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Jimin


Embrulhado no edredom, não consigo deixar de pensar que nunca – nunca na vida – achei que fosse ver Jungkook daquele jeito. Tão exposto, tão vulnerável, o corpo convulsionado pelas lágrimas.

Parece que a dinâmica entre nós está sempre mudando, em cada momento um de nós assume uma posição de vantagem em relação ao outro. No momento, sou eu quem está no
controle.

Mas não quero estar. Não gosto dessa dinâmica. O amor não deveria ser uma batalha. Além do mais, não confio em mim para assumir as rédeas do que acontece entre nós.

Poucas horas atrás eu tinha tudo planejado, mas agora, depois de vê-lo tão abalado, minha mente está confusa, e meus pensamentos, anuviados.

Mesmo no escuro, posso sentir os olhos de Jungkook  sobre mim. Quando enfim solto a respiração que não tinha percebido que estava segurando, ele pergunta:

— Quer que eu ligue a televisão?.

— Não. Se quiser pode ligar, mas estou bem —, respondo.

Queria ter trazido meu e-reader para a cama, para ler até dormir. Talvez participar da ruína da vida de Catherine e de Heathcliff fizesse a minha parecer mais fácil, menos traumática. Catherine passou a vida tentando conter o amor que sentia por aquele homem, até o dia em que implorou por seu perdão e admitiu que não podia viver sem ele – apenas para morrer horas depois.

Eu seria capaz de viver sem Jungkook, não?

Não vou passar a vida lutando contra isso.

Essa sensação é apenas temporária…

Não é?

Não vamos destruir nossa vida e a das pessoas ao redor por causa da nossa
teimosia, né?

A incerteza dessa analogia me incomoda, sobretudo porque significa que vou começar a comparar Trevor com Edgar. E não sei o que pensar disso. É estranho.

— Ji? —, meu Heathcliff chama, me afastando de meus pensamentos.

— O quê? —, pergunto, numa voz rouca.

— Não comi a… quer dizer, não dormi com a Yeri —, conta ele, como se moderar a boca suja pudesse tornar a
declaração menos chocante.

Fico em silêncio, em parte atordoado por ele ter tocado no assunto, em parte porque quero acreditar no que diz. Mas não posso esquecer que Jungkook é um gênio da mentira.

— Eu juro —, acrescenta ele.

Ah, bem, se ele “jura”…

— Por que falou aquilo,
então? —, pergunto secamente.

— Para magoar você. Fiquei com muita raiva quando você falou que beijou outro, então disse a coisa que sabia
que ia doer mais.

Não consigo vê-lo, mas, de alguma forma, sei que está deitado de costas, com os braços cruzados sob a cabeça, com os olhos virados para o teto.

— Você beijou outro mesmo? —, ele pergunta antes que eu possa me manifestar.

— Beijei —, admito.

Mas, quando ouço sua respiração
profunda, tento suavizar o golpe, acrescentando:
— Só uma vez.

— Por quê? — A voz dele é ao mesmo tempo fria e carregada.

É um som estranho.

— Para falar a verdade, não tenho a menor ideia… Fiquei com raiva do jeito como você estava se comportando no telefone, e tinha bebido demais. Então
dancei com um cara, e ele me beijou.

— Você dançou com ele? Dançou
como?

Reviro os olhos diante de sua necessidade de saber cada detalhe do que faço, mesmo quando não estamos
juntos.

— Você não vai querer que eu responda isso. — Suas palavras fazem o ar entre nós ficar pesado novamente.

— Quero, sim.

— Jungkook, dancei do jeito que as pessoas dançam numa balada. Então ele me beijou e tentou me convencer a ir
para a casa dele. — Vejo as pás do ventilador de teto.

Sei que, se continuarmos a falar disso, elas vão parar de funcionar, incapazes de cortar a tensão do ar.
Tento mudar de assunto.

— Obrigado pelo e-reader. Foi um
presente muito bem pensado.

— Ele tentou levar você para a casa dele? E o que você fez?

Posso ouvi-lo se mexendo, o que me diz que agora está sentado.
Permaneço deitado.

— E precisa perguntar? Você sabe
que eu nunca faria isso —, retruco.

— Bom, nunca imaginei você dançando e beijando outros caras na balada —, ele rosna.

Depois de alguns momentos de silêncio, comento:

— Acho que você não quer começar a discutir o inesperado.

Ouço o barulho da manta novamente e posso senti-lo ao meu lado. Sua voz está bem perto de mim.

— Por favor, me diz que você não foi com ele. — Jungkook está sentado na cama ao meu lado, e eu me afasto dele.

— Você sabe que não fui. Fiquei com você naquela noite.

— Preciso ouvir da sua boca. — Sua voz é dura, mas suplicante.

— Me diz que só beijou o cara uma vez e
nunca mais falou com ele.

— Só beijei uma vez e nunca mais falei com ele —, repito, só porque sei que ele precisa desesperadamente ouvir essas palavras.

Mantenho os olhos fixos na tatuagem em espiral que se insinua sob a gola cavada de sua camiseta. Estar na cama com ele me acalma e me inflama ao mesmo tempo.
Não suporto a batalha interna na qual estou preso.

— Tem mais alguma coisa que eu preciso saber? —, pergunta baixinho.

— Não —, minto.

Não conto do jantar com Trevor. Não
aconteceu nada, e isso não é da conta dele. Gosto de Trevor e quero mantê-lo a salvo da bomba-relógio que é Jungkook.

— Tem certeza?

— Jungkook… Acho que você não tem mais o direito de ficar me enchendo o saco —, digo e olho em seus olhos.

Não consigo evitar.

— Eu sei. — Ele me surpreende com a resposta.

Quando sai da cama, tento ignorar o vazio que toma conta de mim.


😍

Votem e comentem bastante, por favor!! Boa leitura.


Mais uma atualização para vocês!

AFTER - Depois da verdade  -  JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora