Capítulo 19

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Incomodo, era o que ele sentia. De fato, um aperto estranho no coração tomou conta e era impossível pregar os olhos. Ele ainda pensava na recusa de Elizabeth. A recusa em ser dele, somente dele. Era isso que ele devia ter dito. Que ele a desejava como sua esposa, mas que fosse dele para toda vida. Amor? Era algo que o assustava. Ele não queria sentir o que Bingley sentiu ao ser recusado por Jane Bennet. Ele temia o sentimento mais do que tudo. Ainda mais por seu pai ter amado tanto sua mãe e ela nunca ter lhe dado qualquer sinal de afeto. Eles eram um casal amigável. Era somente isso que se lembrava. E sua mãe havia morrido cedo, quando ele completara quinze anos. Seu pai veio a falecer quando ele tinha a idade de vinte um anos. Mas, ele nunca notou qualquer sentimento de tristeza no falecido senhor Darcy. Na verdade, ele era tão sério quanto o filho. Mas, uma vez, uma única vez, notou o olhar desesperançado do senhor Darcy, ao sair de um comodo que sua mãe estava. Ele ouvira a conversa entre os pais. O senhor Darcy havia acusado a esposa de não ama-lo. E ela disse que sim, o amava muito, mas que ele era tolo demais para perceber qualquer coisa. Eles discutiram e nesse ponto da conversa, ele a acusou de ser infiel. A mãe de Darcy ficou tão irritada, que jogou alguma coisa contra a parede. Como Darcy estava do lado de fora, no corredor, ele não sabia o que era, mas nunca ouviu sua mãe menos do que uma dama calma e placida. Foi a primeira e única briga que presenciou dos seus pais. E a partir daquele dia ele decidiu que jamais iria entregar seu coração se era para ter ele partido.

Darcy suspirou, desalentado. Ele disse a si mesmo que nunca se apaixonaria, mas ali estava ele, confuso e indefeso, deitado em sua cama, de barriga para cima, encarando o teto. Sua cama não era de dossel, o que deixava o quarto bastante iluminado. A luz de fora incidia pelas frestas da cortina, mesmo sendo noite. Fazia horas que ele havia deixado Elizabeth na casa dos Gardiner. Elizabeth. Ele pronunciou seu nome no silêncio do quarto. Dizer seu nome era como pudesse invoca-la, torna-la tangivel para ele. E o desejo que sentia por ela o incendiou por dentro. Ele mal conseguia raciocionar quando pensava nela, quando ansiava por ela. Era estranho, pois não conversara tanto com ela. Mas, se fosse sincero, desde que a viu indefesa pela primeira vez, ele sentiu-se atraido por ela, engolfado por sua beleza e por suas maneiras tão peculiares. Ele sentiu vontade de tocar em seus cabelos soltos e castanhos. Sentiu vontade de beija-la até que ela perdesse os sentidos em seus braços. Queria tocar as suas curvas, com suas mãos, deixando-a enloquecer e pedir mais dele. Era algo indecente de se pensar com uma dama bem nascida. Mas, era algo que ele não conseguia conter dentro de si. O desejo estava inflamando dentro de si e o deixando em estado delirante.

Ele precisava tê-la de alguma forma. Não estava mais se importando com seus status, nem com a fortuna, nem com seu bom nome e nem se queria proteger seu coração do amor. Ele deseja dar a Elizabeth todo o amor que ela merecia. Contudo, não sabia por onde começar. Ela era tão teimosa e voluntariosa. Sabia debater como nenhuma dama fez em sua presença. Ela era tudo que ele desejou em uma mulher. Tudo que não sabia que desejava. Ele sempre acreditou que queria uma dama prendada, que soubesse tudo sobre etiqueta e que fosse rica e com uma boa família, para dar exemplo a Georgiana. Mas, na verdade, ele estava esperando por uma mulher desvatadora, como Elizabeth, que o deixava com os sentimentos a flor da pele. Esperava pela paixão que ela provocara. Esperava por uma mulher que não concordasse com ele, mas que debatesse sobre o que ela acreditava como certo. E esperava por uma dama que não o desejasse pelo dinheiro e com certeza, Elizabeth se encaixava nesse pré-requisto. Ela não o queria pela fortuna, mas pelo amor. Então, ele a faria ama-lo e conquistaria seu coração. Pois, ele já a amava e não havia mais como negar seus sentimentos.

*

No dia seguinte, Darcy acordou antes do sol nascer. Ele precisava providenciar algo para oficializar o pedido de casamento com Elizabeth. Foi até a joalheria e encomendou um anel de noivado. Afinal, ele não queria dar a aliança que era da sua mãe, como pretendia fazer desde o início. Ele queria dar o que ela havia dito que gostava. Um anel solitário, com uma safira encrustada, com pequenas pedrinhas de topazio ao redor no anel, que seria de ouro. Ele tentou pensar no tamanho e esperava ter acertado, pois Lizzy parecia ter o mesmo de mão de Georgiana. E ele tomou a liberdade de pegar um anel dela, emprestado, sem que ela visse. Depois, iria devolver.

Perdida no século XVIII - Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora