A dor vai fechar esses cortes

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Hoje há flores por todos os lados, flores por tudo que vejo.

Se algum dia presenciei a vista do topo da pirâmide simplesmente não me recordo o bastante para ter a sensação deleitosa de triunfo. O soro tem gosto de lágrimas, o corpo atravessa a margem entre deprimido e depressivo, a carne putrefaz e as flores tomam cheiro de morte. Quem dera-me ter te conhecido, de fato não tive tal sorte e hoje de nossos corpos restam apenas cortes.

    Mamãe rodopiava ao meu lado com o cigarro entre os dedos, as flores sobre mim floresciam e os meus pedaços de minha alma padeciam.

  Sobre a linha tênue da razão e emoção: eu dancei.

    Pé após pé a melodia fúnebre cobria os corpos, tal como não podemos enxergar o escuro, não sentimos o coração. Sentimentos não são palpáveis para que eu possa entregar na mão de cada um dos que agora me rodeiam sacos de sensações ínfimas, gostaria de que eles sentissem a culpa. Somente esperei que escutassem minha dor e mesmo em meio a gritos escandalosos, ninguém ousou tirar seus tampões.

     Acabei como um maldito animal. Abatido sobre a mesa, o prato principal de predadores anojosos. Titãs viciados em uma carnificina sem fim, dependentes do cheiro, do olhar, da dor.

   O animal não é intrinsecamente mal, a racionalidade o corrompe. O animal serve ao instinto primitivo, mas a racionalidade os torna perversos. Desejo que fossemos todos esqueléticos, obsoletos, criaturas sem nexo. Não somos complexos. Você apenas não é néscio o suficiente para entender como a vida se precede.

Aos escombros, você diz que me ama. Mas se realmente nos amássemos nosso amor seria feito de papel? Deus é nosso réu, o autor de todos os crimes. O coração dói, mas não o suficiente para parar de bater. Esse trabalho tive que fazer por mim.

        E se há algo que me contaram é que flores de plástico não morrem. Então como eu morri? Osaki Shotaro, você disse, você prometeu para mim.

flores de plástico não morrem.Onde histórias criam vida. Descubra agora