Capítulo 54

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Anastásia

Suspirei fundo e pesado ao sentar no sofá e erguer minhas pernas para cima. Deus, mesmo estando de férias, ainda trabalhava em casa escrevendo meu livro, como dona de casa e mãe. Nada era fácil. Amava minha menina e principalmente ficar com ela, ter sua companhia e ouvir sua risada entrar pelos meus ouvidos, fazendo com que eu me sentisse a mãe mais coruja e realizada por saber que meu esforço todos esses anos não haviam sido em vão, pois ela estava feliz... Porém, precisava de um tempo. Precisava descansar um pouco. E sabia que a minha Gatinha gostava de ir para a escolinha, então resolvi levá-la hoje.

Depois fui com Luke até o aeroporto, o qual havia passado uma semana aqui com nós. Tínhamos uma relação tão boa e acolhedora... Quase como uma família. Ele era tão bom para Ágatha, a fazia tão feliz, tratava a mesma tão bem, como uma filha, um membro familiar. Comigo também. Era uma excelente companhia, um amigo que me distraía e me divertia com sua presença. Realmente passei a admirá-lo ainda mais pelo fato de não ter guardado mágoas de mim por ter terminado o namoro, e sim, uma amizade que permaneceria. Luke podia simplesmente nunca mais olhar na minha cara e chegar a conclusão que eu havia "enganando-o" esse tempo todo de relacionamento... Mas, não. Ele entendia minhas razões. Entendia que eu não podia simplesmente apertar um botão dentro de mim, como no computador, e "deletar" o passado. Não podia e não conseguia. Não era como certas outras pessoas que não cumpriam suas promessas. Ele havia prometido, há anos atrás, que sempre estaria ao meu lado e desejaria o meu bem estar, que eu fosse feliz, não importa o quê ou em qual circunstância nos encontraríamos. Uma pena tal pessoa não saber cumprir o que prometia. Obviamente, era dele que eu estava falando e pensando. Era Christian.

Lembrava de suas promessas bobas. Quando ele havia prometido que, se dependesse dele, o que havíamos, nosso namoro, nosso amor e companheirismo nunca iria acabar. Não importa o que acontecesse. E no final, dependeu dele mesmo para o fim de tudo. Prometeu também, há muito tempo, que nunca mais voltaria a machucar-me. Entretanto, foi o que mais teve sucesso em fazer. A maioria das minhas manhãs eram assim: Acordava e acabava lembrando dele, afinal de contas, mesmo depois de anos e ainda assim não querendo recordar, Christian era o meu primeiro e último pensamento do dia. Não me pergunte o motivo, porque ele não existe, ainda não o inventei. Voltava à última vez em que meus olhos conseguiram segui-lo e subitamente lembrava do momento em que o mesmo sumiu de minha vista. Então, perdia a vontade de levantar, fechava novamente meus olhos e tentava voltar a dormir, pelo menos, estava perto de mim em algum sonho meu. Mas, não é saudável, eu pensava comigo mesma.

Não é certo.

Respirava fundo ao lembrar que tinha uma vida inteira esperando por mim. Filha, trabalho e responsabilidades. Porém, isso não impedia suas promessas de continuarem firmes e fortes mantendo a esperança viva. A esperança que morre a cada dia, a cada tarde cinza, a cada noite sem estrelas, a cada vez que demoro a dormir... Seu fantasma ainda me assombra. Aquilo me fazia sofrer e algumas vezes quase mantinha meus pés travados, sem forças e coragem para tocar o chão e encarar a realidade. A realidade que poderia parecer totalmente maravilhosa e aceitável... Aos olhos dos outros sobre mim, mas, o que eu sentia dentro do peito, ninguém conhecia.

Isso é difícil de esquecer.

Será que algum dia irei?
Será que algum dia iria parar de lembrar dele?
Será que algum dia pararia de sofrer por algo que aconteceu anos atrás e já deveria ter sido superado?
Tantas perguntas e tão poucas respostas.

Perguntas que só o destino vai poder responder, na altura certa, no momento exato. Até lá, tento fugir ou esconder. Fingir que nada disso importa ou me aflige. Mesmo sendo gostoso ficar sozinha por algum tempo, em silêncio comigo mesma, nos meus próprios pensamentos e relaxando... Isso também era como um veneno para mim. Assim como me fazia bem, também causava um extremo mal. Quando Ágatha estava em casa, pulando, gargalhando, brincando e iluminando meu dia, enchendo-o de alegria, era difícil a tristeza ou pensamentos como esses virem à tona. Agora quando não estava, bastava apenas um segundo para tudo aquilo que evitei, durante um longo tempo, voltar de súbito. Senti Nutella subir em meu colo em busca de quem se enroscar e carinho. A gata também era outra coisa que me recordava de coisas do passado, porém não tinha culpa. Ágatha a amava assim como eu. As duas, minha filha e a gata, eram um grude, como carne e osso. Se você quisesse saber se a Ágatha realmente gosta de você e é sua amiga, basta apenas saber se ela deixa você tocar na preciosa gata. Se não deixar, desista, pois ela não gosta de você e não confia.

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