20.O Deus da guerra nos obriga a comprar tacos

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P.o.v. Bianca di Angelo

Depois de montarmos o javali seguimos até o pôr do sol. Não demorou para descobrir que cavalgar um javali era parecido a cavalgar uma escova de aço gigante sobre um leito de cascalho o dia todo.

Não tenho a menor ideia da extensão que cobrimos, mas as montanhas desapareceram na distância e foram substituídas por quilômetros de terra plana e seca. A grama e os arbustos foram ficando mais esparsos até que estávamos galopando pelo deserto.

Quando a noite caía, o javali parou no leito de um riacho e resfolegou. Ele começou a beber a água lamacenta, então arrancou um cacto do chão e o mastigou, com espinhos e tudo.

–Aqui é o mais longe que ele irá - disse Grover. - Precisamos descer enquanto ele está comendo.

Ninguém precisou ser convencido. Deslizamos pelas costas do javali enquanto ele estava ocupado, arrancando cactos. Então nos afastamos.

Depois de seu terceiro saguaro e outra golada de água lamacenta, o javali guinchou e arrotou, então deu meia-volta e galopou de volta ao leste.

–Ele prefere as montanhas- Percy comentou.

–Não posso culpá-lo- disse Thalia.- Vejam.

À nossa frente havia uma estrada de duas pistas quase coberta de areia. Do outro lado da estrada, via-se um grupo de construções pequeno demais para ser uma cidade: uma casa fechada por tábuas, uma lanchonete mexicana que parecia não ser aberta a éons , e uma agência de correios de estuque com uma placa em que se lia GILA CLAW, ARIZONA pendurada torta na porta. Além dessas construções, via-se uma série de morros... mas então percebi que não eram morros normais. A região era plana demais para eles. Os morros eram montes enormes de carros e aparelhos velhos, e outras sucatas de metal. Era um ferro-velho que parecia não ter fim.

–Uau!- Percy exclamou.

–Alguma coisa me diz que não vamos encontrar uma agência de aluguel de automóveis por aqui- disse Thalia. Ela olhou para Grover.- Não creio que você tenha outro javali gigante na manga, correto?

Grover farejava o vento, parecendo nervoso. Ele pegou suas bolotas de carvalho e as atirou na areia, então tocou a flauta. As bolotas se rearrumaram em um padrão que não fazia o menor sentido para mim, mas Grover pareceu preocupado.

–Aqueles somos nós - disse ele.- Aqueles cinco lá.

–Qual deles sou eu?- Percy perguntou.

–O pequeno deformado - sugeriu Zoë.

– Ah, cale a boca!

– Aquele grupo ali adiante - continuou Grover, apontando para a esquerda- significa problema.

Revirei os olhos.

Nós indo em direção a problemas?Que novidade!

–Um monstro? -perguntou Thalia.

Grover pareceu agitado.

–Não farejo nada, o que não faz sentido. Mas as bolotas não mentem. Nosso próximo desafio...

Ele apontou para o ferro-velho. Com a luz do sol quase totalmente extinta agora, as colinas de metal pareciam pertencer a um planeta alienígena.

Resolvemos acampar durante a noite e explorar o ferro-velho pela manhã. Nenhum de nós queria praticar mergulho no lixo no escuro.

Eu e Zoë tiramos cinco sacos de dormir e colchões de espuma de nossas mochilas. Acredito que aquilo deve ter surpreendido Percy, a cara que ele fez foi impagável.

Di Angelo | A maldição de AtlasOnde histórias criam vida. Descubra agora