Capítulo 1

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Capítulo 1 - Parte 1

Guilhermina

Hoje

Minha respiração é entrecortada enquanto corro pelas ruas da cidade deserta. Está de noite, eu consigo ouvir uma linda e assustadora melodia, mas parece estar vindo de todos os lugares. Eu não sei porque estou correndo, mas consigo sentir o pânico atravessar o meu corpo, como uma faca cravada em meu coração me enviando adrenalina.

A noite parece tão assustadora, e quando eu tento gritar por ajuda, a minha voz parece presa na garganta, me desesperando. A sensação é terrível! Eu olho para trás, correndo entre os carros estacionados, em busca daquele que me fez mal. Mas... tudo o que eu vejo são apenas vultos da sua presença, como se ele não estivesse mesmo ali ou fosse algo sobrenatural. O meu coração que já estava assustado, começou a disparar tanto em meu peito que ficou difícil de respirar.

Eu queria gritar, buscar ajuda! Mas foi quando seus braços finalmente me alcançaram, me virando em sua direção, que meu corpo entrou em choque.

Eu não sabia o motivo, mas não queria ser pega por ele, e o seu rosto preto, como um vulto, foi o que mais me deixou horrorizada.

— EU TE ODEIO!

"CABRUM"

Senti o meu corpo pular, trêmulo e frágil ao som do trovão. Minha mente está uma bagunça, mas quando eu abro os olhos, me deparando com os meus braços enfaixados, ligados a uma máquina de monitoramento, eu sou pega de surpresa pela dor presente em minha cabeça que me faz gemer.

O que está acontecendo? Era um pesadelo?

Levanto a minha cabeça, me sentindo desesperada em meio ao caos que acontece na minha mente. O que eu estou fazendo aqui? Por que pareço doente em meio a tantos fios ligados a mim? E que lugar é esse?

Quando eu olho ao redor, eu me vejo num quarto. Através do vidro da janela me deparo com a penumbra da noite. A melodia continua persistente na minha cabeça, como um tormento para me lembrar do pesadelo.

Quanto mais eu tento raciocinar, mais sinto-me tonta, como se minha mente estivesse vazia. Mas o medo por não reconhecer esse lugar é o suficiente para me fazer levantar da cama, buscando por ar para os meus pulmões, como se fosse a primeira vez que eu estivesse respirando por mim mesma.

É tudo tão novo. As sensações estão me pegando de surpresa. Sinto-me perdida, amedrontada e fraca, porém é insuportável o quanto tento pensar, mas nada me vem à mente. Como se tudo estivesse vazio na minha cabeça... minhas lembranças, quem eu sou...

Sinto as minhas pernas fraquejarem ao tocarem o chão. Seguro na cabeceira da cama, tentando me manter firme. Talvez se eu andar pelo lugar, eu consiga reconhecer algo e assim me lembrar.

Mas quando saio do quarto, me deparando com o corredor, eu consigo ouvir claramente o som da chuva. Isso me faz lembrar que meu corpo só acordou com o choque do barulho do trovão.

Eu não gosto disso...

Enquanto caminhava, eu tentei reconhecer o lugar, tentei buscar no fundo da minha mente um pequeno rastro de lembrança, mas tudo o que eu podia era sentir. Apesar de tudo, o lugar me parece lindo e acolhedor, como a casa de alguém que deliberadamente tem dinheiro. Porém as árvores vistas ao fundo das janelas e portas de vidros me revelavam que não estava numa cidade.

Essa casa... onde eu realmente estou? Por que não consigo me lembrar dela, mesmo com um sentimento tão familiar?

Ao chegar no fim do corredor, eu estremeço ao me deparar com a silhueta de um homem grande sentado numa posição cabisbaixa no sofá. Seus ombros estão caídos, e a sua cabeça para baixo revela a sua preocupação. Não consigo descrever se são os meus olhos fracos, ou a falta de luz presente na sala, que estava sendo iluminada apenas pela noite, mas não estava enxergando nada muito além dele.

Quem é esse homem?

Por que estou numa casa com alguém desconhecido? O que estou fazendo aqui? Fui sequestrada? O pesadelo foi real?

Quando os meus olhos começam a se acostumar com a escuridão, mechas loiras são perceptíveis caindo pela sua testa. O seu rosto finalmente ganha um formato na minha cabeça, e eu arfo ao dar o meu primeiro passo em sua direção, como se estivesse hipnotizada por sua beleza. Como se... ele fosse me proteger.

O que é esse sentimento? Por que está tão intenso dentro de mim?

Antes que eu pudesse continuar, entorpecida e cativada por sua beleza, seus olhos se encontram com os meus, e isso faz com que momentaneamente eu me sinta desesperada. Eu não o conheço... mas seus olhos não dizem o mesmo. A minha presença parece deixá-lo surpreso, tanto que ele se levanta de rompante, me encarando como se eu fosse um fantasma e isso fosse demais para ele.

— Meu amor... — Foram essas palavras que saíram da sua boca, mas eu não consegui compreender.

Dei um passo para trás, assustada quando ele começou a caminhar na minha direção, com um sorriso se formando em seus lábios.

— Mina, minha linda. Ei... — A sua voz é como um âmago para o meu coração dolorido, mas... — Você acordou...

A minha cabeça parece protestar. E quando os seus braços me envolvem num abraço, eu gemo quando uma pontada na minha cabeça faz o meu corpo tremer.

O que está acontecendo comigo?

A minha visão começa a se tornar ainda mais tortuosa, como se eu estivesse a perdendo aos poucos. E enquanto me deixo ser abraçada por esse homem, eu sinto a minha consciência se esvair.

Mas em meio a tantos caos na minha cabeça, o mais insuportável é não conseguir pensar muito além. O mais insuportável é olhar para as minhas próprias mãos e não as reconhecê-las.

Difícil mesmo, é sequer saber quem eu sou...




REVERSO - A SOMBRA DE UM PASSADO - (RETIRADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora