Passeio Noturno - Parte 3 Fic.

2 1 0
                                    

Naquela noite não consegui dormir bem, sonhei com um gato coberto com várias gotinhas de um líquido vermelho que vinha em minha direção, algo me parecia estranho... errado, mas apesar de tudo consegui ter uma noite razoável de sono. A manhã chegou e com ela toda as preocupações e afazeres que um homem da minha idade ainda precisa passar.

Acordei com raio de luz que passava pelas cortinas e ia em direção a cama, Madeline já havia levantado e estava na cozinha preparando algo para a gente comer juntos. Fiz todo o ritual que normalmente fazemos ao levantar da cama, levantar, sentar e espreguiçar e calçar as pantufas pretas que ganhei de presente na empresa depois de colocar o roupão de dormir azul cobalto que Madeline me deu de presente de casamento e desci rumo a cozinha. Ela me esperava com um belo sorriso sem ao menos suspeitar do pequeno ritual terapêutico que realizo todas as noites nas rua da cidade.

Comemos juntos ouvindo as novidades e notícias no rádio, e nada de plantão policial, me acalmo mais. Talvez nem encontrem o corpo dela. Terminei, beijei ela na testa agradecendo a bela refeição feita e subi para me arrumar para o trabalho. Tomei banho, escovei os dentes, vesti meu terno azul marinho, terminei de calçar os sapatos e passar perfume, e voei para a garagem. Lá vi que tinha uma pequena mancha de sangue ainda no para-choque, corri o mais rápido possível, ninguém poderia ver aquilo. Limpando acabei percebi que um pequeno pedaço tinha sido arrancado, foi bem obra daquela vagabunda, disse mentalmente para Madeline não ouvir. Terminei aquela sessão desagradável de limpeza e sai logo para a empresa.

No caminho, liguei o rádio para animar um pouco e começou a tocar aquelas músicas pop que todo adolescente gosta, um tal de Cristiano com uma música incrivelmente grudenta. Deixei pra lá e segui viagem. O dia estava sendo razoável, quando a programação da rádio e interrompida por um boletim policial sendo transmitido diretamente da delegacia de polícia, " Interrompemos a transmissão para anunciar a morte de uma garota de nome Ângela, 20 anos, atriz, que aconteceu na noite de ontem perto da lagoa em um apartamento perto da curva do Cantagalo. A perícia estava no local e a única coisa que descobriram até o momento é que Ângela foi vítima de um atropelamento igual a outras várias moças que foram nesses últimos dois messes, e uma amostra da borracha e um pedaço do pequeno do para-choque do suspeito foi encontrado no corpo da vítima, junto com uma pequena marca de pneu. Estamos trabalhando mais que nunca para descobrir quem é o responsável dessas inúmeras mortes e vamos levá-lo a justiça".

Ouvir aquelas palavras me fez sentir um frio percorrer por todo o meu corpo. Fiquei algum tempo indagando se a polícia chegaria a mim de alguma forma, mas me aliviei ao lembrar que o meu carro e único entre milhões de outros dentro do Rio de Janeiro, e a não ser por um azar imenso eu seria pego. Resolvi deixar essa história pra lá e seguir viagem.

O universo tem um incrível senso doentio de humor. Ao mesmo tempo que esses fatos ressoava em minha mente, a perícia descobriu que Ângela tinha ido a um restaurante na noite anterior e toda a polícia foi acionada a passar em cada um para investigações. E ao longe, de alguma forma incrédula até, um belo gatinho preto coberto por várias gotinhas de sangue olhava aquela movimentação digna de um filme de ação, apenas encarando toda aquela cena.

O dia no trabalho foi calmo. Meu chefe acabou não aparecendo hoje, o que causava um certo alívio em mim e nos demais funcionários, e não teve tantas planilhas e papeladas necessitando da minha atenção. Terminei meu expediente e decidi passar pela praia de Copacabana a fim de ver o por do sol, num quiosque ali mesmo. Depois de me debruçar sobre esse belo cenário segui para casa, já que era uma sexta, achei que poderia ir jantar com Madeline mais tarde.

Era 21:00 quando saímos para um passeio de carro, até que ao questionar sobre onde seria nosso belo jantar ela olha nos meus olhos e fala o nome do mesmo restaurante fino que Ângela falou. Saberia ela de alguma coisa ? Como ? Fui cuidadoso o suficiente com todas, porque essa última foi diferente?. Decidi não transparecer e segui até lá. Não estava cheio, nem vazio, e estranhamente todos que estavam lá não me eram estranhos de alguma forma, mas, ignorando tudo aquilo entrei, sentei e pedi o cardápio. Vodca vai... Vodca vem, Madeline me questiona se eu gostei do venho fazendo todos esses messes. Minhas mãos gelam, ela percebe que fiquei nervoso e pergunta em seguida, você gostou de passar por cima de tudo e todos. Não entendia como aquilo estava acontecendo depois de tanto tempo. Como aquela filha da mãe descobriu tudo e ainda agia com essa cara de idiota esse tempo todo ?!. Ela notou que pareci abalado e perguntou se estava bem e se não era pra falar de trabalho durante o jantar.

Por um minuto achei que tudo ia por água abaixo, até que me acalmo e começo a rir para descontrair. Ela ri junto e consolo ela com palavras vazias. Jantamos e saímos dali para um passeio, que coincidentemente era perto do local da morte de Ângela. Madeline lembrou que o irmão dela mora por ali e pediu para passarmos lá, e eu obviamente não iria negar isso. Recebi nesse meio tempo que meu chefe estava doente e que não foi hoje e nem iria essa semana pro trabalho, mas mandou junto uma lista com que queria que fizéssemos.

Chegando lá, entramos e subimos no elevador e paramos no andar dele. Tocamos na campainha do seu apartamento e ele nos recebeu com calorosos abraços, e nisso nós abrimos uma garrafa de vinho e nos sentamos na sacada. Ficamos conversando até umas 23:00 e depois decidimos e embora devido ao horário. Antes de sair, o irmão dela aparece no saguão do prédio, e ao me entregar as chaves do carro que tinha esquecido me disse " eu sei de tudo Isaque". Aquilo me deixou imóvel por uns segundos... Eu saiba o que aconteceria depois. Ele me abraçou e saímos.

Na volta, ao passamos pelo exato local da morte de Ângela um gato preto passa pela rua correndo com o seu pelo fosco seco, algo que nunca tínhamos visto, mas ao ir atrás dele ele sumiu na noite. Chegamos em casa, fizemos o nosso mini ritual antes de ir pra cama e fomos dormi. Não sei ao certo mas aquele gato apareceu de novo em meus sonhos... Mas dessa vez eu o reconheci. Acordei assustado no meio da escuridão do quarto apenas iluminada pela lua, minha esposa me pergunta o que aconteceu mas eu simplesmente volto a dormir.

No dia seguinte, decidimos sair para ir a praia, mas antes que pudesse sair um gato apareceu com seu pelo cheio de gotas vermelhas e ao lado de um vestido branco coberto por algo que parecia sangue?! Antes de me livrar daquele lixo que o universo decidiu me presentear Madeline apareceu e começou a esteticamente gritar ao ver aquilo, mas depois de conseguir acalmar lá, ela decide com uma vontade inquestionável levar aquelas duas coisas curiosas a delegacia para análise. ERA O MEU FIM. Tentei fazer ela decidir daquela ideia estúpida, mas com um olhar afiado e ar dramático ela me olha e diz " porque? Tem algo a me contar ?" Desconversei rindo um pouco eu resolvi ir com ela para não levantar suspeitas, mas já esperando o pior.

Chegando lá, falamos com um jovem moço que eu já anexava em minha lista mental de vítimas depois daquele fiasco. Ele pegou o vestido e o gatinho que levamos em uma casinha antiga que era do nosso antigo gato e entrou. Nunca na minha vida achei que ia ter tanta ansiedade, e por um tris não tenho uma parada cardiorrespiratória. Depois de uma longa hora ele aparece com uma cara fechada e documentos que em minha mente pareciam ser uma carta para eu assinar minha sentença de morte... Mas quando ele estica as mãos para entregar ele só diz que aquele era o resultado das coisas que levamos, onde o gato estava coberto por uma tinta vermelha, por isso que ele não se lambia para limpar já que sentiu o cheiro de querosene, e o vestido era de uma mulher que havia rebolado ele no lixo por ter derramado vinho a uns dias atrás.

Saímos de lá... Seguimos pra praia... E naquele belo por do sol decidi encerrar aquele belo e inescrupuloso show de mortes, já que aquela situação mais cedo poderia ser um aviso do universo para que eu parasse. Anoiteceu, e depois de sairmos daquele quiosque depois de vê o por do sol seguimos para casa. Tudo parecia bem, conversamos, rimos e nos beijamos várias vezes, e nesse período a rádio menciona que a polícia não descobriu nada do que foi achado na cena de crime de Ângela. Caímos na risada depois de um tempo foi no meio dessas risadas que ela olhou nos meus olhos e falou com uma voz sedutora e feliz " Eu sei de tudo, sei que tem feito inúmeras vítimas, e ..." e antes de terminar ela viu uma antiga amiga dela que a tinha um péssimo histórico com ela no antigo emprego. Nós nos olhamos entre si e ela falou " você vai... Ou posso fazer as honras ?".

Passeio Noturno - Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora