Durante toda a minha vida eu passei viajando. Filha de um capitão de uma das maiores embarcações de sua magestade, e da costureira particular da rainha. Era difícil eu passar mais de um ano no mesmo lugar, se não era acompanhando o rei e a rainha, era acompanhando seu filho, da mesma idade que eu, Peter. Nós crescemos juntos, praticamente enquanto minha mãe me alimentava em um de seus seios, no outro era Peter. Mesmo não tendo um lar, eu tinha uma rotina, fixa. Pelo menos era assim até minha vida toda começar a desmoronar aos poucos. Quando Peter fez 12 anos ele precisou ficar no convento de San Juan, para iniciar sua formação da realeza. Quando eu fiz 14 anos, minha mãe pegou a doença da peste , ela demorou meses e meses de sofrimento, até morrer. Tivemos que voltar para o palácio real, pois minha mãe era considerada como uma Lady, e era obrigatória ela ser enterrada como tal. Eu estava aguentando,eu precisava aguentar, mas foi uma semana antes de eu fazer 16 que toda a minha vida mudou. Eu estava no navio do meu pai quando ele foi saqueado. Na verdade, atacado, por piratas. Eu lembro do som da explosão , vi lentamente a imagem do meu pai sendo atingido em cheio pela bola do canhão e logo meu corpo se chocar contra o mar. Eu acordei acorrentada, presa dentro do mesmo navio que havia matado meu pai e todos que eu conhecia. Mesmo implorando para todos que eu era uma serva do reino, fui feita como escrava para meus sequestradores. E assim eu estou até hoje, 6 anos depois, com meus 22 anos, eu uma serva da Inglaterra, como escrava na Escocia.
Eu levantava antes do Sol aparecer, dava comida para os animais, colhia algumas verduras, plantava o que tinha pra plantar. Depois de alguns anos fazendo a mesma coisa, e já sem esperança de escapar, eles acabam confiando em você, e facilitam sua vida.
—Claire — Virei -me para trás quando escutei alguém me chamando pelo nome. Era a pequena LiliBeth, de 4 anos, a filha de meu sequestrador. Caminhei até ela, pegando ela no colo.
—O que você está fazendo aqui fora? Volte a dormir.
—Eu quero te ajudar, quero ser igual você quando eu crescer —O sorriso de LiliBeth foi de uma orelha até a outra. Coloquei ela no chão e olhei em seus olhos .
—Reze, para que isso nunca aconteça, você tem grandes coisas para fazer em sua vida , e ser escrava , não é uma dessas.
LiliBeth se levantou e caminhou até a horta onde eu estava trabalhando, ela se agachou e viu uma cenoura que eu já tinha começado a tirar da terra. Ela puxou a cenoura tão forte que vários bolos de terra foram para cima dela. Eu corri quando vi aquela cena, tentei limpar ela ao máximo que eu pude, mas ela começou a rir, como se aquela experiência fosse única e memorável em sua vida. Me agachei ao lado dela , soltei uma risada. Era a primeira vez em muitos meses que eu sorria, mas nossa atenção foi desviada quando escutamos o ranger da porta, eu puxei LiliBeth pelo seu braço, para fazer ela se levantar. O pai dela estava saindo pela porta. Me levantei e abaixei minha cabeça para ele. Ele olhou para LiliBeth.
—Papai, não foi culpa dela . Eu que pedi .
Eu nem pude ver a reação de LiliBeth quando o Karl me deu um murro. Como eu já sabia como ele era, rapidamente eu me ajustei , na frente dele, pronta para receber outro murro, mas LiliBeth entrou na minha frente.
—Por favor papai. Já chega. Ela não teve culpa.
Karl segurou pela mão de LiliBeth e a puxou para dentro de casa. Sentei na terra, observando o Sol nascer e junto com ele seus raios refletindo na imensidão do mar.
Depois de algumas horas trabalhando no sol quente, sem comer nada. Notei uma correria dentro da casa de Karl. Seus homens, homens que haviam me sequestrado anos atrás estavam correndo, descendo o montanha, indo em direção da praia.
—Claire!—O grito da senhora, mae de LiliBeth, Mary. Me fez correr para dentro da casa no mesmo instante. Eu entrei, ela estava toda arrumada, com seus vestidos mais novos que ela tinha, roubado isso sim —O que você achou?