CAP 4 - Isis

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Eu e Zale tínhamos nos conhecido na escola quando tínhamos 4 anos, nós éramos o oposto um do outro, Zale era todo calmo e tímido, sempre na dele, enquanto eu era agitada e sempre estava conversando ou fazendo alguma coisa, ou várias coisas. Quando ele entrou na minha turma a professora me pediu para integrar ele com os outros e eu aceitei a tarefa na mesma hora, na minha cabeça de criança seria mais um amiguinho para brincar, mas ele acabou sendo muito mais que isso, principalmente quando descobrimos que nossos aniversários eram no mesmo dia.

Dia 10/10, a professora junto com a turma preparou uma surpresa pra mim, claro que eu já sabia de tudo porque meus colegas não eram muito bons em guardar segredo, mas eu realmente tive uma surpresa aquele dia, enquanto estava distribuindo o bolo e Zale falou que também era aniversário dele. Ele pediu pra eu não contar pra mais ninguém, o que definitivamente acabou com a ideia genial que eu tinha acabado de ter de gritar isso pra sala inteira, mas é óbvio que eu não ia deixar aquilo passar assim. No momento em que pisei em casa contei pros meus pais e pedi pra eles arrumarem um espacinho na minha festa pro Zale e eles toparam na hora.

Foi a primeira vez que comemoramos o aniversário juntos, logo depois ele se mudou para a casa ao lado da minha e todos os anos depois disso fazíamos uma festa dupla. A gente vivia grudado, fazíamos tudo juntos, até mesmo na hora de ganhar os miraculous estávamos juntos. A primeira transformação, a primeira batalha, o dia em que meu tio me nomeou guardiã, em todos os momentos Zale estava comigo. Ele não era só um amigo, ele era meu irmão, a pessoa que eu mais amava em todo o universo. E ainda assim eu tinha abandonado ele, mesmo com tudo isso eu tinha simplesmente ido embora por dois anos sem deixar nada além de um bilhete.

Eu corri até o final do terreno e parei numa árvore velha que tinha lá, minhas pernas bambearam e eu cai encostada na árvore, não estava respirando. Não corri porque não estava gostando do abraço, muito pelo contrário, corri porque estava me sentindo segura pela primeira vez em 2 anos e sabia que não merecia aquilo. Não, eu não merecia todo aquele amor depois do que tinha feito, eu merecia ódio, repúdio, gritos e tudo mais, não um abraço acolhedor, não carinho. Eu estava chorando muito. Parecia que ia morrer de tanto chorar. E então escutei passos vindo atrás de mim, minha única reação foi me encolher ainda mais, minha mente estava se apagando, borrada de tanta dor e culpa.

Quando Zale me alcançou eu estava tão encolhida que nem mesmo o ar poderia passar entre mim e o tronco da árvore. Ele apenas sentou do meu lado deixando seu ombro encostar no meu, ele ficou um tempo em silêncio, esperando que eu me acalmasse, o que demorou bastante para acontecer, mas acho que por conta da exaustão meu olhos pararam de produzir lágrima.

- Respira - ele disse se segurando minha mão - só respira

Ainda levei algum tempo pra conseguir me acalmar completamente, mas a tristeza continuava ali, acho que nunca me livraria dela. Então ele virou e sorriu pra mim, como sempre fazia quando me cumprimentava na escola, um sorriso animado e calmo ao mesmo tempo que sempre me fazia sorrir de volta, mas não dessa vez, eu ainda estava totalmente paralisada.

- É bom te ver - ele disse

Acho que uma facada doeria menos. Ele parecia realmente feliz em me ver e isso doía, mas o que realmente me machucava era o tanto de medo nos olhos dele, como se eu não estar ali fosse a pior coisa que pudesse acontecer. Aquilo tudo estava sendo demais pra mim, acho que eu não me importaria se acabasse morrendo sufocada em alguma das minhas crises, eu merecia aquilo, eu tinha feito algo horrível, não merecia viver.

- Sabe - Zale começou- assim que você sumiu eu entrei em pânico, achei que o monstrengo tinha te pegado. Procurei por toda a cidade mas não tinha sinal nenhum de você. E então 2 dias depois entrei no meu quarto e tinha um bilhete na minha cama falando que você tinha ido embora e que até que voltasse eu estaria liderando a equipe. O que mais me incomodou naquele bilhete foi você ter pedido pra eu não ir atrás de você, nem tentar falar com você. De início achei que o monstrengo lá tinha escrito aquilo pra me enganar, mas então vim até sua casa e seu tio disse que você tinha ido para Nova York às pressas e que estava muito estranha e machucada, mas que ninguém sabia o que tinha acontecido. Passei os últimos dois anos importunando sua mãe por notícias e tentando descobrir o que tinha acontecido, mas você nunca falou pra ninguém e não deixou nenhuma pista além de "não deixe nenhum miraculous ter portador fixo" - ele parou e olhou pra mim

Eu estava tão imóvel que poderia ser uma pedra. Em tudo o que ele disse não tinha nenhum tom de acusação ou raiva, apenas a preocupação de um irmão. Isso de alguma forma me deu coragem de falar, ainda achava que não merecia aquela compreensão toda, mas ice tinha razão, Zale merecia uma explicação.

- Ele me pegou - disse num sussurro - Eu consegui escapar 2 dias depois, mas estava tão perturbada que falar qualquer coisa era impossível. Então fugi. Fiquei internada por 3 meses depois disso. Meu corpo se recuperou, minha mente não, por isso não voltei.

Passaram vários minutos sem que nenhum de nós falasse nada, um absorvendo as palavras do outro. Finalmente minha mente estava voltando e acho que eu estava começando a entender porque ele não parecia bravo. Zale me conhecia muito bem, sabia que eu não fugiria se não fosse algo sério, e meus pais tinham mantido ele informado, provavelmente ele também já sabia de todos os problemas mentais que eu estava tendo. Saber disso me tranquilizou de certa forma, jamais me perdoaria pelo que tinha feito, mas ao menos poderia ter Zale comigo. Se eu ficasse em Paris. O pensamento foi tão rápido que não tive como contê-lo. Aquilo me incomodava desde que tinha começado a arrumar minhas malas em Nova York, mas eu não tinha me permitido pensar nisso, a simples ideia de voltar à França me assustava, se o vilão descobrisse que estava aqui podia ser o meu fim e da cidade.

- Ele sabe quem você é então? - ele perguntou mas já sabia a resposta, ou pelo menos uma parte

- Ele já sabia - falei lembrando do erro que tinha cometido em confiar em alguém além de Zale

- Como assim já sabia? - ele perguntou se virando pra mim completamente assustado o que me fez ficar calada novamente - Ísis...

Ele deu uma pausa como se tivesse sido interrompido. Sabia que ele suspeitava de alguém da equipe por causa do que eu tinha escrito no bilhete, mas para saber a minha identidade real ele sabia que não era qualquer um. Apenas os 6 membros mais antigos sabiam, eles eram nossos aliados mais confiáveis. Conseguia ver o pensamento se formando na mente de Zale, a quebra da confiança naqueles que eram nossos amigos. Não queria nem imaginar como seria quando ele descobrisse de quem exatamente estávamos falando.

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