Todas as noites eram iguais, aquele velho homem de cabelos grisalhos, dedos calejados do serviço, mesmo cansado, antes de dormir parava em frente ao guarda-roupa, de baixo da mala de viagem um papel de carta, dentro dele, uma fotografia já castigada pela ação do tempo.
Enquanto a olhava, a lágrima escorria pelo seu rosto, um suspiro dobrado aparecia quando olhava a cama vazia, gélida. Ele colocava a fotografia de volta ao lugar de onde havia retirado, erguia as mãos a altura do peito, juntava-as como estivesse abraçando alguém imaginário.
Então se aproximava, puxava as cobertas uma a uma, até que somente restasse o lençol branco sobre o velho colchão. Com a aparência de quem estava sendo consumido pelo sono, sentava-se na cama, retira o óculos e coloca sobre o criado mudo. Agradecia a Deus por mais um dia.
Logo que se deitava, antes do sono dominar seus olhos, imaginava luzes em frente aos seus olhos. Por entre as luzes, via uma mulher, jovem e linda, cabelos pretos, olhos claros e sorriso largo. Então, aos poucos a imagem da mulher esmaecia, e por vezes jurava ver um cavalo negro, pelo reluzente, vinha em sua direção. Quando estava chegando perto, seu pelo reluzia na luz e a imagem mudava, via agora, um carro vermelho, modelo sport. As imagens, as visões seguiam, uma após a outra até tudo escurecer, os olhos se fecharem, o respiração diminuir.
De repente, um suspiro profundo, sua mente acorda. Seu rosto esboça reações de uma pessoa desesperada, fazendo tudo para acordar, por alguns minutos o silêncio predomina. O velho sonhava, a ilusão o levava para fora de seu corpo, ele se via de fora, fazendo o que acabara de fazer.
Olhava a foto, chorava, despia a cama, sentava-se, tirava o óculos, agradecia a Deus, deitava. E quando não conseguia mais enxergar ninguém a sua frente, acendia uma luz, focava nos olhos do homem deitado. Que por sua vez, via entre a luz: a mulher, o cavalo, o carro
Autor: Yago Levi Pires
Data: 05/05/2015