I
Pela quinta ou quarta vez, Sylf checou cada um dos bolsos de sua velha jaqueta. Os externos, internos e os escondidos. Queria ter a mais absoluta certeza que estava tudo no devido lugar. E como constatara das últimas quatro ou cinco vezes, realmente estava tudo no lugar. Os três tubinhos com: sedativo, glutationa e ecstasy estavam bem escondidos em bolsos debaixo de suas axilas e as seringas e agulhas estavam enfiados em costuras frouxas nas barras de sua jaqueta. Pensou em analisar mais umas vez os cálculos que tinha feito sobre a dosagem certa de cada um, mas não havia mais tempo, refazer de novo todos aqueles cálculos que fizera quase uma dezena de vezes tomaria todo o tempo que já não tinha, então tinha que acreditar que as doses estavam corretas. Sentiu-se quase completamente pronto para sair, apenas por um pequeno detalhe que tinha que resolver.
Foi até a pequena cozinha de sua nave e abriu uma pequena escotilha escondida sob o assoalho, revelando duas compridas pistolas de metal esverdeado fosco. Checou para ver se estavam carregadas e viu que estavam. Tirou as cuidadosamente do compartimento. Ele as adorava, eram edições raras de pistolas com projeteis venenosos, com toxinas autenticas de Voxys, aquilo ali podia dar cabo a quase qualquer coisa viva que respirasse, por isso eram proibidas em mais de cem sistemas diferentes, inclusive aquele. Apesar do risco, ele jamais se livraria delas, mas mesmo que quisesse muito, sabia que não podia caminhar com elas por ali, já que, além do sistema que estava, era estritamente proibido o uso de armas em Voluptatem, e Sylf já vira punições suficientes aos infratores dessa regra para saber que não deveria ser pego com uma arma, principalmente uma daquelas, por ali, mesmo sendo um dos funcionários do local. Ainda assim, ele sentia que podia precisar delas eventualmente se as coisas se complicassem. - O que esperava do fundo do coração que não acontecesse, mas não contava com a sorte. - Pensando nisso ele escondeu uma na cabine de comando sob o painel de navegação, facilitando seu acesso a ela, e a outra levou até seus aposentos, onde escondeu cuidadosamente sob os lençóis, bem na beirada, sentia que seria útil uma delas ali se...
- Sylf? - Uma voz metalizada o chamou pela campainha de sua pequena nave. - Está ai? Vamos logo, antes que fique tarde.
Sylf empertigou-se ao ouvir uma voz familiar. O que ele quer? Sylf se perguntou, torcendo para suas deduções estão erradas. Caminhou a passos rápidos a porta e deslizou rapidamente três dedos pelo sensor biométrico umas vezes até ele conseguir ler suas digitais. Merda de nave, como pode uma coisa única funcionar direito nisso ser o banheiro? Ele pensou, carrancudo. A luz delicada e leitosa de Juroux iluminava o rosto murcho e azedo de Yriu. Ah, não! Sylf lamentou consigo mesmo.
- Você não respondeu como mensagens. Não entendo porque tem a porra de um canal de comunicação se não o usa. E afinal onde achou essa jaqueta? Num lixão? Essa merda é horrorosa, Sylf.
- Quo-Hijx vai me acompanhar nesse turno...
- Ele me pediu pra trocar. - Yriu deu de ombros.
- Trocar? Mas...
- Se quer saber, ele não quis se justificar. - Yriu o cortou. - Ele também foi meio ríspido, não estava de bom humor, vai entender. - Ele deu de ombros. - Meu palpite é que era tudo fingimento pra ficar com aquela dançando do sexto salão, hoje é a folga dela, mas não conte a ele que sei sobre eles, sabe como ele é tímido. - Ele concluiu.
- Se não quiser ir não precisa, Yriu. Posso chamar um dos outros para...
- Já estou aqui. - Era impossivel terminar frases perto de Yriu, ele parecia ter uma navalha ao invés de uma língua na boca, devia ser por isso que o som era tão irritante também. - Me sentiria muito mais aborrecido de ter que voltar, sendo que já disse que iria. Veja, já me arrumei todo. E deixe de enrolação! já está pronto ou não?