SONHOS

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Tudo estava calmo, Malu ria em algum canto, a gargalhada da garota invadia todos os espaços, a claridade invadia o apartamento, o piso de madeira brilhava de um modo que nem parecia real, a porta aberta era um convite, a garota sentada no chão em cima de um tapete felpudo, Liz falava qualquer bobagem e a criança ria sem pudor algum, Bruna estava lá encostada na parede assistindo a cena e de repente uma música, não fazia qualquer sentido aquela música. Ela continuava tocando e tocando...

- Ah! – Dora desligou o despertador e abriu os olhos com uma imensa dificuldade, ainda pensando no próprio sonho – Que loucura – repetiu baixinho para si mesma.

Coçou os olhos, se espreguiçou e relutou, mas tinha que se levantar, já passava das 10h e ela precisava buscar a filha na casa dos pais, encarar os olhares do Seu Luiz. Coçou a cabeça, passou a mão no rosto, ainda lembrando do sonho estranho, juntou a pouca coragem que lhe restava e levantou.

Enquanto se arrumava e se preparava para sair, o sonho lhe invadia a mente, as risadas, as duas ali, tudo era tão real e ao mesmo tempo surreal que Dora não sabia o que fazer com o que havia visto, mesmo que em sonho. Balançava a cabeça como quem reprovava a brincadeira que a própria mente lhe fez, respirava fundo e pensava em Bruna. Ela de novo. Ela mais uma vez. Não acreditava que pudesse ser invadida, por ver Liz uma só vez e numa situação tão aterradora, com pensamentos sobre Bruna.

A tela do celular brilhava enquanto ela procurava a chave na imensa bolsa, a curiosidade pelo que poderia ter ali era maior do que a vontade de encontrar a chave que insistia em se esconder. "Dora, você almoça com a gente?" era uma mensagem da própria mãe no grupo da família, riu da escolha inusitada de emojis que não faziam muito sentido ali e se limitou a responder que sim, que estava a caminho. Ao pensar nos assuntos do almoço seu estômago se retraiu de pura ansiedade, sabia que o acidente voltaria, que Liz voltaria ao foco da família. Fechou os olhos sentindo toda a angústia da situação previamente e como um raio a lembrança veio...

- Em cima da mesa da cozinha! – gritou para si mesma e correu para buscar as chaves perdidas.

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Ao chegar no apartamento dos pais, Dora foi recebida por uma Malu bastante animada, beijos e abraços que duraram segundos e logo a menina correu para um livro de colorir na pequena mesa que tinha ganhado da tia em algum Natal não tão distante.

- Minha filha... – a mãe a recebeu – Quais as chances, hein, de você ver o acidente e... – a mãe foi interrompida pelo marido.

- Dora, como foi isso? Carol contou que foi uma loucura. Como a Liz está?

Nem bem tinha tirado a própria bolsa dos ombros e já tinha pelo menos três perguntas a responder e provavelmente delas viriam outras tantas, mas pelo menos não teve que lidar com um pai irritado e chateado por não ter chegado na hora ou cumprido os acordos estabelecidos.

- Oi gente... bom dia. Liz está no hospital ainda, pai – abriu o aplicativo de mensagem para ver se tinha novidades sobre a condição de Liz – E ela está bem, vai fazer alguns exames, mas já quer ir pra casa – abriu um sorriso pensando na revolta da paciente em ficar mais tempo no hospital – Eu não entendi direito também como foi o acidente, foi tudo rápido, eu...

- Eu nem quero pensar sobre isso – disse uma Carol de pijama – Fico nervosa só de pensar em como tudo mudou num segundo – e se jogou na cadeira.

- Eu falo pra vocês que tem que ter cuidado, que as pessoas estão...

- LOUCAS NO TRÂNSITO – Carol e Dora completaram a frase e riram juntas.

- E como tá o Thiago, Carol? Não consegui ainda falar com ele direito – Dora perguntou.

- Está bem. Diogo ia lá hoje, então eu estou livre – fez aspas com as mãos – Do meu plantão de enfermeira – Carol respondeu enquanto passava os dedos no jogo americano com uns farelos de pão.

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