17º Capítulo

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Visão de Michael

Era difícil explicar para Lucy algo que eu tinha na minha mente, na verdade, algo que eu sempre tive.
Viajar com meus irmãos por tantos anos, ouvi-los falar sobre mulheres e algumas vezes ter o desprazer de vê-los com elas, me fez adquirir uma certa "experiência teórica" sobre o assunto, se é que isso existia. Experiência essa que me fez desenvolver teorias, e teorias que eu pude testar, ainda que não muitas vezes.
Mas que todas se comprovaram verdadeiras.

Muitas vezes eu sentia que não entendia as mulheres no tocante ao que elas pensavam, ou no que elas queriam num sentido mais prático e cotidiano da vida... eu definitivamente não entendia os jogos de amor.

Porém, eu sentia que podia entender como uma garota precisava ser tocada, apenas se a observasse com mais atenção.

Mas claro, não era algo que eu podia comprovar sempre... aliás raramente podia. Muitas vezes aquelas indagações ficavam apenas na minha imaginação.

O fato é que eu ouvi por muito tempo os caras conversando sobre as mulheres, dizendo coisas pouco gentis sobre elas... não que eu fosse um puritano ou algo assim, mas só achava que muitas vezes, o que eles alegavam ser brincadeira, na verdade, não era: aquilo era uma demonstração do que eles de fato eram, da fragilidade que eles tinham dentro de si próprios e do medo que tinham daquelas mulheres serem mais fortes e duronas do que eles, e por isso precisavam fazê-las acreditar que elas valiam tão pouco.

Claro, eu tinha minhas fragilidades também... eu sempre fui muito autoconsciente de meus defeitos, mas nenhuma das mulheres com quem me relacionei tinha culpa disso... ou quase nenhuma.

Tudo isso era muito complexo e complicado para ser explicado, e eu mesmo acho que seria difícil de acreditar, e agora a situação em que eu me encontrava era: eu estava deitado, sem camisa, apenas com a calça de algodão do pijama, sob a penumbra do quarto. Após duas taças de champanhe, meu autocontrole, conquistado com anos de treino abraçando fãs mais afoitas, já não estava na sua melhor forma - minha resistência para bebida era péssima - , e Lucy estava ali, para mim, deslumbrante.
O modo como ela sorria, como se tudo aquilo fosse uma brincadeira, e a forma como a luz amarelada do abajur iluminava seu corpo, contornando-o, fazia a cena se tornar ainda mais linda, e por alguns minutos eu não conseguia saber se queria ser mais coadjuvante ou espectador da cena que ela protagonizava.

Tinha algo no modo como ela me olhava que eu achava interessante... e isso acontecia desde antes, desde a primeira Lucy...

_ As vezes parece que você olha pra mim como se eu não fosse de verdade... como se você ainda duvidasse que está aqui. - pontuei.

Ela sorriu, tímida... ainda que seja estranho usar essa palavra, já que ela estava sentada de lingerie ao meu lado na cama, desenhando círculos em meu peito.

_ Acho que é porque... viver isso é surreal demais.

_ Eu nunca perguntei isso antes porque... antes, antes de você ser você, tudo era muito mais surreal mesmo, eu acho. - argumentei.

Ela estreitou os olhos, mas em seguida os abriu, como se tivesse entendido apenas naquele momento.

_ Oh, não... não falo disso exatamente, nem de você ser o astro que é, nem de eu ser a "Zé ninguém" que sou.

Fiz uma careta para a expressão que ela usou, mas fiquei curioso demais para debater naquele momento.

_ Fala do que, então?

Ela suspirou, e então ajoelhou-se na cama, aproximando o rosto do meu.

_ Falo de você ser você, só você. Independente do que você faz fora desse quarto. Falo dos seus olhos, da sua voz, do seu sorriso, das coisas que você pensa, da pessoa que você é. Eu estou falando de ter alguém como você. As vezes eu me pego olhando para você e me perguntando se você é real porque você...

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora