Contos Vermelhos

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♥Seu cabelo longo e preto se rebelia no penhasco, seus braços estavam esticados fazendo-a parecer uma cruz, de repente ela se virou para mim, não dava para ver seu rosto, quando percebeu que eu a estava olhando esticou um dos braços para mim, mas mudou de ideia, recolhe-o e virou-se novamente, ficou na mesma posição por horas.
♥Virou se novamente e repetiu as mesmas ações de antes, e de novo, e de novo, como um DVD, que sempre volta.

♥Acordei com os barulhos da máquina a minha direita, o som era tão agudo que parece que depois de tantos anos nessa cama eu realmente estava ficando surda.
♥Levantei o braço a fim de pegar o telefone, e tive que fazer uma força enorme para ter coragem o suficiente de ultrapassar a dor, peguei-o e liguei para o número da recepção.
♥Uma torturante hora depois a moça veio, nem sequer olhou para mim. O que mais me chamou a atenção foi o avental que ela usava, pois continha sangue em uma quantidade de assustar qualquer um.
♥Pela a primeira vez hoje ela olhou para mim e disse entediada:
-Em uma escala de um a dez, qual é a sua dor?
♥Queria responder, ah, como eu queria responder, porém algo atrás dela me fez parar chocada.
♥A mesma mulher dos meus sonhos estava parada atrás dela e pela primeira vez pude ver seu rosto. Seus olhos verdes acastanhados tinham cílios curtos porém grossos, sua boca parecia até doentia, com uma aparência roxa, suas bochechas eram para dentro, como se tivesse passado anos sem comer, ela me olhava sem expressão.
♥De repente ela percebeu que eu estava ali, e sorriu, mas o sorriso não chegou nos seus olhos, era um sorriso frio e vazio, foi então que ela começou a chorar, mas continou com o sorriso.
♥-E então? Qual a sua nota?
♥Ela ergueu as sobrancelhas, e eu a olhei aterrorizada, sem fazer menção alguma de que ia falar, a enfermeira bufou e completou brava:
♥-Vocês são todos loucos! Vou me demitir não aguento mais! Fiz cinco anos de faculdade para parar aqui?! Ah, por favor, com licença!
♥Vi ela sair, fechando a porta brava, e rapidamente girei minha cabeça para a parede que a mulher dos sonhos ficava, mas ela não estava mais lá.
♥Fiquei olhando um tempão para o local onde a mulher do sorriso ficava, depois olhei para a janela, ela tinha grades, e parecia um pouco enferrujada, o sol passava com dificuldade, e do outro lado das suas barras um cemitério, era para os doentes, já vinha incluso com o pagamento, quando morriam iam parar lá, e era para lá que com toda a certeza eu iria, a doença já se apoderava quase toda do meu corpo.
♥ Por quê eu tinha que ter uma doença que não tinha cura? Por quê eu não podia ir para a escola como tantas outra adolescentes? Por quê a vida e a morte eram tão injustas comigo? O que eu fiz para elas? Uma lágrima escorreu pela minha bochecha, mas recusei todas as outras que também queriam cair. Tomei o remédio para dormir que eu não sabia que a moça tinha botado, e os meus olhos foram se fechando lentamente sem eu perceber.
♥E então algo me fez abrir os olhos...