Memórias de Uma vida de Cárcere

Saudade ( do que a gente não viveu )

E quem diria que haveria o dia de se arrepender,
De não ter aproveitado mais,
Aquele abraço casa, gostoso, forte e desinteressado ( ou interessado).
De ter feito cu doce demais para dar o primeiro beijo no amor da sua vida.
De ter feito charme e fingido desinteresse por aquela garota linda.
De não ter podido ter tempo de dar aquele beijo de respeito na testa.
De ter se conectado mais quando podia estar pele com pele sem medo.
De poder brincar de brigar com um sorriso de felicidade ao invés de preocupação.
De poder fazer cafuné, aquele que muda o dia da gente porque isto seria estar perto demais.
De esbarrar no outro sem querer e pedir perdão.
De alguém te segurar antes de cair ou te levantar com as mãos nuas.
Nunca pensamos sentir saudade,
De abraçar com os braços os abraços que a gente gosta,
De beijar os beijos doces que nos privamos de dar,
De fazer carinho nas mãos de quem a gente ama,
De poder estar a dez centímetros de distância e sentir a respiração um do outro,
De poder se juntar pra dançar todos num ritmo só, tão juntos quase um no outro,
De ir e vir sem preocupar em deixar as máscaras em casa e ser você mesmo.
De poder dar as mãos com aquele "Oi, tudo bem com você?"
E o medo de a resposta ser um "não, eu não estou bem!"
É saudade boba de compartilhar um filme ruim comendo pipoca.
De usar a roupa um do outro só porque você pode.
Saudade do que a gente esperava viver,
E não aconteceu.
Saudade do que não viveu,
Que deseja muito viver.
Saudade de poder matar a saudade,
Do mundo que a gente tinha,
Das pessoas que estão distantes,
De sentir o amor da forma mais física possível.
Saudade de viver a vida que era possível.
Esperança de matar a saudade das pessoas melhores que vamos nos tornar.
A saudade vem e vai o tempo todo.
Mas a esperança?
Ela fica até depois do fim.

___M.C.o

*Em tempos de pandemia a saudade era o sentimento mais presente, e não foi, nem é fácil.*