Decisão

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Quase duas semanas se passaram desde que Raku partiu após uma declaração misteriosa e enigmática. Desde então, ele não deu sinal de vida. O vazio da sua ausência persistia, e minha mente girava em torno das palavras obscuras que ele proferiu. Será que Raku estava zangado comigo? Essa incerteza corroía meu coração, transformando meus dias em uma busca incessante por respostas.

Meu irmão mais velho, Aoi, tornou-se meu pilar nesses dias turbulentos. Ele enfrentava bravamente os problemas familiares, mantendo-se firme contra as brigas constantes dos nossos pais. Entre a tensão em casa e a ausência de Raku, a normalidade parecia um conceito distante.

Hoje, um sábado gelado do final de junho, encontrei-me sem nenhum plano. Aoi, com seu jeito brincalhão, invadiu meu quarto, rompendo a solidão que se instalara desde a partida de Raku.

— Oi, feia. — Aoi sorriu, e eu não pude deixar de notar o quão incrivelmente bonito ele estava na penumbra do meu quarto.

— E aí, ridículo. — Nossas brincadeiras, tão típicas entre irmãos, agora ganhavam um significado mais profundo. Era como se essas palavras simples fossem um antídoto para as complexidades da vida.

Aoi, sempre ocupado com seus próprios desafios, falava sobre amigos e compromissos. Entre essas histórias, surgia o nome de Edward, uma presença constante em suas narrativas. Meus pensamentos vagueavam, buscando entender o que as relações dos outros poderiam revelar sobre as minhas próprias experiências.

— Você tem uma namorada, né? — Perguntei, desviando a conversa para Aoi. A curiosidade sobre sua vida amorosa surgiu como uma forma de escapar dos meus próprios dilemas.

— Namorada? — Aoi desviou o olhar, revelando uma surpreendente hesitação. — Bem... er... sabe...

Eu não podia deixar de admirar a beleza que irradiava dele, mesmo nas situações mais simples.

— CRIATURAS, VEM COMER! — A mãe nos chamou para o jantar, interrompendo qualquer possibilidade de obter uma resposta sobre os intricados relacionamentos de Aoi.

Após o jantar, a noite desdobrou-se em um cenário tranquilo, onde Aoi e eu compartilhamos a sala, mergulhados em nossos próprios mundos. Aoi estava entretido com seu celular, enquanto eu buscava refúgio nas palavras de um livro. A quietude do momento era quebrada apenas pelos sons suaves da noite.

No entanto, a paz foi abruptamente interrompida quando o celular de Aoi começou a tocar. Uma chamada de "Ed ♥" apareceu na tela, provocando minha curiosidade.

— Aoi, criatura, acorda. Seu celular. — Cutuquei meu irmão, que parecia imerso na ligação.

O diálogo entre Aoi e Edward permaneceu um mistério para mim. O tom entusiasmado de Aoi e a menção de "beijos" indicavam uma conversa íntima. Uma sensação fugaz de desconfiança pairou no ar, mas logo me forcei a afastar tais pensamentos.

— Beijos é? — Comentei, provocando Aoi após a ligação.

— Er... o... que... que... é... tem? — Aoi gaguejou, um rubor tingindo suas bochechas.

— Nada. — Respondi, deixando a questão de lado. Parecia que cada membro da família tinha seus próprios segredos.

A conversa tomou um rumo mais sério quando Aoi me lembrou da nossa iminente mudança. Uma semana separava-nos da partida, e a resolução dos conflitos com Raku tornou-se uma prioridade urgente.

— Resolva as coisas com o Raku logo. — Aoi, normalmente descontraído, expressou preocupação em sua voz. Seu apoio era um farol em meio à tempestade emocional que enfrentava.

Uma semana. O prazo curto para reconciliação com Raku pairava sobre mim, como se o destino brincasse com meu coração já atribulado. Decidi que, no dia seguinte, visitaria a casa de Raku. O domingo se tornaria um palco de reencontro ou despedida.

Na manhã seguinte, despertei por volta das 12:45. Amanhã era um novo dia, e a decisão de enfrentar Raku estava firme em minha mente. Vestindo-me rapidamente, mentalizei os passos que daria em direção à resolução, mesmo que o receio persistisse.

Ao chegar à casa de Raku, uma tensão palpável envolvia o ambiente. O toque na porta ecoou como um batimento acelerado do meu coração. Raku abriu a porta, seus olhos revelando uma mistura de surpresa e ansiedade.

— Raku, precisamos conversar. — Minhas palavras soaram decididas, mas minha expressão denunciava a vulnerabilidade que escondia por trás delas.

Foi tudo culpa suaOnde histórias criam vida. Descubra agora