A jornada de mil quilômetros começa com o primeiro passo

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Assim que desço da carruagem, Sofia vem correndo em minha direção — Oh meu menino eu estava tão preocupada – tocando meu rosto de forma terna, posso ver em seus olhos as lágrimas de alegria com meu retorno, mas seu rosto logo se choca quando vislumbra a pequena em meu colo — Por favor, leve-a pra dentro, lhe de um banho e providencie roupas pra ela – me reverenciando ela pega a menor em meu colo.

Estou exausto, meu corpo todo dói, meu peito está pesado, interrompo meu caminho, me virando novamente aos empregados — Ahh, providenciem um quarto na ala principal para Kaownah, e enviem uma coruja ao duque do sol, informe-o que estamos bem, e que retornaremos em breve e ...

— Majestade eu... – Sofia é quem me interrompe com um sorriso triste — Acho que antes de tudo deveria falar com o Rei – a frase enigmática dela me deixa angustiado. Deixo Kao aos cuidados de Mile o chefe da guarda, e rapidamente me direciono ao quarto de meu pai.

O guarda que se postava a porta do aposento do Rei se curva me cumprimentado e abre a porta pra mim. Já sentia meu peito acelerado com a ideia do que podia encontrar lá dentro, mas ao entrar a situação não parecia tão grave quando pensei, meu pai estava sentado na cama, com o curandeiro real sentado ao seu lado, lendo um pequeno livro — Kana, ohh você finalmente voltou – ele se preparava pra sair da cama e vir em meu encontro, mas foi impedido pelo curandeiro — Alex – apenas a voz do mais novo foi suficiente pra lhe fazer permanecer no lugar. Saint era um garoto de 27 anos, mas a idade não interferia em sua capacidade como curandeiro real. Bastava apenas uma palavra do garoto pra que o Rei parecesse uma criança que fora repreendida pelos pais, claro que eu sabia que havia mas naquela relação do que uma simples hierarquia Rei / Curandeiro, não que eles alguma vez tenham admitido, mas o olhar de meu pai para o garoto me dava mais do que palavras poderiam entregar.

— Ahh que seja – dizia ele voltando pra baixo das cobertas com uma beiço nos lábios, me lembrava alguém, ainda que eu não tivesse certeza de quem — Pai o que houve ? Saint é grave ? – fiz a pergunta a meu pai mas quem me responderia com verdade era o curandeiro – Vossa majestade abusou um pouco do licor de cereja no jantar da noite passada, sua pressão já estava instável pelas preocupações com o príncipe, ele teve um breve desmaio pela manhã, mas foi o suficiente pra colocar todos no castelo em pânico. Sinto muito meu príncipe não fui capaz de controlar boatos – ele se curva respeitosamente — Não há necessidade de pedir desculpas Saint, com tanto que o rei esteja bem, o resto pode ser contornado – ele sorri, pegando novamente os apetrechos e verificando a condições de meu pai naquele momento — Me perdoe meu pai, mas se já estiver se sentindo melhor, gostaria de sua autorização pra voltar ao condado do Sol, não consegui explicar ao duque todo acontecido até agora — e novamente o sentimento inquietante volta ao meu peito quando Saint, se desfaz dos seus aparelhos, pede licença e se retira do quarto. Os vincos em minha testa só ficavam maiores, conforme o silêncio permanecia no quarto — Pai o que ...

— Me perdoe meu filho – sua mão toca a minha, me puxando a sentar próximo dele sobre a cama — Depois que perdi sua mãe, achei que tudo que eu podia fazer era me concentrar no reino, cuidar do povo e do lugar que sua mãe tanto amava. Meus olhos se cegaram pelos deveres, e infelizmente deixe que isso recaísse sobre você. Sinto muito que tenha entrado nessa situação por minha culpa, não imagino o quão difícil foi pra você durante todo esse tempo – fiquei alguns minutos parado tentando entender se eu havia perdido algo naquela conversa pois não fazia ideia do que ele queria dizer — Pai, me perdoe mas, não entendendo o que o senhor quer dizer – ele toca minha mão carinhosamente, e pra meu total pânico, ele pega na mesinha ao lado de sua cabeceira um pequeno caderno de capa de couro marrom, e preso por uma trança de barbantes — Me perdoe Kana, não quis invadir sua privacidade, mas durante meu surto de preocupação entrei em seu quarto, e achei seu pequeno diário, minha intensão não foi te desrespeitar, queria apenas matar a saudade através da tua escrita, mas ao ler tuas palavras pude sentir teu sofrimento – meu corpo inteiro estava gelado. Aquele pequeno caderno continha muitas e muitas noites de magoa, escritas de um mundo onde eu já não vivia mais, descrições de alguém que eu não conhecia de verdade, todas as palavras eram sobre Suppasit — Pai o que você fez – meu peito parece subir na garganta — Não se preocupe Kana, descobri a tempo e pude impedir que a coisa fosse adiante. O casamento está cancelado, você não precisa se preocupar, o Grão Duque entendeu tudo, e nossa relação com o condado do sol permanece boa. Eu até ajudei nas negociações do novo casamento – ali... foi ali que meu coração parou. 

Meus olhos ardiam ainda que o cérebro não tivesse entendido com clareza aquelas palavras — Pai, calma... Eu, eu acho que eu não entendi, me diz com calma o que você fez – ele parece confuso com meu estado, mas repete sua palavras de forma limpa pra que eu entenda — Eu cancelei seu casamento com Duque Mew, e ajudei ele achar uma esposa – se eu não estivesse sentado, com certeza teria caído no chão, devo estar com um expressão realmente assustadora já que meu pai chama Saint de volta ao quarto — Alteza o que está sentindo ? – ele pergunta já colocando diante de meu nariz um pequeno fraco com cheiro forte, cravos. O cheiro intenso da planta me desperta, me ergo da cama — Quando, quando será o casamento ? – pergunto aflito já pensando em mil caraminholas em minha cabeça — É... é hoje a noite majestade – quem me respondeu foi o curandeiro. Apenas saio correndo do quarto, por sorte encontro Kao e Sofia pelos corredores — Alteza o que houve, por que a agitação? – eles tentam me parar mas eu apenas grito enquanto continuo meu caminho — Vocês... Peguem Natasha e uma carruagem, me encontrem no condado do Sol – ainda escuto seus chamados as minhas costas mas não tenho tempo, não posso me permitir perder nem mais um minuto, ou perderia minha felicidade pra sempre.

Avanço o mais rápido que posso pelo caminho até os estábulos, e graças a Deusa sabia que o encontraria ali, Vegas, o quarto de milha de Mile, o cavalo de pelagem negra como a noite, sempre se mantinha encelado durante o dia, sem pensar em mais nada além de Mew e sem deixar que meus medos se tornassem mais fortes que eu, monto no animal, agarrando com força as rédeas e incitando sua corrida. Uma vez em uma dos livros que li lembro-me de uma frase dita pela protagonista " A felicidade vira até mim se eu lhe der caminho, mas se por algum motivo ela não vier, cabe a minha buscá-la de braços abertos ". Após tantos anos de maus entendidos, eu não podia deixar que mais um nos afastasse, dessa vez seria a príncesa que correria ao encontro de meu príncipe, porque mais do que nunca agora eu tinha total certeza... Eu amo Suppasit... Só em pensar naquele homem, o sorriso me toma o rosto, o calor aquece meu peito e meus pés atiçam os passos do animal — Vamos garoto, vamos atrapalhar um casamento. 








Obrigada por ler 🌻☀️

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Era Uma Vez... Pela EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora