Lina e Gus se entreolham quando ouvem a campainha. Depois de um segundo de entendimento, os dois saem correndo e descem a escada o mais rápido possível.
Quando chegam na porta, veem que seu pai, Raul, estava recebendo quem quer que fosse.
Lina estava nervosa. Com esperanças. Ela escuta a risada de seu pai e franze a testa. "Será?"
Ele dá espaço para o visitante entrar e se vira para fechar o portão.
Lina sorri e seu coração esquenta. Era Ingrid.
- Ingrid! - Lina grita.
- Oi! - ela responde.
Gus sorri e dá espaço para elas subirem para o quarto. Raul percebe.
- Gostei dela - ele diz.
- Que bom, pai - Gus passa os braços por cima dos ombros de Raul - Ela é importante para Lina.
- Eu percebi - Raul responde, abraçando o filho pela cintura - Fico feliz dela estar em boa companhia.
- Lina! Eu ouvi! Você é maravilhosa!!! - exclama Ingrid.
- O que? - Lina cora - Você me ouviu tocando?
- Sim!!! Foi incrível, é sério. Eu me arrepiei.
- Ah! Obrigada - diz Lina - Quando eu estava tocando e cantando, foi como... estar voando. Eu amo música. E cantar... cantar para mim é tudo.
Lina estava tão sonhadora falando do que mais amava que Ingrid se sentiu um pouco deprimida. "Nunca mais poderei cantar"
- In, tudo bem? - Lina pergunta, parecendo preocupada. Isso foi suficiente para fazer Ingrid se sentir melhor.
- Tudo bem - ela sorri.Lina assente, e logo pergunta:
- In, você canta? Poderíamos fazer um dueto!
- Ah... sinto muito Lina - diz Ingrid - Mas eu não canto.
- Mas você toca tão bem!! - Lina diz - Você é a melhor!!
- Sim. Por isso que não canto. Não posso ser a melhor em tudo. Esse é o seu posto - Ingrid afasta uma mecha do cabelo escuro de Lina, fazendo a garota corar.
- Ingrid... eu tenho que te contar e... depois você me diz se vai continuar gostando de mim ou não - começa Lina.
Ingrid sorri - É, eu gosto de você - Ela ainda brincava com as mechas do cabelo de Lina.
- Sente-se - diz Lina, apontando para a cama.
Ingrid se senta e espera ela começar a falar.
Lina respira fundo - In, eu... tenho transtorno do espectro autista.
Ingrid parece esperar ela continuar falando. A garota franze a testa quando percebe que Lina não diria mais nada.
- Qual é a parte em que eu não iria mais gostar de você? - Ingrid franze a testa.
Lina sorri - É... só isso.
- Carolina Santana! Isso não muda nada!!! Você continua sendo uma garota incrível, talentosa e uma luz na minha vida. Eu não consigo acreditar que te conheci ontem. Parece que nos conhecemos a anos. Sério, em pouco tempo você se tornou especial para mim. Nada vai mudar isso - Ingrid para de falar para respirar, quando Lina se joga em cima dela para um abraço, as duas caem na cama.
- Obrigada - Lina sussurra, emocionada.
Ingrid percebe que ela estava chorando. "Nossa, ela realmente pensou que isso seria um problema".
Elas continuam abraçadas por um tempo.
- Lina - Ingrid chama e elas se sentam. Quando a garota olha em seus olhos, ela limpa uma lágrima que estava caindo - Nunca pense que isso é um problema. Não é. Quem pensar o contrário é idiota.
Lina assente - O meu grau é leve. Fui diagnosticada com 2 anos. Eu tive sorte. Desde então, faço terapia comportamental 1 vez por mês. Antigamente, eu costumava ter uma crise por dia, por isso, a terapia era semanal, mas não mais. Quando eu fico muito nervosa, eu começo a bater as mãos, a ficar inquieta. O ápice é quando começo a chorar alto, ou gritar, ou... - ela respira fundo e Ingrid aproveita para abraçá-la pela cintura, incentivando-a a continuar.- Ou quando eu me desligo do mundo. São as piores. Fico presa dentro de mim – Lina suspira.
- Sinto muito – sussurra Ingrid, fazendo uma sombra de sorriso passar pelo rosto de Lina.
- Eu... passei por muita coisa quando criança. O diagnóstico foi difícil para minha mãe. Ela sofreu muito e isso me fazia mal. Meu pai e meu irmão sempre me acalmavam. Eles foram incríveis - ela continuou - Por isso que agora eu agradeço. Por eles e por eu ter autonomia e independência. Todos os dias para mim são tesouros, porque antes era muito, muito pior.
- Ah Lina - diz Ingrid - Você é uma guerreira. Deveria dizer isso para todo mundo. Todos deveriam saber o quão incrível você é.
- Eu me contento em só você me dizendo isso - Lina sorri.
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Quando a noite se torna eterna
Roman d'amourDuas garotas. Duas histórias. E muitos traumas. Ingrid e Lina irão se conhecer por pura coincidência, mas logo descobrirão que estavam destinadas.