único

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A porta do Lamborghini preto e blindado se abriu, deixando sair um homem alto, moreno e forte, de aproximadamente trinta anos. A brisa noturna bagunçou os cabelos negros cacheados, fazendo com que ele parecesse ainda mais novo. Mas apesar da aparência jovial, Miguel Díaz era um homem experiente e não brincava em serviço. Deixou o motorista esperando por ele e andou a passos largos em direção ao depósito onde resolveria o impasse com que estava lidando no momento. Era apenas mais um encontro de negócios e esperava não gastar mais de uma hora nas docas, ainda planejava ir encontrar Robby aquela noite. 

O barulho de seus sapatos caros anunciava sua presença, mas ele não estava nem um pouco preocupado em se esconder. Sabia que seus funcionários, se é que podia chamá-los assim, já haviam cuidado de tudo e o lugar estava plenamente seguro para quando ele chegasse. Adentrou o depósito e passou por dois dos responsáveis pela segurança, em seus postos e tranquilos, o que significava que não havia maiores problemas na operação. A primeira coisa que avistou no espaço amplo foi a mesa de madeira maciça ocupada por um homem, suas mãos presas por algemas e suas pernas acorrentadas aos pés da mesa, uma corda o amarrava à cadeira em que estava sentado. 

"Boa noite, Raymond." Miguel disse animadamente, se sentando confortavelmente na cadeira de frente para o outro. "Temos muito o que conversar."

"E-eu não tenho nada pra falar com você!" O homem disse, tentando parecer durão.

"Ah, jura? Então você não vai me contar quem mandou você pra roubar minha carga e tentar sabotar uma operação tão importante?" 

"Não vou te contar nada, seu mexicano desgraçado!" Raymond disse, e Miguel apenas riu. O tom de absoluto terror denunciava a motivação por trás da tentativa patética de confrontar e mostrar coragem.

"Bem, eu não quero ter que sujar meu terno. Tenho um evento importante hoje." Miguel disse, tirando uma faca da maleta que havia trazido. "Mas se você não cooperar…" começou, encostando a faca no dedo mindinho de Raymond. "Olha, eu vou ser um cara legal e começar pelo dedo que faz menos falta. Talvez você crie juízo e me conte antes de ficar sem poder nem usar um celular o resto da vida." Miguel não se demorou muito, apenas cortou o dedo mindinho fora como se fosse manteiga, sem nenhum desconforto perante os gritos de dor e medo do outro.

"Vai falar ou não? O próximo vai ser o anelar, espero que você não sonhe em se casar." Miguel riu.

"Foda-se, seu desgraçado!" Gritava o homem enquanto encarava a própria mão coberta de sangue.

"Se é assim que você quer…" Miguel disse tranquilamente e cortou o segundo dedo.

"Chega, por favor! Você é louco!" Raymond dizia entre berros de dor, arfando. "Silver. Terry Silver." 

"Muito bem, Raymond. E o que mais ele mandou você fazer?" 

"Nada. Ele disse que eu ia servir pra te distrair hoje enquanto ele cuidava de outra coisa…" 

Miguel não gostou da sensação, mas sabia que não era mentira. Esse miserável era apenas um peão posto em risco para que uma jogada mais ambiciosa fosse completada. "Bem, uma pena você ter sido tão leal ao Silver. Quem sabe você acerta na próxima encarnação." Miguel disse, e passou a faca diretamente na jugular do outro, observando o sangue espirrar e pintar a mesa cinza de vermelho como num belo quadro de arte contemporânea. Ficou feliz por seu terno ainda estar intacto e deixou a sujeira para trás, sabia que seus funcionários cuidariam disso rapidamente.

Assim que saiu, ligou para Robby e a sensação ruim só piorou quando ele não atendeu. Continuou insistindo e nada. Mandou dois homens ao apartamento dele, dos que estavam sempre próximos para qualquer emergência. O que recebeu de volta gelou sua espinha e ferveu seu sangue. Uma foto do apartamento totalmente revirado, sinais de luta por todo lado. Miguel sabia que Robby era tão competente em artes marciais quanto ele e não teria sido levado facilmente. Quem quer que tivesse feito isso, tinha ousadia, planejamento e mão de obra para um serviço tão arriscado. Quem sequestraria o namorado e braço direito de um líder de máfia? Era uma péssima ideia. 

Máfia (oneshot Kiaz)Onde histórias criam vida. Descubra agora