Capítulo único

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Tenho uma teoria que diz que se você já passou dos 25 e continua no pique festeiro de todo fim de semana, você precisa ser estudado. Bom, acho que só por aí já deve ter dado pra perceber que eu não sou muito de sair pra essas coisas, e também que fins de semana não costumam ser muito especiais pra mim. Sendo sincero, não era como se eu tivesse uma vida social ativa ao ponto de comemorar a ideia de ir parar num bar depois do expediente e só voltar pra casa depois de estar bêbado o bastante pra esquecer meu nome, porque eu nem ao menos tinha energia pra considerar isso.

Mas aquele sábado seria um pouco diferente, de certa forma. Se eu ia sair pra beber? É claro que não, porque ficar até tarde na rua estava fora de cogitação — especialmente naquele frio de inverno. De qualquer forma, mesmo com as temperaturas baixíssimas, eu estava tão exausto que era capaz de eu pegar no sono nos primeiros cinco minutos, e daí Namjoon, que por acaso é meu melhor amigo, teria que praticamente me colocar em cima do ombro e me carregar pra casa. O fato é que eu não estava afim de ter que passar os próximos dez anos ouvindo qualquer piada envolvendo meu nome e o fato de eu estar muito cansado pra curtir uma cerveja num boteco qualquer, então, ainda era melhor evitar ser conhecido como "Yoongi, o que dorme no rolê" ou coisa do tipo.

Acontece que Namjoon tinha me mandado um anúncio sobre uma feira de adoção de animaizinhos que, veja bem, estava marcada pra aquele fim de semana no shopping próximo do prédio onde eu moro. E eu, que já tinha recusado no mínimo dez propostas do meu amigo pra dividir um aluguel e ainda assim achava que morar sozinho numa cidade grande era uma experiência muito solitária, não pensei duas vezes antes de decidir que precisava de um bichinho pra me fazer companhia. Eu não passava muito tempo fora de casa, já que felizmente podia trabalhar como designer em home office, então teria bastante tempo pra dar a um animalzinho a atenção e os cuidados necessários.

Sendo assim, aquele fim de semana pareceu bem mais alegre que o habitual, já que o ponto alto do sábado seria visitar a feirinha e, com sorte, eu voltaria pra casa com uma companhia para encher de carinho. Eu tinha trabalhado até a hora do almoço como já era de costume no último dia da semana, e saindo de casa às duas da tarde, ia dar pra chegar na feira de adoção bem antes de ser encerrada, às cinco. Eu podia até reclamar do fato de ter uma vizinhança barulhenta ao ponto de me tirar a concentração durante o trabalho, mas morar próximo ao shopping tinha um lado bom. De toda forma, enrolar não era a melhor coisa que eu poderia fazer, porque quanto mais cedo eu chegasse lá, maiores eram as chances de também voltar cedo pra casa e evitar a friagem das noites de inverno.

E foi com o pensamento em todos os bichinhos fofinhos que eu poderia encontrar na feirinha que eu fiz meu percurso até o shopping. O caminho tinha me parecido menor do que realmente era, porque minha cabeça não estava focando no fato de eu estar na rua e, se quer saber, eu nem ao menos tinha me sentido incomodado por isso. O que, convenhamos, já era uma grande coisa pra alguém que não gosta tanto assim de lugares muito movimentados e procura evitar qualquer estresse sempre que tem a oportunidade.

Diferente da rua, a feira de adoção não tinha tanto movimento assim. Provavelmente a maioria das pessoas já tinha feito sua visita pela manhã e adotado algum animalzinho, e certamente mais gente ainda chegaria pra fazer o mesmo. Não restavam mais muitos bichinhos, pelo que me parecia, o que me deixava feliz em saber que muitos cachorrinhos e gatinhos já tinham encontrado um lar para morar. E eu estava disposto a dar uma casa, cuidados e muito amor pra um dos que ainda estavam esperando pela adoção.

Felizmente, eu não era o único com essa ideia. Enquanto eu passava em frente às gaiolinhas com gatinhos e cachorrinhos, todos parecendo dizer "me escolhe, me escolhe!" à sua maneira, outras pessoas faziam a mesma coisa, e por isso eu imaginava que todos aqueles bichinhos encontrariam um lar também — coisa que me tranquilizava. Bem, eu queria poder levar todos eles pra casa, mas não teria espaço o bastante pra acomodar tantos cachorros e gatos assim.

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