Ganyu estava sentada em seu escritório após mais um dia cansativo de trabalho. Já era noite, mas por conta de seu sono desregulado, ela não estava tão sonolenta quanto normalmente ficava durante o dia.
Se sentiu solitária, como sempre ficava depois de terminar suas tarefas do dia, sozinha naquela sala tão grande. Ela pensava no que faria pela noite, quando escuta batidas. Sem esperar resposta, a porta se abre revelando a Viajante que viera lhe visitar. Ganyu sorriu.
A companhia da Viajante era sempre agradável, ela não falava muito mas escutava bem, e sabia apreciar o silêncio. Gostavam de observar as flores enquanto Ganyu explicava sobre a história de Liyue e do porto, da câmara de Jade ou de como se tornara secretária dos Qixing. A presença dela era sempre tranquila, quase tão relaxante quanto uma boa noite de sono.
Assim que se aproximou, Lumine colocou o pacote que levava na mesa em frente a Ganyu e observou enquanto ela abria os panos. Já não era tão incomum que fizesse uma visita à adeptus quando passava em Liyue, trazendo alguma comida para que ela não deixasse de jantar.
Se preocupava com ela, por mais que ouvisse que tudo estava bem, sabia que não era completamente verdade. E cuidar de Ganyu parecia quase natural, não é que não confiasse na capacidade dela, mas realmente gostava de ver ela bem. E sabia que Ganyu nunca recusaria algo vindo dela. Também gostava de discretamente observar Ganyu, seus trejeitos, sua expressão, suas roupas, tudo sobre ela. Observava suas curvas e o pouco da pele que a roupa revelava. Assistia ela comer e prestava atenção nos sons que ela fazia. E em sua voz, quando agradecia pela comida, no vermelho em seu rosto quando dizia que não precisava fazer isso por ela, e como ela desviava o olhar quando era respondida com "Mas eu gosto de cuidar de você."
Ganyu era muito bonita, apesar de ser tão velha tinha a aparência de cerca de 20 anos, talvez por causa da sua origem mística. Ela era tão atraente quanto humanos, e Lumine se perguntava o quanto dela era igual aos humanos. E então se pegava pensando se a adeptus teria partes íntimas humanas e seu rosto enrubescia enquanto ela tentava em vão cortar essa linha de pensamento. Mas, do ponto de vista evolutivo não faria sentido ela ter peitos se não pudesse se reproduzir, não é?
-Lumine, você tá bem? O seu rosto tá meio... - Ganyu tirou a Viajante de seus devaneios ao perceber ela ficando vermelha.
-Eu... tô sim, obrigada. - Ela pensou por um momento. - Eu tava só pensando... Ganyu, você já... você já gostou de alguém? Tipo, de namorar. Romanticamente.
-Ah? - Ganyu ficou surpreendida pela pergunta, mal conseguindo processar uma resposta. Ela olhou para Lumine, que havia desviado o olhar, mas logo o retornou e segurou o contato visual, com uma expressão que a adeptus não sabia decifrar. Ela logo percebeu que sua amiga não iria dizer mais nada, então teria que responder. - Bom, eu... eu não sei.
O escritório de repente pareceu muito silencioso. Ganyu só conseguia ouvir as batidas de seu coração acelerando, não estava tão certa sobre a resposta que dera, mas a viajante não parecia ter se afetado pela resposta. Na verdade, parecia ter ficado mais calma, mesmo não dizendo nada. Seria difícil dizer quanto tempo se passou enquanto as duas se olhavam em silêncio.
Sem dizer nada, Lumine se aproximou da cadeira onde a outra estava sentada, segurou o rosto de Ganyu com as duas mãos e aproximou sua cabeça à dela. Percebeu imediatamente as bochechas dela avermelharem e sua respiração se desestabilizar, o que fez com que ela própria também sentisse calor na face. Não sabia exatamente o que estava fazendo, nem sequer estava pensando nisso, apenas deixou que seu corpo comandasse suas ações.
-Já teve vontade de estar assim? Tão perto de alguém... - Pensou por um momento. - Ou até mais?
Dessa vez, ela não esperou por uma resposta. Aproximou-se lentamente para poder perceber qualquer reação e aceitou a falta de uma como um consentimento, beijando Ganyu. Se o cheiro dela já era tão bom, o gosto era ainda melhor. Ganyu era doce, mas não demais, e tinha a pele tão macia, que dava vontade de nunca mais soltar. Mas antes do que gostaria, Lumine se viu separando seus rostos para olhar nos olhos da outra.
Observou mais uma vez a adeptus sem deixar de se perguntar como ela conseguia parecer ainda mais bonita a cada vez que a via. Ela estava completamente vermelha e não tinha nem conseguido reagir, com seus lábios ainda entreabertos. Dessa vez olhava diretamente em seus olhos, incapaz de esconder a expressão de vergonha no rosto. O bom tipo de vergonha, era o quê Lumine esperava.
Ganyu finalmente se moveu, desviando o olhar para baixo e se inclinando para segurar o cachecol de Lumine com uma mão.
-Lumine... - Não sabia o porquê, mas, dessa vez, ouvir a voz dela dizendo seu nome parecia completamente diferente, como a sensação de um arrepio. E estar olhando ela de cima, inclinada na cadeira parecia um momento muito íntimo. - É... assim que você se sente?
A Viajante percebeu o olhar de Ganyu se levantar por um breve momento para encontrar o seu e rapidamente voltar para o chão. Ela sentiu vontade de fazer de tudo ali, naquele mesmo instante. Mas também queria levar seu tempo e aproveitar a companhia da adeptus.
Se agachou para ficarem na mesma altura e segurou a mão que estava em seu cachecol.
-Ganyu. - O nome soava ainda mais especial saindo de sua boca naquele momento, e Lumine sentiu que devia dizê-lo devagar, como se pudesse saborear cada letra. - Eu gosto muito de você. Eu gosto de você. Muito. Você quer continuar?
Segurou com certa força a mão da adeptus enquanto observava seu olhar se voltar para si. Viu seus olhos brilharem em várias cores ao mesmo tempo, enquanto tremiam tentando manter o contato visual.
Ganyu não sabia o que fazer. Sentia seu coração batendo tão forte que parecia que poderia saltar para fora a qualquer momento. Sentia o calor da mão de Lumine na sua, o conforto de seu toque. Sentia que o mundo inteiro tinha desaparecido e que só existiam as duas, ali, se olhando.
Era uma sensação que nunca havia conhecido antes, especialmente de uma forma tão intensa. Não conseguia se mover, como se tivesse perdido todo o controle de seu próprio corpo. Não conseguia nem mesmo abrir a boca para responder a pergunta da Viajante, que ainda esperava em silêncio.
Nem sequer sabia qual era sua resposta.
Então começou a observar a garota a sua frente com mais cuidado. Seus cabelos loiros, a forma como suas bochechas estavam avermelhadas, a mão que apertava a sua de um jeito firme, porém carinhoso. As flores azuladas que enfeitavam a cabeça, de uma espécie que ela não conhecia. Os olhos a traziam de volta quando as duas se conheceram e os momentos que passaram juntas e ela sentiu seu coração pular algumas batidas.
Não tinha dúvidas que ela era alguém de outro mundo. A companhia dela trazia tanto conforto que era como se, naquele momento, as duas fossem uma só. Não era possível dizer onde uma terminava e a outra começava, estavam completamente unidas.
Ganyu sentiu-se mais calma e finalmente pôde ouvir seu coração com clareza. Então fez a única coisa que parecia certa naquele instante, fechando seus olhos e beijando Lumine.
Não se importava com o que viria depois, com o que a razão dizia, com a madrugada que caía. Não se importava com mais nada além de estar ali, com ela, naquele exato momento.