arma, na sociedade elitista também; na favela tem tudo que tem na sociedade brasileira, a diferença é a classe de quem comanda cada uma dessas realidades.

Vivemos por doze anos em São Paulo, mas a minha mãe faleceu há cerca de um mês e eu não tenho dinheiro para manter esse apartamento e muito menos vontade de morar no lugar onde tudo me lembra minha mãe. A minha unica opção é voltar para o Rio e morar com meu pai. Um dia eu deixei toda a vida que eu consturir ao longo de seis aninhos para morar com minha mae, hoje eu tenho que lagar os doze anos para morar com meu pai.

Metade das minhas coisas já foram para o
Rio, o resto vai comigo de avião. Me assusta pensar em voltar para "aquilo lá" — como diria minha mãe — o mundo era incrível aos seis, mas aos dezenove, a realidade já muda.

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⏰ Última atualização: Sep 05, 2022 ⏰

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