XV. O Suicídio, de Émile Durkheim

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Este capítulo contem conteúdo sensível: menção a pensamentos suicidas.

O relógio de parede na sala da Diretora Anaha Azniv marcava que eram oito horas e cinquenta e nove minutos da noite. Um certo amargor fazia-se presente na garganta de Anaha. O gosto se assemelhava ao de um licor. Olhava frequentemente para consultar o horário. Mantinha sua postura estática.

Ela sentia um peso enorme em suas costas, e em sua própria consciência.

A responsabilidade a sufocava. Anaha era sensata demais para não se importar com o que estava acontecendo.

Ela se sentia como o décimo segundo arcano do tarô, o dependurado. A diferença entre ela e a figura era que o dependurado estava sendo enforcado porque queria. O dependurado estava ali por vontade própria. Olhando atentamente para a carta, notamos que ele nem mesmo está preso. Pode soltar-se quando bem entender.

Anaha não.

Anaha estava presa, sem escapatória. Amarrada. Sufocada. Pensando bem, sua condição atual lembrava a mensagem de um arcano menor: dez de espadas, que simbolicamente mostrava uma pessoa, deitada, e com dez espadas cravadas em si.

Sofrimento.

Dor.

Era isso o que ela estava sentindo, mas, que ao mesmo tempo nem chegava perto de suas reais emoções. Tinha vontade de chorar e gritar, quando percebia aquele verdadeiro cenário catastrófico erguido dentro de si.

O sufoco era como se um elefante estivesse sentado no seu colo, esmagando-a. Era inacreditável como, da noite pro dia, seu mundo começou a ruir. O arcano da torre veio em sua mente. A carta que era, provavelmente, a mais temida. Sua torre desmoronava. As estruturas se perdiam. O mundo desabava, no mais literal dos sentidos.

Tenebros Lise, o professor de poções, então, não se sentia muito diferente. Cansado e medroso. Como um cachorrinho que se amedrontava quando fogos de artifícios eram soltos.

Silva, que tentava se manter esperançoso, mantinha um sorriso no rosto. O Professor Silva é um desses velhos tiozões que contam piada ruim. Ele era como um urso. Protetor. Engraçado. Sábio. Talvez, por puro instinto, dizia que a única coisa irremediável era a morte.

Como explicar a alguém que o namorado dele havia magicamente sumido de uma universidade onde nada nunca passava despercebido? Bem, ela teve de descobrir como. E foi assim que Noah Albertiniz se tornara o primeiro aluno a cair na real, quando a diretora então lhe contou o que havia acontecido.

Ele estava meio nervoso naquele dia. Não tinha acordado muito bem e tinha um mal-pressentimento.

Anaha tentou soar o melhor possível. Pensando bem, não havia nenhuma forma de dizer o seguinte de forma que não soasse terrível:

- Eu tenho uma má notícia - Anaha dissera, tentando soar sensível.

- O que aconteceu? - Noah não era de rodeios.

- Dominique e você tem uma relação, não é mesmo?

- Somos namorados.

- É claro que sim - Anaha suspirou. - Ele desapareceu. Nós não temos mais explicações sobre o que aconteceu. Outras duas pessoas também desapareceram. Estamos investigando, tudo bem?

Não estava tudo bem.

Nada estava bem.

Anaha o abraçou. Tenra. O garoto estava completamente desconfortável, tanto que nem retribuiu. Mas não gritou. Não chorou. Não reagiu ou esbravejou. Ficou ali, parado. Sem saber o que dizer. A ficha ainda não havia caído, notoriamente. O que isso significa? Seus olhos estavam opacos, sem vida. E então, a inércia veio. Anaha acabara de lhe dizer que seu namorado, que ele jurou sempre amar, estava desaparecido.

Le Fay e MontreauxOnde histórias criam vida. Descubra agora