Lina caminha para sua casa inquieta. Ela anda o mais rápido possível. Se sua mãe apenas imaginasse que ela saiu sozinha, à noite, e ainda jantou fora de casa, teria um ataque.
Mas não era apenas esse motivo que causava seu desconforto. Lina não conseguia parar de pensar em tudo que acontecera com Ingrid. No jeito que ela chorava. Ingrid é forte, foi difícil vê-la chorar. Ela suspira. "Não queria que ela tivesse passado por tanta coisa" – pensa Lina.
Quando chega, ela abre o portão e suspira de alívio. Sua mãe ainda não chegou. O carro não estava na garagem.
Ela entra em casa e vai para a sala. Gustavo e seu pai estavam sentados no sofá, assistindo alguma série da Netflix.
- Oi gente – Lina diz, se sentando com eles.
- Oi, meu amor – diz Raul – Como foi lá?
- Foi muito bom – Lina sorri – Os pais dela são incríveis. Quando chegamos, estavam fazendo a janta. Era strogonoff.
- E o que aconteceu? – pergunta Gus – Você comeu?
- Não, vocês sabem que eu odeio strogonoff. Acho que é a única coisa em que eu e Ingrid discordamos – Lina sorri ao falar na garota.
Gus e Raul sorriem e se entreolham.
- E o que aconteceu? – pergunta Raul – Você não jantou?
- Jantei, Ingrid fez ovo. – Ela responde.
- E você comeu com strogonoff? – pergunta Gus.
- Gustavo, como podemos ser irmãos? Gêmeos? – Lina pergunta, brincalhona – Claro que não, seu lerdo! Os pais dela fizeram arroz.
- Ah! Você não explica! – exclama Gus.
Lina balança a cabeça, revirando os olhos.
- Você se sentiu bem lá filha? – pergunta Raul – Não ficou nervosa?
- Não. Me senti completamente acolhida e confortável – ela olha para eles – Foi incrível, sério.
A conversa é interrompida por um farol. Eles percebem que é o farol do carro de Juliana. Eles param de conversar e subitamente, se interessam pela série que está passando na tv.
Juliana entra e vai direto para a sala.
- Oi, amores – ela beija Raul, fazendo Gus e Lina desviarem o olhar – Como foi o dia de vocês?
- Bom – responde Gus.
- Muito bom – responde Lina.
Juliana olha para Lina, se sentando no sofá – Posso perguntar o porquê do "muito"?
"Não" – Lina pensa.
- Sim – Lina engole em seco – Eu toquei hoje. E eu amo, isso já ganhou meu dia, sabe.
Juliana assente – Fico feliz, filha. – Ela faz uma pausa – E você, Gus?
- Eu e o pai fizemos pães – ele responde – Uma delícia.
- Vou fazer pra você, querida – Raul se levanta e vai para a cozinha.
Juliana o acompanha – Deixa eu ver como é!
Lina encara Gus e em acordo mútuo, eles se levantam e vão para seu quarto.
- Ufa – Lina diz, assim que Gus fecha a porta do quarto – Deu tudo certo.
- Ainda bem – Gus sorri – Eu gosto da Ingrid. Ela te faz bem.
Lina sorri – Faz mesmo né?
- Você até cantou uma música nova, totalmente diferente do seu estilo – ele diz.
- Ah, "Do I wanna know" é meu estilo – ela diz – É só uma outra parte de mim.
- Aham – ele responde, sorrindo, cético.
- Mesmo assim, "The Nights" sempre vai ser minha fav – ela sorri. – Vou tomar banho.
- Vai lá – Gus responde – Tá precisando.
Lina mostra a língua para ele, pega seu pijama e vai para o banheiro.
Quando a garota volta para seu quarto, encontra seu irmão deitado, olhando a cifra de uma música.
- Vai aprender o que? – ela pergunta.
- Friends, do Chase Atlantic – ele responde, treinando as notas em sua guitarra.
- A guitarra da In é mais bonita que a Afrodite – Lina comenta.
- Que absurdo é esse? – exclama Gustavo – Ela tá mentindo, Afrodite. Você é a mais bonita de todas. – Ele faz carinho em sua guitarra.
Lina ri – Você tem que ver. Ela é cinza.
- Você só tá falando isso porque tá afim da dona da guitarra – ele diz, sorrindo.
- O que? Não! – Lina exclama.
- Fase 1: Negação – diz Gus.
- É sério – diz Lina – Não gosto dela assim.
- Essa fase pode durar algum tempo. Li em um site que pode chegar a anos – Gus provoca.
- É sério, Gustavo – ela diz – Somos só amigas.
Gus começa a tocar e cantar um trecho de "Friends":
- "What the hell were we?
Tell me we weren't just friends
This doesn't make much sense, no"
Lina joga uma almofada em seu irmão.
- Fase 2: Raiva – diz ele.
- AAAAA – Lina grita e pula em cima dele, o enchendo de cócegas – Você pediu por isso!
Ele ri tanto que a empurra, fazendo-a cair no chão. Ela se levanta e o puxa para o chão. Os dois ficam deitados no tapete, olhando para o teto.
- Lina – ele começa – Tá tudo bem gostar de uma garota.
- Eu sei – ela diz.
- Irmã – ele chama – Eu gosto de garotas.
- Isso é óbvio – ela responde – O nome da sua guitarra é Afrodite. Isso é um pouco estranho.
Gus ri – Sim. Eu gosto de garotas. E... garotos.
Lina o encara – Sabia! Por isso que você ficava todo quieto quando nosso primo, Lucas vinha! – ela se choca.
Ele cora – Ele é alto. E cheiroso.
Lina ri – Eu te amo, irmão.
Eles se abraçam – Se precisar conversar sobre qualquer coisa, fale comigo ok? – Gus diz.
- Pode deixar – ela diz.
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Quando a noite se torna eterna
RomanceDuas garotas. Duas histórias. E muitos traumas. Ingrid e Lina irão se conhecer por pura coincidência, mas logo descobrirão que estavam destinadas.