A Confissão - Quarta Parte

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A Confissão - Quarta Parte

Stalker's Point of View

Olhei o relógio do meu pulso, foi um presente do meu avô, mas eu não costumava usá-lo. Faltavam dez minutos para o último sinal e eu estava atrás dos latões de lixo no beco do outro lado da rua. Alguns alunos mais velhos iam até lá para fumar, mas naquele horário estava vazio. Vi um rato passar duas vezes e depois desaparecer em algum buraco na parede.

Imaginei que merecia preencher aquele ambiente, até porque combinava com as minhas intenções. Se alguém me visse agora, saberia que o que eu fazia era por algo maior. Eu poderia manchar nossa história com essa cena, mas somente para um dia realmente ter uma história com você.

E quando finalmente o sinal tocou, eu estava pronta. Vi o aglomerado de alunos saindo das salas, a correria desesperada para fugir da cela do conhecimento. Não seria fácil perder Tommy, ele chama atenção até ao andar. E claro, Jason, que deveria ficar me esperando o tempo suficiente para que eu saísse na frente sem ser vista.

Superando minhas expectativas, foi o que aconteceu, Tommy saiu sozinho na frente, pegando a rua que atravessava a escola, o caminho de sempre. Eu não sabia onde era sua casa, mas podia imaginar que não seria longe, até porque em uma cidade pequena como aquela todo caminho leva ao menos vinte minutos para se chegar.

Caminhei ao fundo evitando ser vista, evitando ser notada e até mesmo evitando prestar muita atenção nele. Olhos no chão, caminhei passo a passo imaginando sua presença mais a frente. Foi quando saímos da região cercada de gente que eu decidi apressar um pouco mais o meu passo.

Ele andava abertamente, como se nada no mundo pudesse barra-lo e isso me enojava. Quer dizer, como alguém poderia ver uma pessoa assim e desejá-lo? É óbvio que ele só pensa em si mesmo, outra pessoa é apenas uma ilusão em seu diálogo.

Por fim chegamos ao momento da divisão, seguir em frente me levaria até em casa, mas a direção da casa de Tommy é virando a esquerda e quando estava prestes a fazer, o garoto seguiu em frente.

...

Parei no mesmo instante ainda chocada com o que via, ele agora caminhava mais a frente, em alguns minutos sairia totalmente do meu campo de visão. O que ele estava fazendo? Não era esse o plano. Não era assim que deveria ser. Ele tinha que ter ido até a própria casa, em uma rua quieta em que ninguém nos veria, mas agora... agora ele estava indo até lá. Até a casa dela? Ugh, senti meu estômago revirar e os ovos que eu comi de manhã voltaram diretamente para a minha boca, só não os despejei no chão da calçada porque precisava ser mais forte.

Nem tudo aconteceria como eu planejava, mas isso não pode ser de todo ruim... pode? O que eu sei é que algo dentro de mim decidiu agir e eu tomei impulso para voltar a andar.

Quando dei conta de mim, me escondia atrás da árvore na esquina de nossa rua e agora o garoto esperava na porta da casa dela. A casa que iniciou toda a nossa história, seria prejudicada pelas digitais daquele intruso? Eu não sabia dizer. Uma hora dessas apenas o pai dela estaria em casa cuidando das crianças. Mike era um homem gentil, eu gostava dele, mas seria o pai responsável que deixaria o garoto entrar na casa?

Fiquei desiludida ao ver Clara, a mãe dela sair pela porta com um enorme sorriso no rosto e agora, a criança que cresceu para se desgrudar de seus braços, se grudava em sua sombra. E é óbvio que no estúpido dia que eu resolvo dar um ponto final para essa situação, o mundo inteiro decide agir contra mim e mais claro como água, a mãe o convida para entrar.

Senti o gosto de sangue na boca, mordia muito forte o meu lábio e apertava com ainda mais vontade a minha mão. Tive que me sentar ali mesmo controlando a respiração, se eu surtasse como fiz antes, poderia estragar tudo. Quando a emoção me controla mais do que a razão, dificulta trabalhar com os meus instintos.

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