Autróx - Anéis de Luz

Prólogo

O Aniversário

Amanheceu e eu não consegui dormir a noite toda, consequência do abalo emocional de sonhar com criaturas diabólicas. Os pesadelos voltaram e estão cada vez mais cheios de significado, eles transformam-se conforme eu mudo.

Um dia, meu nome foi Alexandre Torres, agora, depois de tudo, prefiro que me chamem apenas de Alex. Esse apelido sempre foi sinônimo do melhor de mim e hoje representa tudo o que fiz para ainda estar aqui, lutando. Não escolhi abandonar meu lado adolescente que preocupava-se com bobagens e seguidores nas redes sociais, mas acho que foi melhor assim, aprendi a ser quem sou agora vendo as melhores e piores faces do ser humano.

Hoje completo mais um ano de existência, há dezesseis anos recebi o encargo de carregar a Terra e Autróx nos ombros, mas essa não é mais uma história de uma criança especial que descobre que é especial no aniversário. Não que eu seja alguém comum, eu não sou. No entanto, só tive a certeza disso na noite passada, quero dizer, talvez eu tenha dado sorte.

Se você tem interesse em saber como está sendo meu aniversário, posso adiantar que a coisa mais espetacular de hoje é o nascer do sol que estou vendo, do alto de uma colina, confortavelmente sentado na grama, escorado em uma árvore. E que sorte a minha! Poucas vezes vi um alvorecer tão bonito. Mas nem toda a beleza da manhã é capaz de livrar minha mente da tormenta de viver em um mundo onde eu sou a última esperança.

As coisas foram particularmente difíceis nos últimos dias. Dias ruins seguidos de dias ruins. Vivi, junto com meus companheiros, a maior das provações até agora. Vi pessoas sucumbindo, vi a desilusão e peso dos olhares daqueles que sentiram o fim se aproximando. Contudo, em nenhum momento eu e meus amigos desistimos, chegamos muito perto disso, mas nos reerguemos mesmo quando tudo estava contra nós e o nosso pequeno alicerce nos foi tirado.

Dor. É o que sinto agora. Dói na alma lembrar de tudo isso. Porém não posso deixar a dor me dominar. O pesadelo me tirou a paz de espírito e descanso é tudo o que quero no momento.

Beatriz está de pé ao meu lado, observando-me. Mergulhado em devaneios nem percebi quando ela chegou aqui. Sem olhar em seus olhos, toco o chão ao meu lado para ela saber que a quero ali. Obediente, ela senta ao meu lado. Quando viro-me para admirá-la sou surpreendido pelo seu olhar penetrante que reflete todos os meus temores e toda a minha força. Ela ainda continua a mesma, mesmo depois de tudo, e isso me revigora.

— Acordei e não encontrei você no seu quarto, algo me dizia que podia te achar aqui — ela diz e sorri, na sua melhor tentativa de me animar neste dia nada especial. — Aliás, feliz aniversário.

— Obrigado — respondo apenas, desanimado.

— São os pesadelos de novo, não são? — Ela pergunta, mas já sabe a resposta.

— É sim, mas agora as coisas mudaram outra vez. — Ela não desvia os olhos de mim e, apenas com o poder do olhar, tira da minha boca as palavras que ficaram engasgadas dentro de mim desde que acordei. — Acho que encontrei um significado neles, Bia. Acho que descobri o que esses pesadelos são.

Bia afasta uma mecha do seu cabelo imaculadamente preto para trás da orelha e chega um pouco mais perto de mim, para ouvir o que tenho a dizer. Mas esta ainda não é a hora de falar sobre o que aconteceu ontem ou o que pode acontecer hoje.

A história que você vai conhecer agora é real, é a história de Alex e não de Alexandre. E tudo isso começou há um mês atrás.

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Em 2018 postarei a nova edição desta história, aguardem!