Capítulo 7

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Sentia o sangue ferver em minhas veias enquanto andava em passos pesados em direção ao quarto da casa abandonada. Matar aquela vagabunda não fora o suficiente para aplacar o ódio que eu sentia por ter sido obrigado a criar mentiras sobre Eduardo.

Bruno gemeu sem forças ao me ver atravessar a abertura que algum dia sustentou uma porta. Seu corpo pendia em pé sendo mantido apenas pelas algemas presas na grade, filetes de sangue eram visíveis descendo de seu pulso e seu ombro parecia estar deslocado torcido em algum ângulo não natural. Aquele puto tinha tentado se soltar? O olhar exausto em seu rosto deixava claro que ele não foi capaz de descansar nenhum pouco durante o tempo em que estive fora, um zumbi aparentaria mais vida do que aquele verme. Em sua calça era possível ver uma grande marca molhada que descia em direção a uma poça que repousava em seus pés.

- Filho da puta! - Gritei enquanto jogava a mochila para o canto oposto do cubículo. - Imundo do caralho!

Retirei de meu bolso o canivete onde havia limpado as unhas de Júlia, liberei sua lâmina apertando o botão em seu cabo e a enfiei inteira em seu trapézio. A resistência de seu músculo se provou maior do que imaginei tornando a entrada da faca um pouco lenta e me obrigando a usar mais força do que achei que seria necessário em alguém de aparência tão frágil. O garoto soltava um grito contínuo abafado pela mordaça imunda enquanto se debatia de dor e agonia com o objeto afiado rasgando sua carne lentamente. Uma bela cachoeira de lágrimas escorria de seus olhos enquanto eu girava a maldita lâmina em sua carne abrindo um buraco cada vez maior.

- Eu avisei que não queria essa merda fedendo ainda mais, lixo do caralho. - Deixei o canivete cravado em seu corpo e me afastei ofegante e satisfeito. - Vou ter que gastar a água que eu trouxe pra você e tentar lavar essa porra.

Caminhei até a mochila e retirei uma garrafa de um litro de água mineral que eu havia comprado. Abri a garrafa e observei os olhos de Bruno brilharem de desejo, seus lábios secos deixavam evidente a sede que o garoto sentia. Segurei a garrafa em sua frente por alguns segundos antes de despejar seu líquido no chão sobre a poça, assim que as primeiras gotas respingaram em mim parei de jogar a água de tão longe e me abaixei para joga-la de perto sem que aquela coisa me molhasse. Antes que eu percebesse a garrafa já havia ficado vazia. Eu sabia que não seria o suficiente para me livrar do cheiro, mas tinha a esperança de que pelo menos diminuísse.

Respirei profundamente e passei a mão nos cabelos jogando-os para trás. Olhei nos olhos de Bruno apreciando o desespero que os preenchiam, era delicioso observar o constante pavor que ele mantinha enquanto esperava que eu o machucasse novamente. Será que ainda nutria alguma esperança de ser solto ou já havia aceitado que morreria naquele lugar a qualquer momento?

Retirei a mordaça de sua boca e continuei o observando. Ele não emitia som nenhum embora não parasse de soluçar parecendo ter constantes espasmos enquanto chorava copiosamente. A cada novo soluço uma careta se formava em seu rosto, provavelmente devido a alguma dor em seus machucados.

- Matei a Júlia pouco antes de vir para cá. - Minha voz soou como se eu dissesse que havia encontrado um conhecido no caminho. - Foi a primeira vez que matei algo que não fosse, literalmente, um inseto.

Os olhos do garoto algemado em minha frente se arregalaram e encheram com aquela incredulidade de quando temos a esperança de que algo seja mentira porquê a verdade seria terrível demais para ser concebida. Seus lábios secos começaram a se abrir tentando emitir algum som, mas ele não parecia saber ao certo quais palavras estava tentando formular. Por alguns segundos, talvez um minuto ou um pouco mais, Bruno permaneceu parado daquela forma como uma estatua em representação de desespero e pavor.

- V-Você... matou... - Ele gaguejava com a voz rouca fraca sendo emitida com esforço pela garganta seca. - Por quê?

- Aquela puta começou a fazer perguntas sobre o seu desaparecimento e a insinuar que eu poderia saber de algo ou ter algo a ver com isso. Se eu deixasse aquela vadia viva não demoraria até alguém descobrir sobre esse lugar e a policia aparecer aqui. - Senti um leve sorriso se formar no canto de meus lábios. - Não seria horrível se alguém interrompesse nossa diversão?

- Seu monstro do caralho. - A voz de Bruno vacilava entre os soluços, mas ainda era evidente o ódio crescente.

- Sabe o que foi melhor? Foi fácil conseguir uma oportunidade de acabar com sua amiga. Só precisei fingir que queria foder aquela vagabunda e ela facilitou todo o processo. Vocês realmente são dois putos fáceis de enganar.

- Filho da puta! - Ele gritou mais do que eu já havia conseguido fazê-lo gritar quando o machucava. O ódio estava começando a lhe dar forças.

Bruno começou a se debater tentando usar seu resto de força para se soltar em algum tipo de esperança ridícula de que seria capaz de se vingar pelo que eu fiz com Júlia. Seu ódio havia se tornado tamanho que ele não parecia sentir a lâmina afiada se movimentando e rasgando cada vez mais sua carne. Aquela foi a primeira vez que imaginei que ele seria capaz de tentar se defender. Esse era o segredo para fazê-lo ser algo além de uma estatua vida?

- Ela lutou um pouco sabia? - Tirei meu moletom preto e estendi os braços para Bruno mostrando os arranhões. - Diferente de você que me obedece como um cachorro adestrado.

Bruno se debatia cada vez mais e me xingava fazendo ameaças vazias sobre a polícia me encontrando e sobre como "pessoas como eu" sofrem na prisão sendo vítimas dos outros detentos. Parecia uma criança repetindo as histórias assustadoras contadas pelos pais na intenção de manter os filhos longe de crimes. Por um segundo senti vontade de solta-lo para vê-lo tentar me machucar.

- Caralho, você é insuportável sabia? Talvez eu deva arrancar logo sua língua pra ver se você fica calado um pouco. - Senti meu corpo vibrar com a ideia de obter silêncio dessa forma. Desisti dessa ideia, por hora, e segurei o rosto de Bruno com força o suficiente para impedir que ele movesse qualquer coisa além de seus olhos. - Eu não vou ser preso. Quer saber o que vai acontecer? - Eu sussurrava as palavras de forma clara e ameaçadora enquanto olhava no fundo de seus olhos lacrimejantes. - Eu vou fazer tudo o que eu quiser com você e assim que eu enjoar vou livrar o mundo do lixo que você é. Vou sumir com esse seu corpo inútil e, se realmente for preciso, eu me mato assim que a polícia vier me prender.

Ele respirava de forma descompassada e pesada enquanto me encarava com um misto de medo e ódio brilhando em seu olhar. O medo retornava aos poucos enquanto eu mantinha meus olhos fixos nos seus. Suas lágrimas molhando meus dedos me faziam ter vontade de apertar seu rosto cada vez mais forte e descobrir até quando ele aguentaria sem me implorar para parar. O ar fétido e levemente metálico que saia de sua boca enquanto ele respirava tornava desagradável manter meu rosto tão próximo, mas eu não arriscaria me afastar e perder o prazer de observa-lo naquele estado.

Não consegui entender ao certo o que Bruno tentou fazer, mas pude senti-lo tentar jogar sua cabeça para frente com força. Talvez ele estivesse tentando me dar uma cabeçada ou estivesse tentando se livrar de meu aperto, mas a força que ele utilizou mal fora suficiente para se mover. Em resposta a sua tentativa de reagir empurrei sua cabeça contra a grade atrás de si com toda a força que consegui empregar no momento e observei-o lentamente perder os sentidos com o impacto e voltar a ficar pendurado pelas algemas em seus pulsos.

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⏰ Última atualização: Dec 15, 2022 ⏰

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