P.o.v. Nico di Angelo
Duzentas e dezenove horas. Treze mil cento e quarenta minutos.
Foi o tempo que permaneci no acampamento meio-sangue. Honestamente?Aquele lugar era incrível, mas eu não podia.Não podia ficar ali enquanto Stella está em algum lugar sendo mantida como refém do exército de Cronos. Enquanto Bianca estava indo em direção a uma morte quase certa. E mesmo que quisesse os sonhos de uma voz metálica e arrastada continuavam me perseguindo.
Eu sei o que você vai dizer. "Nico di Angelo, eu não acredito que você fez o que eu acho que você fez.", e a resposta é sim, eu fugi do acampamento meio-sangue. Escute a história antes que comece a me dar um sermão.
Deveriam ser cerca de duas da manhã quando eu acordei depois de um pesadelo, mais uma vez.Depois do terceiro sonho eu me dei conta que a voz era na verdade Cronos tentando me manipular. Sarah me falou certa manhã que os sonhos dos semideuses na maior parte das vezes não eram realmente sonhos, eu ainda não entendia exatamente o que aquilo queria dizer.
Depois de me revirar na cama de todas as formas possíveis, me levantei. Fui até o banheiro e troquei de roupa. Sai silenciosamente do chalé onze e comecei a vagar pelo acampamento sem rumo. Estava muito escuro e a iluminação era feita unicamente pelas luzinhas que enfeitavam o acampamento.
Estava extremamente frio, alguns flocos de neve caiam em pouca quantidade, a neve no chão era fofinha. Era difícil andar, mas consegui chegar ao pavilhão do refeitório. Por algum motivo a lareira estava ligada. Por entre as colunas pude ver uma silhueta sentada junto ao fogo.
–Aproxime-se, Nico di Angelo- A figura disse, sua voz era doce e acolhedora.
Eu sequer hesitei, andei para os fundos do refeitório onde a silhueta estava.Nem ao menos questionei como ela sabia que eu estava ali sem ter deixado de olhar as chamas nem por um segundo. Ao me aproximar percebi que se tratava de uma criança e quando cheguei perto o bastante para que o fogo iluminasse seu rosto vi a face da menina das chamas. Os cabelos castanhos cinzentos estavam acomodados em uma trança simples, usava um vestido de mangas compridas em tons terrosos, uma meia calça e sapatilhas pretas. Ela não tinha a habitual aparência de uma menininha pioneira, parecia uma criança de uma família importante pronta para um evento de gala. Mesmo que não usasse suas rotineiras roupas seu olhar continuava igual, com o mesmo acolhimento, honestidade e compreensão. A menina estava sentada em uma poltrona aveludada vermelha desfrutando de seu chocolate quente e olhando incansavelmente para as chamas da lareira.
–Sente-se - Ela ofereceu, sua voz era tão acolhedora quanto sua presença. A menina fez um movimento com as mãos e no segundo seguinte uma poltrona igual a sua apareceu.Me acomodei.–Não consegue dormir?
–Tenho tido pesadelos- Respondi.
Ela não respondeu, apenas deu um gole em seu chocolate quente.
–Você não tem planos de continuar aqui, certo?
–Não...- Eu não sabia o porquê, mas por algum motivo eu não consegui mentir para aquela garota.- Preciso procurar Stella.
–Família é o bem mais precioso que temos.- Ela finalmente me olhou nos olhos. Percebi então que seus olhos não refletiam as chamas da lareira, seus olhos eram feitos de chama.- Entendo sua decisão de querer partir.
–Entende?- Eu questionei- Então não vai me impedir?Dizer que sou muito novo e que deveria sentar sem fazer nada enquanto os mais velhos resolvem a situação?
Ela deu um leve suspiro e voltou a olhar para as chamas.
–Se algum dia você precisar de um lugar quente para se sentar e de uma refeição caseira, será bem- vindo juntamente das chamas.
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Di Angelo | A maldição de Atlas
Фэнтези𝑂 𝑚𝑒𝑑𝑜 𝑒́ 𝑢𝑚 𝑏𝑜𝑚 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑒𝑙ℎ𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑒 𝑢𝑚 𝑝𝑒́𝑠𝑠𝑖𝑚𝑜 𝑔𝑢𝑖𝑎 É indiscutível que os irmãos di Angelo já haviam passado por muita coisa. Com a segunda guerra mundial prestes a estourar, fugiram de sua terra natal junto dos pais.P...