Você era apenas um sonho.

Minha realidade se dissipou.

Tudo estava silencioso. A mesa estava cheia dos melhores pratos. O problema era a pouca presença daqueles que estavam junto a mim.

Um homem de quarenta e três anos e uma mulher de quarenta. Ambos sentados um a frente do outro, no entanto, suas caras sérias demostravam que nenhum deles queria conversa, pelo menos, não com algum deles.

Esvazie meu prato o mais rápido possível. O silêncio não era o meu incômodo, era a maneira que meus pais se tratavam. Nada mais que vinte e quatro anos juntos, mas eu me perguntava:

"Eles se amam realmente ou apenas se suportam? porquê ainda estão juntos?".

Um mistério. Eu jamais saberia.
Deslizei pela cadeira, saindo da mesa em silêncio, não seria eu a desmanchar o feito deles. Depois de por o prato na pia, bebi a água do copo que havia trago comigo da mesa.

"Ual. Aqueles dois não dão trégua". -pensei os observando por cima da borda do copo de vidro liso.

Corri para o quarto tentando silenciar até mesmo minha sombra. Subi as escadas de fininho, por sorte elas não rangiam.

Assim que cheguei ao tão sonhado destino, encostei a porta e corri para a cama. Não era das melhores, mais era minha, de casal, só minha. Me cobri com o lençol branco bem leve, o mesmo se assemelhava as cortinas quase transparentes que cobriam as vidraças da grande janela.

Observei o teto do meu quarto minunciosamente enquanto pensava no que havia feito naquele dia. Nada fora do comum. Havia ficado em casa o dia inteiro, lendo, ajudando na limpeza e me distraindo. Meus olhos pesaram.

"Venha mundo dos sonhos. Me leve para bem longe. Quero ser como uma folha seca, carregada pelo vento, mais segura do seu destino".

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Meus pés estavam firme no chão da rua movimentada. Várias pessoas passavam por mim, indo em diferentes direções. Todos vestiam roupas diferentes, alguns de um jeito casual, outros profissionais, e ainda os aventureiros ou esportivos. Apenas eu estava deslocada, apesar de não está diferente.

Algo der repente me acordou. Gotas frias caiam em cima de mim. Meus olhos se voltaram para céu. As nuvens carregadas acabavam de despejar a sua encomenda sobre nossas cabeças. Meu rosto aos poucos ficou banhado por muitas daquelas gotas gélidas. Não fiquei preocupada se poderia pegar um resfriado, era bom, a chuva era gostosa. Ninguém pensou como eu, todos já haviam se dispensado as pressas.

Sem perceber, havia fechado os olhos para apreciar o clima frio e as gotas da chuva. No entanto, a chuva não existia mais, apenas ouvia o barulho de seu respingar sobre alguma coisa fina e plástica. Abri os olhos, imediatamente saindo do transe.

Havia um guarda chuva sob minha cabeça, ele era cinza.
Senti que o pequeno espaço embaixo dele era compartilhado.

Olhei para frente desta vez. Não precisei baixar a cabeça ou mantê-la reta. Vi seus cabelos negros, lisos como os pelos de gato, finos e bonitos, eles escondiam a testa do meu acompanhante assim como parte das sobrancelhas meio grossas. Abaixo delas haviam olhos repuxados, negros e de cílios médios, que se destacavam em sua pele branca. Nariz reto e ponta curta, uma pequena covinha indicava os lábios rosados, macios e médios, queixo curto e rosto fino.

Ele vestia algo casual, como um casaco cor madeira claro, camisa branca por dentro, calça preta meio colada, mas não justa, e sapateta preto (uma espécie de sapato raso, plano).

Ele se movimentou me lembrando que não era um quadro para ser admirado, era alguém de carne e osso. Sua mão que segurava a sombrinha se aproximou de mim, ele se curvou um pouco para se igualar a mim.